Foto: Chuniti Kawamura/O Estado

Ruas cheias e comércio fechado em Fazenda Rio Grande. Moradores pedem fim da violência.

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Ruas cheias e comércio fechado em Fazenda Rio Grande. Moradores pedem fim da violência. Os pedidos da população de Fazenda Rio Grande para a criação de um batalhão policial e aumento de efetivo e de viaturas na cidade, depois do assassinato do motorista de ônibus Ricardo Germano Hopaloski, terão que esperar.

Em reunião ontem com o comandante do 17.º Batalhão de Polícia Militar, Marcos Scheremetta, o secretário estadual de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, prometeu estudar as medidas. Por enquanto, foram reforçadas as operações policiais na cidade e reativado o serviço de inteligência e investigação.

A população de Fazenda Rio Grande exige do governo do Estado mais segurança depois da morte do motorista, assassinado no início da manhã da última quarta-feira, durante um assalto ao veículo em que trabalhava. O governo do Estado anunciou que pretende contratar mais policiais, porém ainda não se sabe quando.

A cidade tem uma população estimada de 115 mil habitantes e 26 policiais atuam de modo fixo, o que corresponde a um policial para 4.423 habitantes. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o recomendável seria um policial para cada 250 habitantes. Para atender a recomendação, a cidade teria que ter mais de 460 policiais, ou seja, cerca de 17 vezes mais que o atual efetivo. O comandante reconheceu que a defasagem existe, mas ressaltou que o problema se originou há mais de 12 anos.

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Por enquanto, Scheremetta reforçou as operações policiais na cidade e conseguiu o apoio de outros grupamentos, como da Rondas Ostensivas de Natureza Especial (Rone) e Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam). Além disso, o serviço de inteligência foi reativado. Policiais à paisana investigam pessoas ligadas ao crime e vão dedicar uma atenção especial ao transporte coletivo. Segundo Scheremetta, cinco pessoas foram presas antes mesmo do assassinato do motorista. O serviço telefônico de atendimento à população também está sendo melhorado. ?Entendemos a preocupação da população, mas é importante lembrarmos que a polícia tem agido com muito rigor no município. Infelizmente, um motorista acabou perdendo a vida durante este assalto, mas não podemos dizer que isso aconteceu por um descaso da polícia. Estamos trabalhando incessantemente e é desta forma que iremos continuar?, disse o comandante.

O prefeito de Fazenda Rio Grande, Antônio Wandscheer, afirmou que a população foi incitada a fechar a BR-116 por adversários do governo. Segundo ele, o movimento foi um ato político, pois o município tem vivido um clima de mais segurança nos últimos meses. ?Se pegarmos os dados estatísticos do passado e os atuais podemos ver o quanto o município de Fazenda Rio Grande está mais seguro, mas o grande problema é que este ato legítimo acabou sofrendo com a influência de inimigos deste governo?, declarou Wandscheer.

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Mas a população discorda do prefeito. A moradora Maria do Carmo informou que hoje haverá outra manifestação. Ela está organizando uma passeata pacífica, saindo do Cemitério Municipal até a Prefeitura, levando um caixão. ?Ou a gente reage agora ou deixa a cidade virar um caos, como o Rio de Janeiro e São Paulo?, disse. Maria conta que perdeu um sobrinho em 2004. Ele era gerente de uma fábrica na Cidade Industrial de Curitiba, foi seqüestrado e assassinado. ?O crime até hoje não foi esclarecido. Os policiais dizem que falta estrutura?, comenta.

Preso

Por enquanto, a polícia tem um suspeito do assassinato: Carlos Henrique Vieira Rocha, de 37 anos, preso na tarde de quarta-feira. Segundo o cobrador do ônibus e testemunhas, Carlos usava roupas das mesmas cores do assassino. Ele é usuário de drogas e estaria sob o efeito de entorpecentes no momento do assalto. O assaltante estava encapuzado.

Revolta no enterro do motorista

Joyce Carvalho

Muitas pessoas compareceram ao velório do motorista. Alguns usavam fitas pretas nos braços para simbolizar o luto e o sentimento ainda era de muita revolta. ?O povo está revoltado porque a gente não agüenta mais. O meu marido dirigia o ônibus que vinha atrás daquele que foi assaltado. Poderia ter acontecido com o meu marido. Foi uma questão de dez minutos. Pode acontecer com qualquer um?, afirma Rosirene Souza, esposa de um motorista do transporte coletivo de Fazenda Rio Grande.

O irmão da vítima, Júlio Hopaloski, espera agora que a morte do motorista possa servir para melhorar alguma coisa no município. ?Espero que a morte do meu irmão não passe em branco. Não dá para trazer a vida dele de volta. Então, queremos que, pelo menos, as autoridades façam alguma coisa. Todo mundo aqui está correndo risco?, comentou. Júlio relatou que o irmão sempre falava sobre as possibilidades de assaltos. Mas a vítima acreditava que, se não reagisse, nada de mal aconteceria.

De acordo com Júlio, o motorista era uma pessoa muito querida por todos. Hopaloski se mudou para Fazenda Rio Grande há 18 anos e alcançou boas realizações. ?Ele chegou aqui com uma mão na frente e outra atrás. Mas conseguiu melhorar a casa, o carro. Como não tinha filhos, ele e a esposa estavam pensando em adotar uma criança?, contou.

Após o velório, o transporte do corpo da vítima ao Cemitério Municipal de Fazenda Rio Grande se transformou em um enorme cortejo. Eles pararam em frente da Prefeitura, da Delegacia de Polícia, da Câmara de Vereadores e da empresa onde o motorista trabalhava. Passaram também pelo terminal que ficou fechado entre 11h e 12h10 para que todos pudessem acompanhar o funeral. Em todas as paradas, pediram Justiça e mais segurança para o município. Como gesto de solidariedade, o comércio fechou as portas.

O cortejo durou cerca de uma hora e, quando o caixão foi retirado do carro funerário, em frente ao cemitério, os presentes fizeram uma salva de palmas. O enterro, marcado para às 11h, aconteceu somente perto das 13h. Por causa da morte de Hopaloski, a população de Fazenda Rio Grande fechou a BR-116 na manhã da última quarta-feira. A rodovia ficou bloqueada por cerca de sete horas.