Oito dias após a “batalha” do Centro Cívico, o coronel César Kogut pediu na noite desta quinta-feira (8) exoneração do comando da Polícia Militar do Paraná (PM). Ele alegou ao governador Beto Richa (PSDB) “dificuldades insuperáveis” no relacionamento com a direção da Secretaria da Segurança Pública. Horas depois, em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, Kogut voltou a responsabilizar diretamente o secretário da Segurança, Fernando Francichini, pela ação policial contra os professores e servidores estaduais, que deixou 213 feridos.

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Segundo o ex-comandante, o planejamento e o tamanho da operação, que contou com 1,6 mil policiais, foram determinados por Francischini e pelo subcomandante-geral da PM, coronel Nerino Mariano de Brito. “O secretário conhecia e participou de tudo”, disse Kogut. Em entrevista coletiva na segunda-feira (4), Francischini havia responsabilizado a PM pela operação, alegando que a secretaria é encarregada apenas pela parte administrativa do setor de segurança. Na quarta-feira (6), Kogut e outros 15 coronéis da PM enviaram carta ao governador em que repudiaram as declarações de Francischini. O secretário reagiu e disse que havia sido mal interpretado.

Coordenação

De acordo com Kogut, a coordenação operacional da PM é legalmente do secretário da Segurança. Por consequência, a responsabilidade pela ação não pode ser somente dos policiais militares. “A responsabilidade pelos atos, certos ou errados, é em conjunto entre a PM e quem esteve na execução do planejamento. Legalmente, a coordenação operacional pertence à Sesp [Secretaria Estadual da Segurança Pública]”, disse o ex-comandante.

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Kogut, que deve ir para a reserva da PM, defendeu a tropa ao reafirmar que os policiais não provocaram o confronto com os professores e servidores, pois os manifestantes avançaram primeiro. A PM, disse ele, reagiu depois que os bloqueios para proteger a Assembleia Legislativa foram furados.

Sobre os disparos de balas de borracha, o coronel revelou, pela primeira vez, o nome dos homens que deram as ordens. “Teve ordem dos comandantes operacionais – que eram, no momento, Nerino e Arildo [coronel Arildo Luís Dias, que foi o comandante da operação no dia 29]”. Kogut ainda afirmou que apenas o Ministério Público e a PM, que abriu um inquérito militar, poderão dizer se houve excessos da corporação.

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Apesar de deixar o comando da PM, Kogut disse que não se sente abandonado pelo governador Beto Richa e nem que perdeu uma queda de braço com Francischini. “Não estou saindo pelos atos lá da Assembleia. Estou saindo porque acho realmente que não tem como eu me relacionar com o secretário.” O coronel afirmou que em momento algum se sentiu desamparado pelo governo. “Não fui abandonado pelo governo. Foi uma decisão em conversa entre eu e o governador. O governador está abalado.”

Na avaliação de Kogut, Francischini terá muitas dificuldades de relacionamento com a corporação em razão do que disse durante a entrevista coletiva. “Hoje a PM inteira tem uma visão. Os coronéis tomaram uma posição em nome da corporação”, disse, se referindo à carta de repúdio enviada a Richa. O manifesto foi assinado por 16 dos 19 coronéis da ativa da PM. “Saio de bem com o efetivo. A PM está bem unida e continua trabalhando.” Kogut disse também que acredita que a relação entre professores e policiais será restabelecida em breve.

Kogut ressaltou ainda que o subcomandante Nerino Mariano de Brito foi exonerado antes de ele deixar o comando da PM. Portanto, quem assume o comando-geral automaticamente é o chefe do Estado-Maior, coronel Carlos Alberto Bührer Moreira e não Nerino. O novo comandante também é o responsável pelo inquérito policial mili,tar que apura os abusos cometidos pela PM na manifestação de 29 de abril.

No Palácio Iguaçu, a saída de Kogut é vista como “o começo do processo de reestruturação da segurança”. Especula-se que Francischini também não permanecerá no cargo. Mas no governo ninguém confirma oficialmente a possível saída do secretário. Na quarta-feira, Francischini chegou a ser dado como demitido, mas depois de uma reunião com o governador teria sido confirmado no cargo. As cartas assinadas pelos coronéis, divulgadas logo a seguir, no mesmo dia, contudo, teriam tornado ainda mais difícil a permanência do secretário.

Outro lado

A reportagem procurou à noite a assessoria de imprensa da Sesp para que Francischini se manifestasse sobre as declarações de Kogut. Mas a secretaria informou que, devido ao horário, não seria possível dar um retorno. A Gazeta do Povo não conseguiu localizar os coronéis Arildo e Nerino.