Bombeiros foram chamados para retirar os cadáveres. |
A carta que Alexandre Alves de Oliveira, 9 anos, escreveu ao Domingo Legal não chegou a ser enviada. O corpo da criança foi encontrado junto com o de sua mãe, Cléia Alves de Oliveira, 30, na fossa da casa deles, na BR-376, próximo à entrada para o bairro Barro Preto, em São José dos Pinhais, às 18h30 de quinta-feira. Ezequiel Araújo Faria, 22, com quem a mulher viveu nos últimos seis meses, foi preso em flagrante e apontado como mandante do crime, supostamente cometido por um adolescente de 16 anos. As vítimas foram mortas com pancadas na cabeça.
Um telefonema anônimo recebido pela Delegacia de Homicídios e informado aos investigadores Miranda, Gonçalves e Carlos, da delegacia de São José dos Pinhais, avisou sobre a morte da mãe e do garoto. Os dois estavam desaparecidos há cerca de quatro dias. Depois de várias investigações, a polícia foi até a residência e levou Ezequiel para a delegacia, às 14h30 de quinta-feira. Ele foi interrogado e contou histórias conflitantes, que não convenceram a polícia.
Ezequiel admitiu ter havido o duplo homicídio, mostrou onde estavam os cadáveres, mas negou qualquer participação no crime. Durante a madrugada, confessou ter chamado o adolescente para “dar um susto” na mulher, que o estaria ameaçando por ciúmes e, conforme suspeitava, também o traía. Segundo o acusado, o menor teria extrapolado a proposta e matado Cléia e Alexandre.
Resgate
A delegada titular Maritza Maira Haisi e o adjunto Noel Francisco da Silva acompanharam o trabalho da perícia e colheram informações com vizinhos e parentes das vítimas. Os corpos estavam embrulhados e jogados dentro da fossa da casa, embaixo da janela do quarto em que Ezequiel dormia. Eles tiveram de ser retirados pelos bombeiros – dada a profundidade do buraco – e foram levados ao IML.
A perita Clélia, da Polícia Científica, conseguiu identificar lesões provocadas por golpes de algum objeto na cabeça da criança. “Somente exames complementares poderão apontar a arma usada”, disse. Durante o interrogatório, Ezequiel confessou que mãe e filho foram mortos com pancadas na cabeça, desferidas com a imagem de um santo de madeira. A polícia tirou de dentro da casa o objeto, já sem sinais de sangue.
Dentro da moradia ainda havia marcas de sangue em praticamente todos os cômodos, mas no quarto onde as crianças dormiam (a mulher também tinha uma filha de 7 anos) estava a maior parte delas. A cortina que separava a sala da cozinha havia sido arrancada e o pano era igual ao que envolvia os cadáveres.
Evidências
No teto do quarto, um alçapão chamou a atenção dos investigadores. Escondido no forro, foi encontrado um saco com as roupas das vítimas e outras sujas de sangue, o que fazia a casa recender o cheiro da morte. “Ezequiel chamou os irmãos, que moram em Almirante Tamandaré, para morar com ele”, comentou o delegado Noel. Apesar da tragédia, o homem insistia em continuar habitando aquele lugar.
Uma das histórias contadas pelo acusado na delegacia dava conta que a mulher teria se mudado para Paranaguá com a criança. Mas o relato não convenceu e ele acabou por confessar a ocorrência das mortes. Depois, contou que dois homens invadiram a residência, o trancaram em um quarto externo da casa e mataram Cléia e Alexandre. Mais tarde, apontou o adolescente como o assassino.
Última versão
Em sua última versão, Ezequiel contou que brigara com a mulher e fora para casa de sua mãe, em Almirante Tamandaré. Na sexta-feira passada, dia 12, voltou junto com o adolescente para arranjar trabalho em São José dos Pinhais. “Eles discutiram e foi o garoto que matou os dois”, alegou, afirmando que ficara do lado de fora da residência enquanto o crime era cometido, por volta das 19h. “Não consegui nem ver os corpos, eu não conseguiria matar”, disse. A filha de Cléia, de 7 anos, tinha voltado da escola e estava na casa vizinha, de sua tia.
De acordo com Noel, a mulher foi morta primeiro. Como o menino presenciou o crime, teve o mesmo fim para que não identificasse os assassinos. “Acredito que Ezequiel ajudou a matá-los e que sua intenção era mesmo tirar a vida da mulher”, disse o delegado. “Um menor de idade dificilmente conseguiria assassinar duas pessoas sozinho. Ao menos uma das vítimas teria chance de reagir ou fugir”, completou.
Ezequiel foi escolhido por um partido político como pré-candidato a vereador para Almirante Tamandaré. Ele disse trabalhar como promotor de vendas e, embora negue, seu irmão afirmou que ele sofre de problemas mentais. “Ele foi autuado por ocultação de cadáver, mas com os indícios encontrados no local do crime iremos solicitar a prisão preventiva dele”, anunciou a delegada Maritza. O adolescente, morador em Almirante Tamandaré, já foi identificado e o mandado de busca e apreensão contra ele também será pedido à Justiça.