Autor confesso de pelo menos 30 crimes de violência sexual e morte contra crianças de vários estados brasileiros, José Airton Pontes está novamente atrás das grades. O maníaco foi preso no começo do mês passado, depois de assassinar Renato Renan Poronizack, 6 anos, no município de Marmeleiro, interior do Estado. A partir de sua prisão, policiais do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride) desvendaram outro crime. Trazido a Curitiba, José levou os investigadores até Almirante Tamandaré, local onde estuprou e depois assassinou Jéssica Morais de Oliveira, 8, desaparecida desde o dia 3 de junho da Cidade Industrial de Curitiba (CIC).
O último crime cometido pelo maníaco aconteceu dia 29 de outubro, quando ele violentou e assassinou Renato. O corpo do garoto foi encontrado por agricultores dois dias depois do seu desaparecimento, em um matagal, próximo a uma plantação de pinus. A vítima estava deitada de bruços, usando o uniforme escolar – exatamente como seu pai o havia descrito no dia 29, quando o viu pela última vez. Segundo exames do Instituto Médico Legal (IML) o menino sofreu abuso sexual e depois foi estrangulado. O crime chocou a cidade e a polícia deu início a uma busca desenfreada ao maníaco.
Depois de percorrer 800 quilômetros, deixando algumas pistas, José foi finalmente capturado pela polícia na periferia do município de Pinhalzinho, próximo a Chapecó, Santa Catarina. O criminoso, que se diz missionário evangélico, conseguindo desta forma dinheiro e lugar para dormir, forneceu nome falso para enganar os policiais, uma vez que conta com vários antecedentes criminais por estupro e atentado violento ao pudor. Devido à gravidade do caso e para evitar um linchamento -moradores da região falavam em matá-lo, tamanha a revolta que sentiram -, José foi removido para Curitiba e entregue ao Sicride.
Jéssica
O fato de o maníaco ter sido visto em Marmeleiro com uma bicicleta cargueira chamou a atenção dos investigadores de Curitiba, que imediatamente o associaram ao sumiço da garotinha Jéssica, vista pela última vez acompanhada de um homem que estava com uma bicicleta do mesmo modelo. Interrogado, o maníaco logo "abriu o jogo" e confessou ter assassinado a menina da mesma forma como matou Renato.
Na última quarta-feira José, para comprovar a autoria do crime, levou os investigadores até Almirante Tamandaré e apontou o local em que assassinou a garotinha. Lá os policiais encontraram os restos mortais da pequena vítima, entre eles parte da arcada dentária e tufos de cabelos, bem como as roupas, o material escolar e a mochila de Jéssica.
Na quinta-feira, um garoto amigo de Jéssica, que viu quando ela foi levada por José, o reconheceu na delegacia, sem sombra de dúvida. Os pais dela, Lúcia Morais Siqueira, 38, e Lourival José de Oliveira, 48, reconheceram os pertences da filha e coletaram exames para o teste de DNA – para oficializar a identidade do corpo. O Sicride ainda mantém em sigilo o caso, uma vez que José pode ser o responsável pelo desaparecimento de outras crianças no Paraná. O homem confessou que fez vítimas em diversos estados brasileiros, percorrendo-os sempre de bicicleta.
Trinta anos de brutalidade
A vida pregressa do maníaco José Airton Pontes, natural de Caçador (SC), chocou até mesmo a polícia. Ao ser preso ele confessou que tem vários antecedentes criminais e que entrou no mundo do crime usando drogas e praticando pequenos furtos, ainda na adolescência. Porém, são os crimes hediondos, que José confessa que vem cometendo desde 1975, que evidenciam sua periculosidade e deixam a polícia preocupada com o número de vítimas que ele possa ter feito.
