O fazendeiro Gilberto Andrade, acusado de usar um ferro em brasa de marcar gado para torturar um trabalhador rural que atuava como cozinheiro em sua propriedade, em Paragominas, no sudeste do Pará, foi denunciado à Justiça Federal pela Procuradoria da República em Belém. Ele deve responder pelos crimes de tortura, redução à condição análoga à de escravo, desrespeito aos direitos trabalhistas e aliciamento de trabalhadores.
De acordo com a denúncia, a vítima C.G.S., hoje sob proteção de um programa federal para pessoas ameaçadas de morte, começou a trabalhar na fazenda Bom Sucesso em setembro do ano passado. O salário prometido ao cozinheiro era de R$ 380, sem registro em carteira, mas ele acabou recebendo apenas R$ 140 por mês. Ao reclamar do atraso no pagamento e da falta de alimentos na cozinha, o fazendeiro mandou que seus administradores, Fernando da Silva Teles e Antônio Alves do Carmo, segurassem C.G.S. pelos braços e, com o ferro em brasa, Andrade marcou os braços, o rosto e a barriga do trabalhador.
O procurador Igor Nery Figueiredo, responsável pela denúncia, disse à reportagem que a ação do fazendeiro "evidencia a prática de alguns dos mais abjetos crimes previstos no sistema penal". Tortura e redução à condição análoga à de escravo, ocorridos em um mesmo contexto e patrocinados pelas mesmas pessoas, segundo Figueiredo, revelam "profundo desapego dos denunciados aos valores eleitos como prioritários pela humanidade".
O torturador não foi encontrado nem no Pará nem no Maranhão, onde possui propriedades, para comentar a denúncia do Ministério Público Federal.
