Funerária vira palco de brigas e duplo homicídio

Um desentendimento comercial e o fim de relacionamento amoroso resultou na morte de duas pessoas e ferimentos graves em outra, às 8h40 de ontem, em Araucária. O ambiente do crime foi a Funerária Nossa Senhora das Graças, que fica Rua Coronel João Antônio Xavier. A proprietária da funerária, Silza Adriana Cogo, 35 anos, foi assassinada com um tiro no olho. O ex-marido de sua sócia e seu ex-amante, Ivan Fernandes Dias, 40 anos, foi morto com tiros na cabeça.

O segurança de Adriana, o ex-policial militar Dalberto Luiz da Silva, foi ferido com dois tiros, que atingiram as costas e a mão. Gravemente ferido, Dalberto foi conduzido ao Hospital Niss III, em Araucária. Devido a gravidade dos ferimentos foi encaminhado ao Hospital do Trabalhador, em Curitiba.

O delegado Jairo Amódio Estorílio informou que, na quinta-feira, Adriana esteve na delegacia para registrar uma ocorrência de ameaça contra Ivan. Adriana era proprietária de 70% da funerária e 30% pertenciam à mulher de Ivan. “Ela registrou a ocorrência e foi feito um Termo Circunstanciado”, contou o delegado. “Ela alegou que ele teria lhe forçado a assinar o recibo de um carro”, informou.

Na noite de sexta-feira, Ivan esteve na funerária e ameaçou Adriana novamente e avisou: “Não vai ficar assim.” Logo depois, ele deixou o local e telefonou para a filha dele e pediu para que queimasse as roupas de Adriana. Temendo a reação de Ivan, Adriana pediu para que o segurança passasse a noite com ela na funerária.

Tiroteio

O segurança de Adriana foi ouvido ontem no Hospital do Trabalhador pelo delegado Jairo Estorílio. Ele contou que, quando abriu a porta da funerária, às 8h30, Ivan apontou a pistola para sua cabeça e pediu para que ele erguesse a camisa. Em seguida, ordenou que Dalberto se dirigisse para os fundos da funerária.

Ouvindo a voz de Ivan, Adriana se trancou no banheiro. Enlouquecido, Ivan gritava: “Saia daí, senão vou matar ele.” Adriana acabou saindo do banheiro, momento em que levou um soco no rosto e caiu no chão da cozinha. Ivan xingou e chutou a empresária e falou: “Você não acreditou em mim. Vou matar você e depois vou me matar.” Em seguida, Ivan apontou a arma para Dalberto, que tirou as mãos da cabeça e tentou se defender. O disparo acertou a mão esquerda do segurança, que também caiu no chão.

Segundos depois, Dalberto ouviu um disparo e viu Ivan fechando a porta da cozinha. Se arrastando no chão, ele apanhou o celular e tentou avisar a polícia, mas não conseguiu. Ele tentou ir até o quarto se arrastando, para tentar comunicar à polícia, quando viu Ivan revirando as gavetas do escritório da funerária.

Dalberto apanhou a pistola de Adriana que estava guardada e tentou sair do local, mas Ivan percebeu e atirou novamente. O segurança tentou correr e foi atingido nas costas, caindo no chão novamente. Tentando se esconder entre os caixões, Dalberto atirou contra Ivan, que revidou. Ivan saiu para fora da funerária e os dois trocaram tiros. Todo o local ficou marcado pelo sangue.

Quando Ivan parou de atirar, Dalberto olhou para fora e não viu o desafeto. Acreditando que ele havia ido embora, tentou ligar para a polícia novamente, mas devido ao ferimento na mão não conseguiu. Ele deixou o local foi até uma banca de jornais nas proximidades e pediu para que o jornaleiro chamasse a Polícia Militar. Dalberto entregou a arma que utilizou e foi conduzido ao hospital local pelos próprios policiais.

O delegado Estorílio disse que a história relatada pelo ex-PM é compatível com o local do crime. Mesmo assim autuou Dalberto em flagrante por homicídio dentro do Hospital do Trabalhador. “Ele foi expulso da Polícia Militar e tem antecedentes por roubo. Por isso achei melhor autuá-lo”, explicou o delegado. Ele disse que aguarda o laudo do Instituto de Criminalística para prosseguir com os trabalhos. “O Dalberto foi transferido no ontem para o Hospital Cajuru, onde irá se submeter a cirurgia para a retirada das balas”, revelou o policial.

Bilhete aponta desequilíbrio

No bolso de Ivan, a polícia encontrou um bilhete confuso, marcando o horário de 2h46. O bilhete dizia: “Araucária, 2h46 de 26/04/03. Tudo o que eu fiz se resume apenas no caso profissional. Ninguém da minha família tem haver com isso, o problema é o serviço funerário de Curitiba, que obriga os familiares das pessoas falecidas a pegar a funerária da vez. Com isso, na Região Metropolitana estamos sem trabalhar. Eu só quero que todos trabalhem em paz sem a Prefeitura de Curitiba interferir nas funerárias. Adeus, Ivan.”

A polícia acredita que ao escrever o bilhete, Ivan estava enlouquecido, já que aparentemente não tinha nada a ver com o crime. Amigos de Adriana, que preferem não se identificar, informaram que na sexta-feira, ela vendeu a funerária e o contrato foi feito por um advogado de Curitiba. O delegado Jairo Estorílio confirmou a história. “Ela era ameaçada pelo Ivan, com quem se relacionou durante cinco anos. Ultimamente, ela não queria mais nada com ele e começou a receber ameaças. O Ivan dizia que iria estuprar a filha de Adriana e barbarizar com seus outros filhos. Também ameaçava a Adriana de morte”, contou. Ele disse ainda que Adriana tinha muito medo de Ivan, assim como a mulher dele. “As duas eram amigas e morriam de medo do Ivan, que era um machão de cozinha. Ele respondia vários termos circunstanciados por bater em mulher”, completou. “A Adriana era uma pessoa boa e queria se mudar para se livrar do Ivan”, contou um amigo da mulher.

Adriana era freqüentadora assídua do Instituto Médico-Legal de Curitiba, já que era proprietária de funerária e também costumava auxiliar famílias de vítimas de acidentes de trânsito no recebimento do seguro obrigatório para vítima de acidentes de trânsito (Dpvat). Muitas vezes, ela esteve acompanhada de Ivan, o qual apresentava como seu marido. Há alguns meses, passou a comparecer junto com outro rapaz, que falava ser seu namorado. (VB)

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