Força Alfa são os “rambos” da fronteira

A fronteira está silenciosa. Como num jogo de xadrez, o adversário aguarda os movimentos da polícia, para saber em que peça mexerá no próximo lance. Há duas semanas a Força Alfa, uma nova unidade especial da Polícia Militar, criada para combater o tráfico de entorpecentes no Oeste do Estado, especialmente nas fronteiras com Paraguai e Argentina, e na divisa com o Mato Grosso do Sul, tomou conta da região. Num primeiro momento, exibiu seu potencial ofensivo por terra, água e ar, inibindo o inimigo.

O fardamento diferenciado, lembrando os combatentes de selva, o armamento pesado, as viaturas novas, helicópteros, barcos e até um aviãozinho não tripulado (o sistema Vant) que pode fotografar a placa de um carro a milhares de metros de distância, foram as peças espalhadas no tabuleiro desenhado em solo paranaense.

A idéia é estrangular ali a entrada de drogas, como se se fechasse uma torneira. A expectativa é de que com apreensões consecutivas de maconha, cocaína ou qualquer outro produto irregular – como armas por exemplo – e com prisões de traficantes, a atrativa rota do tráfico em que se transformou o Paraná, seja destruída.

O tráfico é como uma empresa: precisa dar lucro. Se os chefes do crime organizado sofrerem prejuízos significativos, buscarão outros meios para comercializar o produto, longe da zona de perigo.

Na esteira deste combate, supõe-se que serão reduzidos os índices de homicídios, roubos e latrocínios em todo o Estado, com reflexos em Curitiba e região metropolitana, onde o comércio de drogas é constante e apontado como o principal responsável pela maioria dos casos de mortes violentas.

Em conjunto

Policiais trabalham duas semanas e descansam uma.

Mas não basta só a tropa da Polícia Militar para dar conta do recado. A Polícia Federal, que é a verdadeira dona do pedaço (tem responsabilidade sobre a fronteira), a Polícia Rodoviária Federal e a Estadual, a Polícia Civil e a Receita Federal, também colocaram suas peças em campo. Organizados e informados (alimentados pelo serviço de inteligência da Força Samurai), o grupo todo consegue se deslocar rapidamente, por terra, água e ar, e ter uma atuação pontual.

Se localizado algum suspeito, a ação é imediata. A tropa está diuturnamente em prontidão e é de caráter permanente. Tão cedo não sairá de lá, para alegria dos municípios lindeiros, cujos moradores já estão se acostumando com a presença daqueles “rambos” que podem surgir de repente, do meio do mato ou saltando de um helicóptero.

Primeiros resultados

Unidade foi criada para agir em lagos e em região de mata.

Desde que a Força Alfa aportou na fronteira, o tráfico recuou e não aconteceu nenhuma apreensão significativa de drogas. Mas outros crimes foram esclarecidos, como a prisão de cinco contrabandistas ocorrida em Altônia, no domingo passado.

Com eles foram apreendidas 1.027 caixas de cigarros, outras 12 de CDs e DVDs, e ainda um caminhão que tinha sido roubado em São Paulo. No mais, aconteceram quase mil abordagens de pessoas, vistorias em 291 carros e nove embarcações, e a módica apreensão de 22 pedras de crack, em 23 operações conjuntas dos órgãos envolvidos. Para a polícia, é sinal de que os traficantes estão temporariamente acuados, esperando para ver como deverão agir daqui pra frente

Seleção rigorosa e trabalho árduo

Os integrantes da For&ccedil,;a Alfa foram selecionados de um grupo de 400 policiais que voluntariamente se inscreveram para o curso na Academia Policial Militar do Guatupê (APMG).

Apenas 80 chegaram ao final e puderam envergar o novo fardamento. Dos resistentes, só três são mulheres. O comando de todos está a cargo do major Roberto Sampaio de Araújo, ou só Sampaio, como é conhecido.

Com experiência de quem já comandou o grupo de Operações Especiais (o COE) e também já passou longo tempo na Companhia de Choque, o exigente oficial não descuida de nada.

“Esta tropa não relaxa”, assegura. Os policiais trabalham duas semanas na fronteira e ficam uma semana, de folga, em suas casas. Só permanecerão na Força por, no máximo dois anos. E, a cada seis meses, 25% da tropa será substituída.

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