O Departamento de Assuntos Internos da Corregedoria da Polícia Civil investiga o furto de um caminhão-caçamba avaliado em R$ 90 mil, que pode se transformar em mais um escândalo envolvendo policiais da instituição.
O Mercedes-Benz placa ABZ-3421 foi levado de uma obra, na tarde de 11 de abril, no Contorno Sul, por quatro homens que ocupavam um Gol branco, modelo antigo, sem a placa dianteira e com a porta do motorista sem pintura.
Um homem apresentando-se como oficial de justiça da 1.ª Vara da Fazenda Pública, acompanhado por outros três que se diziam policiais da Delegacia de Furtos e Roubos (usando coletes da Polícia Civil e armados), intimidaram o vigilante da obra e saíram com o veículo. Deixaram uma ordem de busca e apreensão falsificada e um cartão de visitas do investigador Delcio Rasera, que está lotado na DFR.
A trama está sendo atribuída ao policial Eyrimar Fabiano Bortot, há 11 anos na instituição, e dono do Gol branco usado pela falsa equipe da DFR. Eyrimar, que está em férias e deve retornar ao trabalho no próximo dia 20, contratou o advogado Antônio Pelizzetti para defendê-lo, e negou qualquer envolvimento no furto, assegurando que naquele dia “emprestou seu carro para outros policiais”. No entanto, ele foi reconhecido pelo vigilante da obra, como sendo o indivíduo que se apresentou como oficial de justiça e saiu dirigindo o caminhão.
Audiência
O Mercedes-Benz não tinha sido recuperado até ontem à noite. Também os outros três indivíduos que estavam acompanhando o falso oficial de justiça, e que podem ser efetivamente policiais civis, ainda não foram identificados, nem são investigados pela DFR.
Hoje à tarde, a vítima e o vigilante serão ouvidos no Departamento de Assuntos Internos e deverão observar algumas fotos de suspeitos que serão apresentadas pelo delegado Marcelo Lemos de Oliveira, para auxiliar nas investigações.
Também Rasera – que recentemente esteve envolvido num caso de escutas telefônicas, que lhe fizeram amargar meses de prisão, e está em liberdade provisória será interrogado. Ele, porém, já apresentou relatório do caso aos seus superiores, mostrando que seu nome foi utilizado indevidamente, e que não foi reconhecido pelo vigilante.
Sindicato
Há suspeita que o furto tenha ligações com uma trama política pela disputa do comando do Sindicato das Classes Policiais Civil (Sinclapol), que em breve deve eleger nova diretoria. Eyrimar seria tesoureiro da chapa adversária e acreditava que Rasera, que goza de grande conceito na classe, estaria dando apoio à chapa da situação.
Rasera não se manifesta sobre o caso do caminhão, dizendo que a investigação é de responsabilidade da Corregedoria, mas afirma que não tem nenhuma pretensão política e não faz parte de qualquer chapa do sindicato.
Bate-boca na delegacia
Como a única pista era o Gol branco usado pelos malandros, as equipes da especializada passaram a procurar o carro. Três dias depois o encontraram, sendo conduzido pelo policial Eyrimar. Convidado a comparecer na DFR, ele atendeu ao chamado e para sua surpresa, encontrou o vigilante da obra na sala do delegado.
O vigilante imediatamente o reconheceu como sendo o falso oficial de justiça que o interpelara, inclusive descrevendo roupas que ele usava naquela data. Ele não reconheceu Rasera.
Dias antes, Eyrimar e outros colegas haviam encontrado Rasera no setor de abastecimento de viaturas, na Travessa da Lapa, e após um breve bate-papo, Rasera entregou a cada um deles seu cartão de visitas.
Na delegacia, exigiu que Eyrimar lhe apresentasse o cartão que havia recebido, e este não o possuía mais. Os dois por pouco não trocaram sopapos. A briga foi contida por outros policiais.