O ex-BBB Laércio de Moura, de 53 anos, foi preso na manhã desta segunda-feira (16) em casa, no Rebouças, em Curitiba, por crime de estupro de vulnerável (qualquer relação sexual, com consentimento ou não, com menores de 14 anos) e por fornecer bebidas alcoólicas a adolescentes. A prisão preventiva foi pedida após uma vítima, atualmente com 17 anos, revelar aos investigadores que teve relacionamento sexual com ele quando tinha 13 anos. A suspeita da Polícia Civil é de que Laércio esteja envolvido ainda em outros crimes, por possivelmente ter arquivos pornográficos de crianças e adolescentes em seus equipamentos eletrônicos.
Ex-BBB é acusado de exploração sexual de menores. Foto: Divulgação |
A denúncia contra Laércio surgiu ainda durante a participação no reality show da Rede Globo. “Ainda que as pessoas não acompanhassem, isso foi muito explorado e todos sabiam que existia uma declaração pública dele dizendo que gostava de meninas. Isso despertou suspeita em todo mundo”, explicou a promotora Tarcila Santos Teixeira, da vara de Infrações Penais contra Crianças e Adolescentes de Curitiba.
Laércio foi eliminado do Big Brother Brasil em fevereiro. Na casa, ele enfrentou Ana Paula, seu maior desafeto, no segundo paredão da 16ª edição do programa. Os dois entraram em conflito. Ana Paula chegou a criticar a maneira como ele encarava Munik e Maria Claudia, as participantes mais novas da edição, e o chamou de pedófilo, por ter duas “namoradas” de 17 e 19 anos.
Fora da casa, a rejeição de Laércio foi grande. Além das declarações, que geraram revolta, internautas descobriram que o curitibano, em uma rede social, curtia páginas de supremacia branca, armas e se chamou de efebófilo, isto é, pessoa que tem atração sexual por adolescentes.
A partir das declarações de Laércio no confinamento, a promotoria foi surpreendida com uma denúncia. “Recebi através do meu e-mail uma denúncia formal, que dava toda a dinâmica da atuação dele, indicando como atuava e até supostas vítimas. Junto a essa denúncia vinham várias fotos de postagens em redes sociais que ele fazia e, pela natureza das fotos ali constantes, que ainda devem ser investigadas e periciadas, sugere uma exploração da sexualidade infantil e adolescente, o que também é crime”.
A própria promotoria começou uma investigação. A intenção era descobrir quais eram essas meninas que ele dizia gostar e buscar informações que comprovassem a suspeita de atuação. “Juntamos todas as documentações, fizemos algumas ligações com o que a gente já tinha, tínhamos também, na internet, um abaixo assinado coletivo pedindo providências porque as pessoas se sentiram ofendidas pelas declarações dele e encaminhamos tudo a Polícia Civil”, disse Tarcila.
Reprodução de uma das conversas que o ex-BBB mantinha com uma menor. Foto: Reprodução |
Nucria
As investigações de campo foram encaminhadas ao Núcleo de Proteç&ati,lde;o à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria), que chegou a viajar para identificar as vítimas. Logo que os investigadores chegaram à vítima principal, que era uma garota de 17 anos, o cerco se fechou contra Laércio e a prisão preventiva foi pedida na semana passada.
A vítima, que na época em que o crime aconteceu (2012) tinha 13 anos, declarou aos policiais que teve relacionamento com Laércio. “Foi aí que conseguimos levantar toda a situação. Essa vitima nos trouxe subsídio de toda a ação, nos deu suporte considerável para pedirmos a prisão preventiva”, disse a promotora.
Segundo a delegada Patrícia Conceição Nobre Paz, Laércio teve um relacionamento com a adolescente. “A localizamos e ela nos narrou tudo que aconteceu. Não sei se podemos dizer namoro, mas ela teve um relacionamento com ele. Nos deu inclusive imagens de redes sociais que comprovam o que foi declarado”.
A suspeita do Nucria é que de outras vítimas possam existir. “Inclusive, as investigações vão caminhar nesse sentido, em busca de outras pessoas e outros crimes”. Na casa de Laércio, os policiais apreenderam um computador, um HD externo, diversos pendrives, alguns CDs e três celulares. “Acreditamos que nestes equipamentos encontraremos conteúdo pornográfico envolvendo crianças e adolescentes. Tudo foi encaminhado à perícia para ser analisado e confirmar nossas suspeitas. Caso isso se confirme, ele será responsabilizado por mais este crime previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA”, explicou a promotora Tarcila Teixeira.
Depois de interrogado no Nucria, Laércio deve ser encaminhado ao Centro de Triagem (CT) e, em seguida, ao sistema penitenciário. O pedido de prisão preventiva, que não tem tempo determinado para que a pessoa fique detida, foi feito para que a polícia, possa investigar melhor as ações e, principalmente, como garantia da ordem publica, como definiu a promotora.
Alerta aos pais
“Queremos alertar os pais”, disse a delegada. Foto: Gerson Klaina. |
Segundo a polícia, a família da adolescente não sabia do relacionamento. Eles se conheceram em uma festa, em Curitiba, fizeram contato e, rapidamente, estavam se relacionando. Este namoro, por assim dizer, aconteceu a maior parte do tempo pela internet, através das redes sociais, e é isso que os policiais querem alertar.
“Nós queremos pedir que os pais monitorem seus filhos. Esses relacionamentos sempre têm inicio em redes sociais e aí acontece este tipo de crime, que os pais nem têm ciência. Monitorem e não confiem em pessoas desconhecidas, ainda que seja gente que possa passar impressão de confiança, pois, infelizmente, podemos ter esse tipo de criminoso em qualquer profissão”, disse a delegada Daniela Andrade.
Ainda de acordo com Daniela, somente no mês de maio, foram cumpridos quatro mandados de prisão do mesmo teor, por estupro de vulnerável. “Tivemos inclusive um guarda municipal que foi preso, na Região Metropolitana de Curitiba, por se relacionar apenas com meninos menores de idade. É por isso que dizemos que o criminoso pode estar em qualquer profissão”.
Consentimento é irrelevante
A promotora da Vara de Infrações Penais contra Crianças e Adolescentes de Curitiba explicou e alertou ainda uma questão importante na discussão sobre o relacionamento entre crianças e adultos. “O consentimento é irrelevante. Praticar qualquer ato libidinoso com menor de 14 anos é crime e é isso que precisamos deixar claro”, garantiu Tarcila dos Santos Teixeira.
De acordo com a promotora, não existe hipóteses de o criminoso ser considerado inocente quando o assunto é relacionamento com menores da idade explicada. “Há uma presunção de violência e essa presunção é absoluta. No caso do Laércio, por exemplo, não importa o comportamento da menina, porque ela era uma criança e ele um homem de 40 anos”, explicou.
Laércio deve ser encaminhado ao sistema penitenciário. Foto: Gerson Klaina |