Ex-funcionário de empresa de segurança abre o jogo

Espancamentos, cárcere privado e tortura são comuns nas empresas de segurança, segundo um vigilante, de 27 anos, que pediu demissão da empresa onde trabalhava, por não concordar com a orientação que recebia. A decisão de largar o emprego foi tomada depois da ocorrência atendida em uma empresa no Caiuá, CIC. Lá, ele e seus colegas encontraram oito pessoas fumando crack.

De posse de armas e algemas, os vigilantes dominaram os usuários de drogas. Em seguida, ligaram para o dono da empresa de segurança, que foi até o local. Armado, ele mesmo deu coronhada na cabeça dos detidos e ordenou que todos fossem levados para a sede da empresa. ?Lá, mandamos que eles tirassem as roupas e os algemamos. Depois, demos coronhada na cabeça deles, chutes, socos, tapa no rosto. Batíamos pra valer?, relatou o rapaz.

Ordem

O rapaz disse que presenciou outras agressões. ?A ordem era pegar as pessoas que encontrássemos na rua, usando crack ou invadindo locais onde fazíamos segurança e levar para dentro da empresa, onde teríamos que dar uma lição nelas, para que não voltassem mais?, disse.

Segundo ele, os moradores viam as abordagens e as agressões. ?As pessoas de bem também não gostavam de ver aquele pessoal usar droga nas proximidades de suas casas. Por isso, se calavam. Não tinham interesse em denunciar?, relatou.

Após prestar serviços durante três meses, por um salário mensal de R$ 490,00, o rapaz começou a ter pesadelos. ?Pensei que aquele trabalho não era para mim. Até pensei em denunciar, mas ninguém iria acreditar em mim, ou não iam dar importância?.

Ele contou que só resolveu denunciar após vir à tona o caso do estudante Bruno Strobel Coelho Santos, executado na madrugada de 3 de outubro, por vigilantes da Centronic,depois de ser torturado nas dependências da empresa. ?Nunca matei ninguém, mas cansei de levar o pessoal para a empresa, torturar, tirar a roupa e depois mandar embora só de cueca. Acho que não nos denunciavam para a polícia porque também tinham medo. Iam falar o quê? Que estavam usando drogas ou furtando. Por isso foram torturados??, concluiu.

Poder paralelo

Apesar da legislação permitir que qualquer cidadão possa efetuar prisão em flagrante, punir é dever do Estado, depois de observados alguns direitos do cidadão, como ampla defesa e devido processo legal. Segundo a Constituição, todos têm direito de ser ouvidos e apresentar suas versões para fatos considerados crimes pela legislação.

O texto constitucional diz: ?ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante?. Porém, isso não está sendo observado. Com a ação das empresas de seguranças noticiadas recentemente, o que se vê é o crescimento de uma ?polícia paralela?, que ignora a lei, dando-se o direito até de penalizar com a morte, o que é proibido em nosso país.

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