“Não estou foragido. Estou escondido para não ser morto”. Mário Fogassa, apontado pela denúncia do Ministério Público como líder da quadrilha de roubo de cargas em Campo do Tenente, falou com a reportagem da Tribuna, ontem, por telefone. Ele está fora do Paraná e negou os boatos de que estaria negociando sua rendição. Também rechaçou todas as demais acusações, afirmando que está sendo vítima de uma armação por parte de dois desafetos – Fernandes da Cruz e Oraci Matos de Arruda. Os dois são autores da maior parte das denúncias que embasam a ação criminal no Fórum de Rio Negro contra Fogassa e outras vinte pessoas que tiveram as prisões decretadas sexta-feira passada.

Fogassa, 47 anos, disse que estava na Amazônia, onde tem um garimpo – “tudo legalizado” – até quarta-feira da semana passada. “Quinta, cheguei em Curitiba e procurei meu advogado. Era para eu ir depor no caso das jaquetas roubadas em Campo do Tenente”, relatou. Ele admite ter comprado uma carga de jaquetas, mas nega que seriam roubadas. “Comprei sem nota fiscal por quarenta mil e revendi por oitenta mil”.

Sexta-feira, dia em que a força-tarefa saiu à procura dos 21 denunciados para executar os mandados de prisão, Fogassa teria recebido um telefonema de Campo do Tenente. “Me avisaram que estavam prendendo a família da minha namorada (Cláucia Hubner). Saí do meu apartamento no Bigorrilho, atravessei a Padre Anchieta e vi a polícia. Eles me viram e me deixaram passar. Não me prenderam porque sabiam que eu ia abrir o bico.”

Armação

Sobre a carreta com carga roubada, encontrada em março deste ano na chácara da Estrada dos Buritis, em Campo do Tenente, Fogassa disparou: “Essa carga foi ‘plantada’ na minha área. Colocaram lá de madrugada e de manhã a doutora Margareth chegou e fez a apreensão. E essa chácara não é minha. Eu tenho lá só um alqueire arrendado, onde montei um haras”.

Fogassa negou ter tido qualquer encontro ou contato com o secretário da Segurança, José Tavares. “Só falei com o delegado-geral (Leonyl Ribeiro). Fui pedir pra ele colocar um delegado especial para investigar essa história toda de Campo do Tenente porque percebi que tinha armação. No mesmo dia em que acharam a tal carga, mataram o vereador, que eu nem conhecia. Também não tenho nada a ver com o delegado nem com a polícia de lá”.

Ele também negou ter pago propina para Margareth Motta ou para o delegado Armando Marques Garcia. “O dr. Armando eu nem conheci. Fui depor na delegacia de Roubo de Cargas uma vez, com a Margareth e com o Hélcio. Ela me ameaçou, queria que eu falasse coisas sobre a carga roubada, que eu não posso dizer”.

Fogassa disse também que a pessoa citada na denúncia como sendo um bandido que usava colete da Polícia Federal não é ele, e sim Fernandes da Cruz. “Esse cara é um criminoso, responde inquéritos, está em condicional. E é nele que a PIC se baseia para me denunciar?”, questionou.

Ele admitiu ser o dono da chácara no Cantagalo, em Rio Branco do Sul (onde a PM apreendeu documentos na noite de terça-feira). Disse que não ia a esta chácara desde 31 de dezembro passado. “Os documentos que pegaram lá são de uma empresa de pneus que eu tinha há muitos anos. A PIC que mostre esses papéis para a imprensa, não tem nada lá para me incriminar”.

Com a voz abalada, Fogassa finalizou a entrevista dizendo que a ex-esposa, de quem está separado há nove anos, e um filho dele, de 20 anos, estão sofrendo ameaças. “Invadiram o apartamento dela, ameaçaram meu filho. Se eu aparecer vão acabar comigo.”

O coordenador da Promotoria de Investigação Criminal (PIC), promotor Ramatís Fávero, informou ontem que advogados de Fogassa entraram em contato para negociar a rendição dele. Parentes de Fogassa teriam pedido ao corregedor-geral da Polícia Civil, Adauto Abreu de Oliveira, garantia de vida para que ele se entregasse.

continua após a publicidade

continua após a publicidade