Os últimos três meses vêm sendo críticos para os moradores do Cristo Rei, que já não conseguem mais contabilizar o número de assaltos à mão armada e arrombamentos ocorridos na região. Segundo os moradores "todo o terror é obra de uma só gangue, reconhecida por todas as vítimas". O bando é formado por garotos com não mais de 17 anos, vestidos com roupas de "skatistas", toucas e bonés, e que chegam de bicicleta (com rodas pequenas) iguais às usadas para a prática do bicicross. As armas usadas nas investidas contra as vítimas, um revólver calibre 38 e outro 32, também foram reconhecidas. Os integrantes da gangue têm o hábito de humilhar e espancar vítimas.
Seja durante o dia ou à noite, o "modus operandi" dos jovens marginais é o mesmo: sempre em grupo dois rapazes de cor branca e outros dois de cor negra, de bicicleta, intimam as vítimas.
Um fica na porta do estabelecimento enquanto o restante entra e vai recolhendo o que lhes interessa. Um deles aponta a arma ao funcionário do caixa e pede todo o dinheiro. Os comerciantes do Cristo Rei afirmam que o problema persiste durante a noite com arrombamentos e assaltos a pedestres na rua. As vítimas nas ruas, são em sua maioria, estudantes voltando da aula.
O moradores apontam como área crítica as quadras iniciais da Rua Atílio Bório. "Do viaduto do Capanema até o Parque Ambiental, e do trilho do trem até a Rua Ubaldino do Amaral é onde ocorrem o maior número de casos. Não sei porque motivo eles estão vindo para cá. O grupo assalta e foge em direção à Vila Pinto e os roubos não demoram mais do que um ou dois minutos", diz Valfredo Borini, o "Val", 48 anos, dono de uma lanchonete assaltada uma vez e arrombada outras duas.
Abaixo-assinado
Cansados e com medo de tanta violência, moradores locais se reuniram e fizeram um abaixo-assinado pedindo maior presença da polícia para inibir os bandidos. Borini coletou 600 assinaturas e encaminhou o documento, junto com diversos boletins de ocorrências feitos por donos de estabelecimentos da região, ao chefe da Casa Civil, Caíto Quintana e ao deputado estadual Reni Pereira, que entregaria o ofício ao secretário de segurança, Luiz Fernando Delazari.
A Tribuna entrou em contato com a Polícia Militar, para conseguir dados estatísticos e provar o crescimento dos delitos na região, porém a assessoria de comunicação da PM informou que, há aproximadamente três meses, já não estão sendo cedidos dados deste tipo, para que a divulgação dos mesmos não atrapalhem futuras operações policiais.
Comerciantes sofrem com surras e ameaças
Um restaurante na Rua Atílio Bório foi assaltado às 23h30 de um sábado, há poucas semanas. Um dos garçons contou que o bando (sete garotos no total) mandou os motoboys deitarem no chão, agredindo-os com pontapés. Todos os funcionários apanharam, um cozinheiro foi ameaçado com uma faca no pescoço e outros com armas na cabeça. "Sou mais vigia que garçom. Quando começa a escurecer, os funcionários já vão me pedindo para eu ficar na porta, observando o movimento. Estamos sempre tensos", diz o funcionário. O restaurante foi revirado durante 10 minutos, de onde os ladrões levaram todo o dinheiro do movimento da noite. Outro funcionário conta que o bando ainda teve a audácia de escolher os cheques que levariam, pelo valor e pelos nomes dos clientes.
Esse é apenas um dos casos de terror por qual passaram alguns comerciantes, como os proprietários de uma padaria, que foi cinco vezes assaltada à mão armada. Na revistaria ao lado da lanchonete do "Val", dois assaltos e dois arrombamentos também ocorreram. Uma loja de roupas, quase ao lado da revistaria, por três vezes alvo dos bandidos, também não suportou os roubos e fechou. A dona do estabelecimento contou aos amigos comerciantes locais que todos os dias de manhã, ao acordar, sentia tremedeira em todo o corpo, com medo de ir trabalhar. "Eles xingam, são agressivos, e se você reage, morre", diz Gustavo Heimbecher, 19 anos, dono da revistaria, que já adotou até um cachorro segurança em frente à loja, treinado para não gostar de bicicletas.
Ronda acaba em ?pizza? nas ruas do bairro
"Antigamente, até nem precisávamos tanto de polícia, era mais calmo. Porém tenho comércio aqui há 15 anos e nunca vi nada igual como esses últimos três meses, muito violentos. O pior é que a polícia só vem aqui para "ganhar? o jantar do dia na pizzaria e vai embora. Eles vêm umas duas vezes por semana, e só entram na rua da pizzaria", disse Borini, dono de uma lanchonete. A reportagem da Tribuna ficou por duas horas na região conversando com os comerciantes e não viu nenhuma viatura passar pelas ruas ao redor, exceto quando na hora de ir embora, quando flagrou o fato relatado pelo comerciante, de que "tudo acaba em pizza".
A viatura número 5164, do Regimento de Polícia Montada, parou em frente à pizzaria e um dos policiais adentrou o estabelecimento, pedindo uma pizza à moda da casa, que segundo as palavras do próprio policial ao garçom, "agradaria ao gosto de todos". A reportagem questionou o soldado Kindermann sobre a ação das gangues, e teve como resposta "que está tudo tranqüilo na região, e que a polícia não foi informada de nenhum grupo de assaltantes". "Não tem nenhuma gangue pela região, o pessoal fala demais", insistiu o policial, mesmo após ter ouvido o relato sobre o bando de marginais. "Como assim eles não sabem de nada? Somos assaltados, chamamos a polícia e todos os comerciantes descrevem o mesmo grupo, em todos os casos, que não são poucos. Se isso é não ser informada sobre o problema, teremos que informá-los de que maneira então?", espanta-se Borini.
Após saborear a pizza dentro do próprio restaurante, os policiais voltaram à viatura saíram do local e não retornaram. "Apesar de tudo, nos sentimos um pouco mais seguros enquanto eles estão aqui saboreando a pizza. Pena que eles vem só umas duas vezes por semana", lamentou um funcionário.