Foto: Alberto Melnechuky/Tribuna |
Mãe de Letícia foi várias continua após a publicidade |
Revolta e muita tristeza marcaram o velório da recém-nascida Letícia, que faleceu às 21h40 de domingo. Ela foi velada na Igreja do Evangelho Quadrangular, na Rua José Ezio Salazar, no Jardim Carmen, em São José dos Pinhais, a algumas quadras de onde moram seus pais.
A certidão de óbito registrada na segunda-feira pelo cartório do município indica que a mãe da criança, uma adolescente de 16 anos, estaria com a bolsa rompida há mais de 24 horas e que o bebê apresentou quadro de asfixia grave e infecção neonatal.
A família afirma que houve negligência médica.
Segundo Adir de Andrade, 20, pai do bebê, o parto estava marcado para quarta-feira passada. Na quinta-feira, pela manhã, ele levou a sua mulher ao hospital, onde exames foram realizadas e a gestante foi mandada para casa, com a instrução de que deveria aguardar mais um pouco. Porém, na sexta-feira, novamente ela passou mal, com suspeita de ter rompido a bolsa. Adir levou sua esposa, às pressas, para a casa de saúde. ?Outra vez os médicos disseram que ainda não era a hora e que ela tinha que ir para casa?, contou.
No domingo de madrugada, ela não suportou as dores, e foi levada mais uma vez ao Hospital. ?Ela deu entrada às 6h. Ficou o dia todo em observação. A gente perguntava e eles só respondiam que ela estava esperando a hora do parto.
Só depois que eu fui saber que ela ficou no corredor, esperando?, contou Adir, revoltado.
Por volta de 20h, a gestante deu entrada na sala de cirurgia. De acordo com a mãe da adolescente, Elisabete da Silva Souza, ela ficou todo o dia esperando notícias da filha. ?Na hora que ela entrou na sala de cirurgia, uma enfermeira me chamou para eu assistir ao parto da minha filha?, contou Elisabete.
Ela disse, ainda, que, em determinado momento, a médica pediu que ela ajudasse a equipe.
Depois de concluído o parto, os médicos chamaram a avó novamente, juntamente com Adir e contaram que a menina estava morta.
?Eles disseram que minha mulher tinha infecção no útero. A gente fez pré-natal no posto de saúde, tudo certinho, todos os exames diziam que minha filha estava bem. Não consigo me conformar com isso.
Quero justiça?, completou o pai.
De acordo com o atestado de óbito, assinado pela médica Lisane Beatriz Giacomosse, Letícia morreu com uma hora e 40 minutos de vida.
Médicos investigam caso
Clewerson Bregenski
A diretoria do Hospital Municipal de São José dos Pinhais falou, ontem pela manhã, sobre a morte de Letícia do Nascimento Andrade. De acordo com a diretora técnica Olga Rita Ferreira Franco, foi determinada análise profunda de todo o procedimento adotado pela equipe médica que acompanhou a gestante durante a última semana.
O histórico da paciente, desde a realização dos exames pré-natal até o pós-parto será averiguado pelo chefe de ginecologia e obstetrícia do hospital, Roberto Fusco, e sua equipe. ?Esclarecer toda essa questão é de interesse da família, da comunidade, do próprio hospital e também da Secretaria Municipal da Saúde?, explicou Olga. De acordo com ela, os familiares da criança já foram comunicados sobre o procedimento de investigação que será adotado. Quanto às idas e vindas da paciente ao hospital, a diretora disse tratar-se de procedimento rotineiro no fim da gestação.
De acordo com Roberto Fusco, a mãe da criança recebeu alta na manhã de ontem e está clinicamente bem, apesar de a morte do bebê comprometer psicologicamente a paciente. Por isso, ela foi liberada a ir para casa e orientada a voltar ao hospital para acompanhamento. ?Também foi orientada com prescrição de antibióticos e foi para casa com medicação?, explicou Fusco.
O Hospital Municipal de São José dos Pinhais é o principal centro médico voltado a gestantes. Por mês, em média, são realizados no hospital 220 partos.
Quarto estava pronto pra receber Letícia
Letícia do Nascimento de Andrade nasceu com mais de quatro quilos. No pequeno caixão, a menina estava vestida com algumas das roupas que a mãe e as avós haviam preparado para esperar a criança no dia seguinte. ?A gente é pobre, mas o quartinho dela estava pronto, o berço, as roupinhas e até as fraldas. Não sei como vai ser depois que minha mulher sair do hospital?, contou Adir.
O corpo de letícia foi enterrado no Cemitério de Contenda, em São José dos Pinhais, às 10h de ontem.