Mais uma pessoa morreu no Jardim Holandês, em Piraquara. Desta vez foi o ex-presidiário Marcos André dos Santos, 24 anos. Ele foi assassinado com um golpe de facão na nuca e teve o rosto desfigurado com uma cortadeira durante a madrugada de sábado. Depois que mataram o rapaz, os criminosos atearam fogo em sua casa, em uma rua sem nome, que margeia o canal extravasor do Rio Iraí. Depois, os assassinos saíram gritando: “Vai morrer mais gente”. Em seguida, assaltaram um homem na rua ao lado. De lá foram para a Rodovia do Encanamento e praticaram outro roubo, deixando a vítima nua. Os marginais são integrantes da “gangue do terror”, responsável por vários assassinatos. Três integrantes da gangue já foram identificados pela polícia e seus apelidos são “Psico”, “Titi” e “Donizete”.
O superintendente Costa, da delegacia de Piraquara, informou que os três foram detidos há 20 dias sob a acusação de espancar até a morte, um rapaz chamado Fábio, durante uma festa de aniversário. Na ocasião os marginais levaram a jaqueta e o celular da vítima. Policiais da delegacia de Piraquara detiveram o trio, o levou para a delegacia e solicitaram a prisão à Justiça, que negou o pedido. “Poderíamos ter evitado essas quatro mortes se pelos menos estes integrantes da gangue do terror estivessem presos”, lamentou o superintendente Costa.
Silêncio
No local poucas pessoas concordaram em dar informações à polícia e para a imprensa. As que se propuseram, contaram o mínimo e preferiram não falar nem o primeiro nome. Isso porque no Jardim Holandês, como em outras áreas de invasão, onde a marginalidade é quem dita as regras, predomina a lei do silêncio. É uma forma de proteção das famílias, que preferem ficar caladas do que mais tarde sofrer represálias. “Eu não sei de nada”, falou uma mulher. “Se eu falar, hoje mesmo eles queimam a minha casa também.” Outro morador, mais ousado, olhou para os lados e disse: “Tem uma gangue. Matam todo mundo, roubam e a gente tem que ficar quieto. Também não adianta muito contar para a polícia, se a própria polícia tem medo deles, prendem e soltam e o terror volta”, disse o homem. “Quando a gente denuncia tem que mudar daqui. O jeito é viver presa dentro de casa e não andar na rua durante a noite. Aqui ninguém, vê, ouve ou fala. Senão morre. É uma terra sem lei”, justificou uma mulher.
Às 1h30 de quarta-feira, a “gangue do terror” assassinou Marcos Ferreira de Carvalho, 20 anos, e Luiz Aurélio Cavalheiro, 21. Os corpos foram encontrados a uma distância de cem metros um do outro. No início da noite de quinta-feira, o pedreiro Ariel Lourenço, 29 anos, mais conhecido como “Gordo”, foi morto com três tiros à queima-roupa. Os três crimes ocorreram na Rua Betonex, a principal do Jardim Holandês.
Fogo
Os poucos moradores que se arriscaram a dar algum tipo de informação contaram que os criminosos, que seriam cinco, foram à casa de Marcos André e o chamaram, no início da madrugada. Ele saiu, com a tampa de uma panela de pressão nas mãos. No portão discutiu com os seus assassinos e levou o primeiro golpe na nuca, caindo sobre a cerca de sua casa, para dentro do quintal. Em seguida, os assassinos deram vários golpes em seu rosto usando uma cortadeira. Quando o rapaz já estava morto, os quadrilheiros atearam fogo em sua casa. Eles deixaram o local gritando para quem quisesse ouvir: “Vai morrer mais gente”.
Populares telefonaram para a Polícia Militar e para o Corpo de Bombeiros, que não estiveram no local. “Só ouvi o barulho da sirene dos Bombeiros lá em cima, mas não chegaram até aqui. Queimou tudo e o fogo apagou sozinho”, disse uma moradora. Outro morador disse que a viatura da Polícia Militar nem apareceu. “Acho que eles também têm medo como nós e só vêm aqui durante o dia”, comentou. Minutos depois, os criminosos assaltaram duas pessoas.
O corpo só foi encontrado por volta das 6h da madrugada, quando um morador telefonou para uma rádio avisando. Policiais do módulo do Jardim Holandês, só estiveram no local uma hora depois e acionaram a Polícia Civil, o Instituto de Criminalística e o Instituto Médico Legal, que recolheu o cadáver.
Passagens
Marcos já cumpriu pena por tráfico de drogas e também era viciado. De acordo com a polícia, ele seria o autor do assassinato de um rapaz conhecido como “Batata”, que foi morto quase em frente a casa de Marcos. Depois o cadáver foi colocado em um carrinho de mão e jogado dentro do canal extravassor, a cerca de quinhentos metros do local do crime. “A verdade é que tanto ele quanto o Batata faziam parte da gangue do terror. O motivo do crime é desacerto entre eles.