Após ficar dois meses sem receber a verba governamental, a proprietária do Restaurante Sabor de Casa tomou uma atitude drástica. Célia Regina Carvalho parou de fornecer comida para os 79 presos da delegacia de Pinhais, como fazia desde fevereiro deste ano. Agora, são os familiares dos presos que estão tendo que arcar com as despesas de alimentação, levando comida até a delegacia. Os detentos que não têm família contentam-se com a compaixão dos demais, ou ficam com fome. Segundo a comerciante, a situação de todos os fornecedores de comida e de combustível para as delegacias é semelhante. “A escolha foi difícil, mas domingo parei de fornecer. Não tenho condições de arcar com as despesas”, argumentou a comerciante.
Célia salientou que devido aos prejuízos causados pela falta de pagamento, corre o risco de ser despejada, ter que fechar as portas de seu restaurante e ainda ter que demitir seus três funcionários. “Bom seria se toda a propaganda de transparência e casa em ordem, amplamente divulgadas pelo governo do Paraná, fosse verdadeira”, disse. Célia contou que a dívida do governo é de R$ 7 mil. Apesar de pequeno, o valor atrapalhou todas as suas contas. “Meu restaurante é pequeno. Eu investi em compra de comida, pagamento de funcionários, aluguel, água, luz, gás, fornecedores. Não posso ter este prejuízo. Sempre paguei as contas em dia, ou melhor, pagava. O governo está quebrando o meu comércio”, salientou a mulher, que repassa duas marmitas diárias para os presos a um valor de R$ 0,80 cada. “Sabe quanto está custando um pacote de arroz?”, indaga. Célia disse que há dois meses tenta receber o dinheiro. “Venho escutando desculpas e falsas promessas de que irão depositar nossos provimentos na quinta-feira. De semana em semana fechamos 60 dias de atraso no pagamento”, denunciou.
A comerciante enfatizou que entrou em contato diretamente com a Secretaria de Fazenda, antes de suspender a alimentação dos presos. “A informação que recebemos é que todo o interior do Estado está na mesma situação e não obtivemos qualquer previsão de pagamento”, revelou. Célia lembrou que o governo do Estado prometeu incentivar a pequena empresa. “Eles não estão cumprindo. Eu tenho que pagar impostos e se eu atrasar me cobram juros. Eles não pagam nem o valor normal, que dirá os juros”, denuncia.
Verba sai hoje
A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Fazenda, informou que deverá liberar hoje R$ 1,2 milhão para o pagamento do Fundo Rotativo, que é repassado para as delegacias da Região Metropolitana e do interior do Estado, para quitar dívidas com alimentação de presos recolhidos em delegacias. De acordo com a assessoria, o critério para a prioridade de pagamentos é estipulado pelos delegados.
Gasolina pode ser cortada
A proprietária de um posto de gasolina em Colombo, que prefere não se identificar, relatou que o fundo rotativo, que paga as despesas das delegacias também está atrasado há dois meses. Ela disse que entrou em contato com a Secretaria da Fazenda, que prometeu quitar a dívida hoje à noite. “Se não pagar vou cortar o fornecimento”, prometeu. Se isto ocorrer, a polícia – que já não tem policiais para atender as ocorrências e cuidar de presos -, poderá ficar sem combustível para abastecer as viaturas.