Funcionário espancado por internos levou 156 pontos

Os 156 pontos na cabeça, rosto e braços, somados às fraturas generalizadas no educador Ilton Adão de Araujo, 61 anos, contestam a versão apresentada pela coordenação do Centro de Socioeducação São Francisco (antigo Educandário), em Piraquara, de que o conflito na tarde de terça-feira foi apenas um momento de crise.

Ilton contou que a confusão foi planejada pelos adolescentes, mas sem nenhum propósito ou reivindicação.

?Estava fechando a porta da cozinha quando me pegaram de surpresa, na traição?, contou o educador, com a voz fraca por conta dos ferimentos.

Conforme relatou, nos mais de 35 anos que trabalhou na instituição, passou por várias rebeliões, mas nunca tinha sido nada tão grave.

?Só na cabeça, levei 50 pontos. Tomei socos e pontapés, além disso, tive as duas mãos fraturadas e vários pontos no rosto e nos braços.?

O educador disse que não pensa em voltar para a entidade. ?Depois de uma vida dedicada para esse tipo de serviço e passar pelo que eu passei, acho que não vale a pena. Vou me aposentar.?

Problemas

Foto: Divulgação

Internos destroem instalações e deixam marcas da violência.

Logo depois do conflito, o coordenador da área de socioeducação, Roberto Peixoto, contou que o tumulto havia começado por volta de 15h, no pátio da entidade, envolvendo um grupo de 21 adolescentes.

Ele enfatizou que, em poucos minutos, com a chegada da Polícia Militar, tudo ficou resolvido e não havia destruição de patrimônio e que os três educadores estariam com ferimentos leves.

No entanto, na tarde de ontem, uma comitiva de educadores, revoltados com as agressões sofridas pelos colegas, se reuniu em frente ao Hospital Angelina Caron – onde Ilton está internado – e contaram que o problema vai além de uma ?situação de crise?.

?São dois problemas principais: O primeiro é a falta de educadores. Tem dias que cada educador fica responsável por 20 internos, isso coloca os profissionais em risco. O outro é a falta de regras mais rígidas para os adolescentes?, contou o educador Ricardo Muller.

Dirceu de Paula Soares, educador há 14 anos na entidade, contou que já foi agredido e, quando voltou, foi alvo de chacotas dos agressores. Para ele, é fundamental que o Estado faça novo concurso para contratação de funcionários. ?Só do último, nove pediram exoneração?, contou.

Sacos de urina e fezes

Foto: Átila Alberti

Mário: tragédia anunciada.

As reivindicações dos educadores são para prevenir uma tragédia. Segundo e-mail enviado por um educador para o Sindsec, os garotos amotinados na terça-feira por pouco não invadiram a área administrativa, e, o que foi tumulto, poderia ser repetição da chacina de 2004, quando sete adolescentes foram assassinados e seis ficaram feridos.

Em outro caso, registrado em novembro de 2006, um adolescente foi morto e diversos educadores ficaram feridos.

O presidente do sindicato disse que situações de menor intensidade acontecem com freqüência. ?Os educadores são humilhados e já aconteceram casos de adolescentes que jogaram sacos com urina e fezes?, relatou Mário Cesar Monteiro.

No e-mail, o funcionário conta que, na semana passada, diversas reuniões foram feitas pelo diretor da casa, Nilson Domingos, com o principal objetivo de acalmar os servidores e pedir para que agüentassem firmes por mais 30 dias, prazo previsto para a chegada de novos educadores.

Outro servidor, também por e-mail, comentou que, se a situação dos adolescentes não é das melhores, a dos servidores é muito pior, pois além de salários defasados, correm constante risco de morte.

Reclamações antigas

O presidente do Sindicato dos Servidores da Secretaria da Criança e da Juventude (Sindsec), Mário Cesar Monteiro, disse que as reivindicações são feitas há bastante tempo mas, segundo ele, só serão tomadas quando algo de mais grave acontecer. ?As agressões são freqüentes, nem sempre esses fatos chegam ao conhecimento público?, contou.

O sindicalista, além de confirmar que são necessários mais educadores e também mudanças disciplinares na instituição, acrescenta que os profissionais são submetidos a situações de risco diariamente.

?É inadmissível que os internos estejam em atividades, todos ao mesmo tempo, sem o quadro de educadores completo. Entendemos que temos que garantir o direito às atividades, mas a segurança tanto dos educadores quanto dos adolescentes é prioridade?, completou.

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