Dois meses depois de ouvir promessas de melhorias na Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP II) e não vê-las cumpridas, presos realizaram um motim na manhã desta segunda-feira (31). Um agente penitenciário e dois detentos que estavam no isolamento foram mantidos reféns por mais de quatro horas.
A situação teve início por volta das 8h30, quando o agente penitenciário Fábio Augusto Martella, 47 anos, entrou sozinho na galeria 6 do terceiro bloco para atender a um dos presos. Aproximadamente 20 detentos, utilizando seis estoques, o renderam e o mantiveram refém. Ele não foi agredido.
Rogério da Silva Penter e Wilson Cordeiro Ronkoski, presos que estavam na área de isolamento, também foram mantidos reféns durante toda a manhã. Por volta das 9h30, equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) foram acionadas e seguiram até a penitenciária para iniciar as negociações. A situação foi isolada, evitando o risco de o motim avançar para outras galerias.
Pouco depois das 13h, os três presos que lideraram o motim autorizaram a liberação dos reféns, ilesos, mediante presença de integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, que prontamente foram até a PEP II.
Após o resgate dos reféns, os líderes foram transferidos para o Centro de Observação e Triagem do Departamento Penitenciário, de onde devem finalmente ser transferidos para onde queriam. O Bope permaneceu no local por mais algumas horas, até restabelecer a ordem. Seis estoques foram apreendidos.
Revolta
O vice-presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná, Antony Johnson, entrou na galeria por volta das 11h e viu que Fábio estava bem, embora ainda estivesse nas mãos dos presos.
Ele relatou que diariamente os agentes precisam entrar sozinhos nas galerias para atender aos presos, porque apenas 30 deles trabalham na unidade para cuidar de 900 presos sem direito a porte de arma. O ideal seria que pelo menos 75 agentes atuassem lá. “A falta de efetivo é latente. Já encaminhamos vários ofícios para resolver isso, e até agora não conseguimos nada. No próximo dia 7 teremos uma audiência em Londrina para tentar resolver o problema”, conta Antony.
Familiares dos presos que, ao saber do motim pela imprensa, foram até a PEP II para buscar informações sobre os detentos, declararam que Fábio é um excelente funcionário da penitenciária e sempre tratou todos muito bem. Entretanto, esposas dos presos relataram que dificilmente são vistos policiais dentro da unidade, e que detentos ameaçados e perigosos estão no meio de presos comuns.
De acordo com o tenente-coronel Nerino Mariano de Brito, do Bope, os presos reivindicaram a transferência para o interior de alguns que foram ameaçados por facções rivais, revisão processual, melhoria nos alimentos e a implantação de cursos profissionalizantes. As exigências, de acordo com as esposas, foram promessas da atual administração, feitas durante uma reunião com familiares dos presos no dia 1° de setembro.
“Eles comem salsicha inchada, feijão azedo e frango duro. Tudo bem que aqui ninguém é santo, mas eles já estão pagando pelo que fizeram mediante o que prevê a lei. Ninguém quer além do que é humano”, relatou uma das esposas, que não quis ser identificada.
Veja a galeria de fotos da rebelião.