O estudante Anderson Froese de Oliveira, 18 anos, foi morto por policiais militares com um tiro na cabeça, às 2h15 de ontem, durante uma abordagem na Avenida Marechal Floriano Peixoto, próximo ao viaduto do Parolin, em Curitiba. Os policiais alegaram que o estudante estava armado com uma pistola e um revólver. Ele estava junto com um menor, que foi levado à Delegacia do Adolescente por porte ilegal de arma.
Outros quatro garotos que presenciaram a cena contestam a versão dos PMs. Eles contaram que estavam retornando para casa junto com Anderson e o menor que foi apreendido. Como perderam o ônibus da madrugada, resolveram caminhar até o Boqueirão, onde moram. Quando seguiam pela Avenida Marechal Floriano, um carro passou em alta velocidade e encostou. Não sabendo o que estava acontecendo, já que o veículo era descaracterizado, todos correram. Quatro conseguiram escapar com um frasco de spray – usado por pichadores – nas mãos. Anderson e o menor ficaram para trás e foram abordados. Os meninos viram o colega ser baleado. Revoltados com a situação, eles avisaram que vão promover passeatas e manifestações nos próximos dias. Vão também prestar depoimentos na Delegacia de Homicídios, para esclarecerem as circunstâncias em que o estudante foi morto. Os amigos da vítimas juraram que não havia arma entre eles.
Tiroteio
Segundo informações divulgadas pela Polícia Militar, foi feita uma denúncia, através do telefone 190, de que dois indivíduos armados e de bicicleta estavam rondando o restaurante Ripas e Costela, na Vila Guaíra. Os suspeitos, porém, não assaltaram o estabelecimento. As informações e características dos dois rapazes foram repassadas para uma equipe do serviço reservado da PM.
Os policiais localizaram os suspeitos na Avenida Marechal Floriano e fizeram a abordagem. De acordo com os militares, um dos rapazes sacou a arma e atirou em direção à viatura. A equipe revidou e acertou um disparo na cabeça de Anderson. O jovem foi socorrido por uma viatura da PM e levado ao Hospital do Trabalhador, mas não resistiu e morreu.
Revolta
A família de Anderson estava revoltada com a situação. O pai, Raymundo Barreto de Oliveira, disse não acreditar que seu filho estivesse armado. “Ele saiu para ir ao colégio, pois estudava desenho à noite. Depois saiu com os amigos. Era um menino esforçado e procurava emprego durante o dia. Durante a campanha eleitoral ele trabalhou, e agora estava em busca de outro trabalho. Sempre me orgulhei do meu filho, pois nunca teve envolvimento com drogas e nem passagens pela polícia”, desabafou Raymundo. Ele disse que agora quer que justiça seja feita. “Meu filho não volta mais. Só quero a verdade”, salientou o pai.
O delegado Sebastião Ramos Santos Neto explicou que normalmente, quando há confronto entre policiais militares e marginais, é feito o boletim de ocorrência na Delegacia de Homicídios, mas o caso é remetido ao comando da PM, que abre inquérito policial militar para apurar as circunstâncias do tiroteio. “No caso do Anderson há dúvidas de que isso ocorreu. Acho que não ficaram esclarecidas as circunstâncias. Por isso vamos apurá-la”, informou o delegado. Ele solicitou que seja feito exame de luva de parafina em Anderson, para comprovar se há resíduos de pólvora, ou seja, se o estudante efetuou disparos de arma de fogo, como justificaram os PMs.