A adolescente de 15 anos, única sobrevivente da família que morreu envenenada com arsênico, em Campinas (SP), no final de janeiro, foi localizada ontem, em um hotel de Cascavel (Oeste do Estado). Ela embarcou no vôo das 16h45 para Campinas, e foi encaminhada ao Juizado da Infância e da Juventude. O pai da adolescente, o médico Hudson da Costa Carvalho, 46 anos, a mãe Thelma Migueis de Carvalho, 43, e a irmã Laila Carvalho, 17, foram as vítimas fatais do envenenamento.

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A garota havia fugido da casa da avó no dia 22 de fevereiro, levando uma mochila, jóias e R$ 600,00. A adolescente foi encontrada em Cascavel por representantes do Ministério Público de Campinas, que a embarcaram em um vôo da Trip, juntamente com membros do Conselho Tutelar, sem ao menos comunicar a delegacia ou a Vara de Infância e Juventude de Cascavel, fato que causou estranheza às autoridades locais.

Antes de fugir, a jovem deixou um vídeo gravado, afirmando que não tinha envolvimento algum com a morte dos pais e da irmã. "Amo todos os meus familiares. Vou me encontrar com minha mãe e minha irmã. E nem interessa o tanto de tempo que demore, mas enquanto eu estiver aqui na terra, eu não quero mais sofrer, não. Não quero mais ninguém gritando comigo. Muito menos vocês achando que eu matei minha mãe e minha irmã", dizia, referindo-se à avó e a um tio.

Sigilo

O delegado Claudio Alvarenga, que conduzia as investigações, foi afastado do caso na semana passada, por vazar informações para a imprensa. O inquérito corre sob segredo de Justiça. Ele chegou a dizer que as atitudes da garota tinham sido "muito estranhas" e apontava a adolescente como suspeita do crime, ao lado do pai. Logo depois da fuga, o delegado disse ainda que a atitude despertava "ainda mais suspeitas" sobre a menina. Um laudo do toxicologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ronan José Vieira, mostrou que ainda há arsênico no organismo da adolescente. Segundo ele, isso pode causar paralisia nos membros superiores e inferiores.

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A adolescente foi transformada em suspeita pela polícia depois que foi achado no quarto dela um diário, no qual ela pedia desculpa aos pais por ser uma "pessoa ruim". O delegado informou ainda que ela telefonou ao restaurante onde a família tinha almoçado no dia, num shopping, para reclamar que a comida tinha feito mal a todos. Em princípio, o principal suspeito de ter envenenado a família era o pai dela, uma vez que foi ele quem serviu um doce para a mulher e as filhas e, depois disso, todos passaram mal. Segundo a polícia, ele também tinha retirado um vidro de arsênico de sua farmácia de manipulação no fim do ano passado. O produto foi dado baixa como estando fora do prazo de validade.

O médico também teria impedido a mulher, Thelma Migueis Carvalho, de chamar socorro quando começaram a passar mal, pouco depois das 21h30m. Só no início da madrugada eles foram levados para o hospital, praticamente inconscientes. Foi a adolescente que sobreviveu que preparou o doce, mas nele não foi detectado a presença de arsênico. As taças usadas foram lavadas.

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No entanto, só depois de encontrado o diário a menina passou a ser suspeita, com o agravante de ela ter tido um desentendimento com a família e fugido de casa em outubro do ano passado, refugiando-se na casa de um tio, no Rio de Janeiro. Depois disso, ela passou 20 dias de castigo sem sair do quarto, onde era até mesmo alimentada pelos pais.

A Polícia Civil de Campinas também estava investigando denúncias de que o pai teria abusado sexualmente da adolescente por três anos.