Saber que lotéricas estão em risco deixou funcionários e empresários divididos. De um lado estão os que sentem medo pela alta exposição ao risco, mas do outro, ainda tem quem acredite estar protegido. O esquema de uma empresa de Pinhais, que, segundo a polícia, vendia material blindado que não protege, foi divulgado com exclusividade pela Tribuna na última segunda-feira (23).
As investigações da Delegacia de Explosivos Armas e Munições (Deam) apontam que as blindagens vendidas pela empresa Tracz, que se dividia em três registros diferentes, não protegem munições dos marginais conforme prometido, mesmo as de menor calibre. O proprietário da empresa alega inocência e diz que seus produtos eram eficientes.
Com a divulgação da notícia de que mais de mil lotéricas em todo o país compraram uma estrutura blindada que não valeria na prática, o pânico tomou conta de muitas casas lotéricas. Em Curitiba, empresários pensam em o que fazer para manter os funcionários, já que alguns não querem mais trabalhar.
“Tínhamos conhecimento da investigação e do risco que isso tudo poderia representar, mas a notícia fez com que o alarme fosse maior e o medo aumentasse”, disse um empresário à Tribuna. Segundo o lotérico, que não se identificou, todos passaram a trabalhar com mais medo ainda. “Tenho funcionários que não querem mais ficar sozinhos, começamos a ter problemas”.
Ainda de acordo com o empresário, neste final de semana, uma reunião foi feita em Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, com vários representantes de casas lotéricas e o Sindicato dos Empresários Lotéricos do Paraná (Sinlopar), que foi procurado pela reportagem e até agora não se posicionou sobre as investigações. “Um dos assuntos tratados foi esse, para sabermos como vamos agir daqui pra frente. Se antes estávamos preocupados, agora ainda mais”, disse o lotérico, sem entrar em detalhes sobre essa reunião.
Alerta dado
Para outro lotérico, que também pediu para não ser identificado, a informação divulgada pela Tribuna assusta, mas era necessária. “Quem poderia tocar na ferida, se não fosse a imprensa? Nós precisamos alertar que estamos, sim, em risco. Muitos empresários compraram a blindagem que não funciona e podem ter sérios problemas com isso”.
Conforme o empresário, que está no ramo das lotéricas há 36 anos, nada do que foi publicado foi mentira e as informações podem, agora, ajudar os lotéricos. “A investigação provou, ‘por A mais B’, que muita gente foi enganada. É importante que agora quem foi vítima acorde e resolva o problema o quanto antes”, comentou.
Inquérito está com a Justiça
As investigações estão quase finalizadas pela Deam e o inquérito foi encaminhado à Justiça para solicitação de prazos de conclusão. “Nos próximos 30 dias, provavelmente, finalizaremos o trabalho. O que podemos adiantar é que novas pessoas podem ser indiciadas pelo crime contra o consumidor”, revelou o delegado Vinicius Borges Martins.
Ainda segundo o delegado, depois da publicação do caso na Tribuna, a Deam só foi procurada pelo advogado que representa o proprietário da empresa investigada, em busca de uma cópia do inquérito, mas como o documento já estava com a Justiça, ele terá de esperar. “Assim que voltar, repassaremos a ele também”.
Mesmo com o inquérito em avaliação pela Justiça, o trabalho de investigação continua a todo vapor. “Nossos policiais buscam novas informações, até mesmo para confirmar ,se não existem novos envolvidos, comparsas, em outras cidades”, explicou o delegado.