Em 1975, José Airton foi preso pela primeira vez, em Curitiba, depois de cometer um atentado violento ao pudor e um estupro em Lages (SC). Ficou preso até 1985. Ganhou a liberdade e nos dois anos seguintes – conforme confessa – violentou pelo menos 12 meninos no estado catarinense. Todas as crianças costumavam tomar banho em um rio, escondidas dos pais, e por medo não contavam a eles as violências sofridas. Em 1988 foi outra vez preso, desta vez em Lages, novamente acusado de estupro. Cumpriu parte da pena e conseguiu fugir em 1990.
Dois anos mais tarde, em 92, foi preso em São Paulo (SP), depois de violentar uma menina e deixá-la gravemente ferida. A vítima sobreviveu e o denunciou à polícia. José ficou recolhido até 2004, quando saiu em liberdade condicional e não retornou mais para trás das grades.
Monstro
Nos anos em que esteve solto, José revela que passou pelos estados de Mato Grosso, Rio de Janeiro, Bahia, Rondônia, Pará e Goiânia, onde garante ter violentado outras crianças, na maioria meninos – sua preferência. Sem residência fixa e sem trabalhar, ele usava do artifício de se dizer missionário evangélico para conseguir dinheiro e pouso por onde passava, percorrendo o Brasil de bicicleta.
Os policiais do Sicride estão fazendo um levantamento das crianças desaparecidas no Paraná, para descobrir quais podem ter sido vítimas de José. Estima-se que mais de 30 crianças passaram pelas mãos do maníaco.
Em meio a miséria, dor insuportável…
As esperanças dos pais de Jéssica Morais de Oliveira, 8 anos, de que poderiam encontrá-la com vida, acabaram na última quarta-feira, quando o Sicride informou que os restos do corpo da menina foram achados. Mãe de outros cinco filhos, Lúcia Morais Siqueira está inconformada com a brutalidade e garante que não pretende ficar cara a cara com o assassino. "Se eu ver ele vou ter vontade de fazer o que ele fez com minha filha", desabafou.
Estudiosa, Jéssica estava na 2.ª série do ensino fundamental. Segundo a mãe, a menina sempre costumava sair de casa para brincar pela manhã, levando sua mochila com cadernos e lápis. "Ela adorava desenhar e pintar. Sabia escrever várias palavras e era a filha mais estudiosa". No dia 3 de junho, a rotina da menina não foi diferente. Ela saiu de sua casa, na Rua Schirlei, Vila Barigüi, CIC, e deveria voltar para almoçar e depois ir para a escola. Por volta das 10h, a mãe preocupou-se com a demora da filha, mas era tarde demais. Desde então a garota não foi mais vista. A polícia foi acionada e, durante as investigações, um amiguinho de Jéssica contou que a viu com um homem que estava com uma bicicleta cargueira. Em seguida, ele forneceu as características do suspeito para a confecção do retrato falado. Com a prisão de José, que confessou ter ido andando e conversando com a criança até o local do crime, o menino o reconheceu, assim como os pais reconheceram o estojo escolar, a mochila e as roupas da filha. Veio, então, a certeza de que Jéssica estava morta.
O pai dela, que mora em Fazenda Rio Grande, pretende enterrar as partes do corpo que foram encontradas, mas a mãe não aceita a idéia. "Pra que sofrer mais? Ver um caixão lacrado e não poder fazer nada", diz ela.
Segundo Lúcia, Jéssica era muito inteligente e carinhosa, porém, ingênua. A mãe garante que sempre a alertou para não conversar com estranhos nem aceitar nada de quem não conhecesse.
Desempregada, Lúcia faz "bicos" como empregada doméstica e garante o sustento dos filhos de 6, 10, 12, 15 e 20 anos, com R$ 95,00 que recebe da bolsa família. A filha mais velha vive em uma cadeira de rodas, vítima de uma doença que degenerou sua coordenação motora. "Apesar de ter tido seis filhos, um é diferente do outro e a sensação que tenho é que tiraram um pedaço de mim", finalizou a mulher.
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