A expectativa de vida de um jovem que mora na favela do Parolin é de apenas 21 anos. O assombroso dado é do Centro Cultural Humaitá e da unidade de saúde local. O bairro foi palco, na tarde do último domingo, da morte do garotinho Elvis Henrique Iriguti, de 12 anos. Vítima de um tiro no coração, ele morreu quando ía à farmácia, a pedido da mãe, comprar remédio para o pai. Ontem, o clima de revolta marcou o velório e enterro do menino.
Dezenas de alunos da 5.ª série do Colégio Estadual Doracy Cezarino faltaram a aula para dar seu último adeus ao amigo. Enquanto isso, a polícia apurava os apelidos de sete suspeitos de envolvimento no tiroteio que resultou na morte do estudante, por uma bala perdida.
Oração
Muito religiosa, a família do garoto tem medo de falar da violência no bairro e coloca nas mãos de Deus o pedido de justiça. Eles contaram que, no dia em que foi morto, a mãe dele havia pedido para que fosse à farmácia. Elvis não queria ir e disse que o faria mais tarde. No entanto, por ser muito obediente, acatou à insistência da mãe e seguiu ao estabelecimento, a três quadras de sua casa, com o dinheiro e a receita nas mãos.
Ele ainda não havia chegado em seu destino quando, na Rua Brigadeiro Franco, próximo de onde ocorria, ironicamente, uma festa em prol da paz no Parolin, Elvis viu-se no meio de um tiroteio. O estudante estava acompanhado por um amiguinho, que fugiu para o lado oposto, gritando para Elvis fazer o mesmo.
O garoto tentou voltar para casa, mas acabou baleado. Cambaleando, com o tiro que lhe atingiu o peito, tombou sem vida na Rua Professor Porthos Velozo, por volta das 13h20 de domingo.
O amigo que acompanhava Elvis contou à família tudo o que viu. No entanto, não soube descrever quem eram as pessoas envolvidas no tiroteio.
O menino não foi à aula ontem nem ao enterro do estudante, e passou todo o dia chorando.
O delegado Artem Dach, da Delegacia de Homicídios, investiga a possibilidade de que o tráfico de drogas na região tenha alguma coisa a ver com a tragédia. Um dos tios de Elvis teria envolvimento com drogas, fato que está sendo apurado.
Insegurança
Apesar da onda de violência e mortes na comunidade, que resulta em uma ou duas mortes por semana, as autoridades ainda não tomaram a iniciativa de tentar melhorar o bairro. Algumas grandes operaçães de combate à criminalidade já foram feitas, como uma que ocorreu em maio de 2005, quando 700 policiais fizeram uma ?varredura?, durante cinco dias, pela região.
Mas nenhuma ação até hoje foi de caráter definitivo, o que encoraja os bandidos. A violência chega ao absurdo de colocar crianças na rua com armas em punho, a exemplo dos garotos que atiraram em Elvis. Segundo testemunhas, os atiradores tinham aparentemente a mesma idade do estudante.