Fotos: Mara Cornelsen
Caroline já foi admitida  e Andrea ainda é estagiária.

Uma briga de gangues na Rua Bororós, em Santa Quitéria, é a primeira informação que chega pelo rádio da viatura da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) do 12.º Batalhão da Polícia Militar, cujos policiais se preparam para mais um turno de trabalho. O tenente Lima, que comanda a unidade especial, organiza a saída das equipes – às 17h, depois de preparar todo o material necessário, inclusive o armamento pesado – e leva consigo, além de dois experientes soldados, o quarto integrante do grupo: a estagiária soldado Sugamosto. Ela é a mais recente ?aquisição? da Rotam e a quarta policial feminina a ser voluntária para a experiência pioneira na PM, que é treinar mulheres para integrar a ?linha de frente? do policiamento ostensivo.

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Aos 20 anos de idade, descendente de italianos e dona de brilhantes olhos azuis, sem a farda, Andrea Sugamosto – moradora no Cristo Rei – não passa de uma adolescente com sardas no rosto e sorriso franco. Porém, quando coloca o colete balístico, as caneleiras e empunha o revólver 38 – arma que está usando até chegar sua pistola ponto 40, já encomendada pela PM – muda o semblante e a postura. Ardilosa, aprimora sua acuidade visual e, a exemplo de seus companheiros, esquadrinha cada ponto da cidade por onde roda a viatura, em busca de marginais.

Aprovadas

Antes da soldado Sugamosto, três outras jovens – soldados Caroline Felix Barbosa, 19, Franciele Nunes, 27, e Karina Rossi Marques, 22 – já haviam aceitado o desafio de entrar para a Rotam. Submeteram-se a um estágio de 30 dias, sob a supervisão do tenente Lima, e passaram a aprender e treinar técnicas específicas de abordagem e patrulhamento. As três foram aprovadas e em breve receberão o braçal (peça de couro que fica presa no braço esquerdo) onde estará escrito Rotam. Conquista também almejada por Sugamosto.

Revista de mulher pra mulher.

A necessidade da presença feminina nas rondas ostensivas surgiu da constatação – principalmente no anel central de Curitiba – do envolvimento direto de mulheres no crime organizado, especialmente no tráfico de drogas. Guardando crack, maconha e cocaína na boca, entre os seios e nas partes íntimas, elas se livravam das revistas até então feitas só pelos policiais. Prevaleciam-se da situação e chegavam a ironizar a atuação dos PMs. Com a entrada das mulheres na Rotam, o jogo virou e hoje as traficantes e prostitutas também sofrem minuciosas revistas. Como conseqüência, a apreensão de drogas triplicou nas últimas semanas. Só Caroline (a primeira voluntária) já encontrou centenas de pedrinhas de crack em lugares inimagináveis, ao revistar as prostituas que atuam no centro. Sugamosto, em sua estréia no estágio, esta semana, participou da apreensão de 14 pedras, e fez revistas íntimas em algumas mulheres, na noite da última terça-feira, quando a Tribuna acompanhou sua estréia neste tipo de policiamento.

Necessidade

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De acordo com o tenente Lima – que recrutou as mulheres policiais com a concordância e apoio da tenente-coronel Aparecida (comandante do 12.º BPM) -, o combate às traficantes é intenso, para coibir também outros crimes. Elas vendem pedras por R$ 5,00 e R$ 10,00, para viciados que perambulam pelas ruas à noite. Estes indivíduos, muitos já abandonados pelas famílias e sem trabalho, praticam assaltos para conseguir o dinheiro (ou objetos diversos) e comprar a droga. Contendo o tráfico miúdo consegue-se também reduzir os demais crimes, asseguram os policiais.

Um dia da caça e outro…

Na rua, toda atenção é pouca.
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A briga de gangues não passava de uma confusão entre alunos que saíam de um colégio. Logo foi dispersada, sem maiores conseqüências. No entanto, era apenas o começo de uma jornada de 10 horas consecutivas de trabalho exaustivo. Além de atenderem os chamados dos dois radioscomunicadores instalados na viatura, os policiais também rodam pelo centro e outros 35 bairros que fazem parte da área de atuação do 12.º BPM. Qualquer movimento suspeito, qualquer atitude estranha é suficiente para mobilizar a equipe. Obedecendo aos rígidos treinos, os policiais saem do carro empunhando as armas, dão ordens para que os ?abordados? coloquem as mãos na cabeça e iniciam as revistas.

Na terça-feira, as soldados Sugamosto e Franciele estavam de plantão. Cada uma em uma guarnição diferente. Já aprovada no estágio, Franciele mostrou que não estava para brincadeiras. Fez dezenas de abordagens, não esquecendo sequer de examinar a boca das suspeitas, local onde normalmente escondem muitas pedras de crack. Sugamosto, sempre atenta às orientações de seus colegas e do oficial, também não fez feio. Em uma abordagem na Praça Tiradentes (reduto de traficantes e viciados) deteve duas prostitutas que foram levadas à Central de Polícia. Uma delas havia ?dispensado?, ao pé de uma árvore, dez pedras de crack. Como sempre, ambas negaram ser a dona da droga. Na Central, sofreram minuciosa revista, inclusive nas partes íntimas, mas nada foi encontrado. Uma foi liberada em seguida e a outra assinou termo circunstanciado, que a obrigará a conversar com um juiz, e também saiu, mas sem as suas ?pedras?, que estavam prontas para a venda.

Movimento não passa despercebido.

Em outra abordagem os policiais encontraram mais quatro pedras de crack, desta vez escondidas embaixo da prótese dentária do traficante. Ele jurou que eram para consumo próprio, mas também foi detido e assinou um TC, porque não deu para configurar crime de tráfico. Mas a polícia sabe que ele vende e, como num jogo de gato e rato, ele sabe que, se vacilar, na próxima pode ser apanhado em flagrante.