“Maldita” é a palavra que os moradores da Vila Trindade, no Cajuru, estão usando para descrever a manhã de ontem. Assim que o dia clareou, teve início uma verdadeira guerra entre membros de duas gangues -cerca de 23 indivíduos – e aproximadamente 40 policiais militares do 20.º Batalhão.
O confronto armado despejou mais de 500 tiros pelas ruas da vila. O resultado dos tiroteios ( foram três consecutivos em 40 minutos) foi de dois mortos, dois feridos – um por uma bala perdida -, dois detidos, três armas e munições apreendidas.
O tenente Augusto, da viatura Povo do Cajuru, contou que a unidade foi acionada pouco antes das 6h, para atender um confronto entre a Gangue de Baixo (ou pessoal do “Trechinho”) e a Gangue de Cima (turma do “Cesinha”).
Quando chegaram na Rua Amador Bueno, próximo à linha férrea, as gangues continuaram confrontando entre si, mas também começaram a atirar contra a viatura. Foi chamado reforço e houve reação policial.
Nesse confronto dois rapazes, que seriam integrantes da Gangue de Baixo, foram mortos. Com eles os policiais apreenderam uma pistola calibre 380 e um revólver calibre 38.
Um deles, Bruno Pagliasso Taborda, 24 anos, foi resgatado ainda com vida no terreno de uma casa da Rua Amador Bueno e levado, pelos próprios policiais, ao Hospital Cajuru, mas chegou morto.
Outro rapaz, identificado apenas como Guilherme, foi baleado e caiu do telhado de uma casa. Morreu em seguida também no hospital. Um exame de balística deverá ser feito para descobrir se os mortos foram atingidos por balas da polícia ou da gangue rival.
Após este primeiro confronto, os grupos rivais dispersaram. Os PMs saíram em perseguição aos membros da Gangue de Baixo, liderada pelo sujeito conhecido como “Betinho”. Ao alcançá-los, houve novo tiroteio.
Neste, Adriano Depetris, o “Bob Esponja”, 23, foi detido. Ele estava com munições ponto 45, algumas intactas e outras deflagradas. Adriano já tem antecedentes criminais por dois homicídios e porte ilegal de arma.
3.º round
Na seqüência, a Polícia Militar localizou membros da “Gangue de Cima”, quando então aconteceu o terceiro tiroteio e houve a prisão de Alexei Laurindo Marafião, 25, apanhado com um revólver calibre 38. Ele já tem antecedentes criminais por homicídio, porte ilegal de arma e roubo.
No tiroteio, Robson Rodrigo Ribeiro foi atingido por uma bala perdida, quando descia de um ônibus. Foi ferido no braço e no peito e levado ao Hospital Evangélico, em estado grave. O caso dele foi registrado pela Delegacia de Homicídios.
Após 40 minutos de confronto, moradores assustados e curiosos foram para as ruas, e até ajudaram policiais a recolher capsulas deflagradas de armas de calibre ponto 45 e de fuzil 762. Acredita-se que foram disparados mais de 500 tiros.
Família desmente confronto
Familiares de Adriano Depetris, preso no meio da “guerra” entre gangues e PMs, negaram que ele estivesse num confronto com policiais. Segundo Gilda, irmã do detido, Adriano havia saído com Bruno e suas respectivas companheiras e foram presos quando chegaram em casa, por volta das 6h.
Na versão da família, todos conversavam dentro da casa quando marginais da Gangue de Cima invadiram o local, procurando por Bruno e por um indivíduo apelidado de “Caveirinha”.
Adriano se assustou com a invasão, pegou o revólver que era de Bruno e atirou para cima. Gritou para que os marginais fossem embora, para não machucarem as três crianças que estavam na casa. Mesmo assim os marginais atiraram, mas acabaram fugindo.
Logo em seguida, segundo versão apresentada por Gilda, policiais militares também entraram na casa atirando. Mataram Bruno, que foi arrastado já morto por uma escadaria, e atingiram uma mulher de raspão na barriga, que tentava defender o filho pequeno.
Foi nesse momento que Adriano foi preso com as munições. Segundo Gilda, ele levou choques dos policiais, até que assumisse a posse das armas que os policiais recolheram no meio da fuzilaria.
Um Inquérito Policial Militar (IPM) deverá ser aberto para apurar o caso e possíveis excessos dos policiais. A Polícia Civil também instaurou procedimento para investigações através Centro Integrado de Atendimento ao Cidadão (Ciac-Sul)
Disputa por tráfico e prostituição
Segundo o tenente Augusto, do 20.º Batalhão, Bruno e Guilherme, mortos no tiroteio, moravam no Pilarzinho mas eram integrantes da Gangue de Baixo, no Cajuru. Eles estariam ajudando os comparsas nos vários confrontos que têm ocorrido na Trindade e arredores.
A “guerra” seria para definir quem deve controlar o território, o tráfico de drogas, a prostituição e os roubos de veículos no bairro. De quinta-feira para cá, este seria o sétimo tiroteio.
O primeiro deles, levantou a polícia, aconteceu às 10h de quinta-feira, que resultou numa jovem baleada de raspão. No dia seguinte ocorreram outras quatro fuzilarias, às 7h, às 10h30, às 16h e às 18h15.
No sábado, novo tiroteio às 17h. Ontem aconteceu um confronto só, mas foi o mais intenso de todos, por sua duração, quantidade de disparos e presença de policiais militares.
Em Araucária, outra briga e tiroteio
Patricia Cavallari
A briga entre grupos rivais resultou em confusão e morte em frente a uma danceteria no município de Araucária. Na madrugada de sábado, Fábio Henrique Concha foi morto com um tiro. O autor foi preso horas depois.
De acordo com o delegado Rubens Recalcatti, os dois grupos se encontraram na fila de entrada e começaram a brigar. Fábio tomou a arma de um dos inimigos e atirou, sem acertar ninguém. O dono do revólver o tomou e atirou contra Fábio. Ele chegou a ser levado ao Posto de Saúde de Araucária, mas morreu a caminho do socorro.
Horas depois, quatro suspeitos foram detidos e levados à delegacia. Em princípio eles negaram envolvimento na confusão, mas depois um deles, também chamado Fábio, confessou ter atirado no rapaz. Ele foi autuado em flagrante e seus comparsas indiciados e liberados.
Quando o dia já amanhecia outro jovem foi encontrado baleado, em uma rua próxima à danceteria. A polícia acredita que poderia ser conseqüência da mesma confusão a vítima, que está internada, disse que foi baleada durante tentativa de assalto.