Cherokee do empresário morto
ficou no pátio do hospital.

Um relógio Rolex foi o chamariz para um marginal que, não se contentando em roubar o objeto, assassinou friamente o dono da jóia, na tarde de ontem. O empresário Yarede Yared Filho, 46 anos, foi morto com um tiro no ombro, que transfixou o corpo e atingiu o coração, depois de discutir com o assaltante que o abordou em um semáforo, no Batel. O empresário foi levado por sua mulher ao Hospital Santa Cruz, mas não resistiu aos ferimentos. O ladrão fugiu na garupa de uma motocicleta – pilotada por um cúmplice – levando o caro relógio.

Conforme dados da polícia, pouco antes das 14h, a Cherokee prata (placa AIQ-0780) transitava pela Rua Vicente Machado, dirigida pelo empresário do ramo de concretagem Yarede Yared Filho, que se fazia acompanhar pela mulher e pelo filho adolescente. Como o semáforo da esquina das ruas Vicente Machado e Francisco Rocha estava fechado, formou-se uma fila de carros, obrigando a Cherokee a diminuir a velocidade e parar em frente ao Colégio Estadual Júlia Wanderley.

Nesse instante, uma motocicleta com dois ocupantes estacionou alguns metros distante do veículo e o garupa desceu. Caminhou até a Cherokee e, aproveitando que o vidro do condutor estava entreaberto, sacou um revólver e deu voz de assalto, ordenando que o relógio Rolex fosse entregue.

Tiro

De acordo com o relato de testemunhas, o empresário relutou em entregar o relógio, dando início a uma discussão. O bate-boca terminou com o disparo efetuado pelo marginal que acertou Yarede no ombro. O projétil transfixou e atingiu o coração da vítima. O assaltante fugiu andando em direção à moto – com o produto do roubo em mãos – subiu na garupa e a motocicleta desapareceu.

A mulher do empresário tomou a direção do veículo e seguiu até o Hospital Santa Cruz, no Batel, a algumas quadras dali. Mas o esforço em salvar a vida do empresário de nada adiantou. Ele morreu logo após dar entrada no centro médico.

Investigação

Policiais militares do 12.º BPM e equipes da Delegacia de Furtos e Roubos buscaram de informações sobre os latrocidas. Até o final da tarde, poucos dados haviam sido obtidos com as testemunhas. O delegado Rubens Recalcatti, que comandou as equipes da DFR, informou que o autor do disparo foi descrito como moreno (voltado para o mulato), aproximadamente 35 anos, 1,70m de altura, cavanhaque e bigode bem aparados, cabelo corte estilo militar e estava bem vestido: jaqueta preta com emblema vermelho e amarelo e calça jeans. O piloto da moto não foi descrito, apenas que estava com capacete de cor vermelha.

O policial ressaltou que o modelo da motocicleta utilizada no assalto ainda é desconhecido. “Há informações de que seria uma moto pequena (modelo CG), cor bordô. Mas também pode ser uma motocicleta de porte grande. São dados contraditórios”, afirmou Recalcatti.

Ladrões de São Paulo estão agindo no Paraná

O mesmo fascínio que os relógios da marca Rolex exercem sobre seus usuários,

é despertado nos marginais, que procuram obtê-los através de roubos. Há um mercado paralelo para essas jóias, principalmente no Estado de São Paulo, o que tem feito crescer o número de vítimas em Curitiba, nos últimos meses. Na intenção de conseguir o Rolex cobiçado, assaltantes têm agido de maneira violenta. Exemplo disso ocorreu ontem, no Batel, quando um empresário foi assassinado por causa do relógio que tinha no pulso.

O roubo de relógios Rolex em Curitiba está preocupando o delegado Rubens Recalcatti, da Delegacia de Furtos e Roubos. Ontem mesmo, poucas horas antes do latrocínio, o policial teve uma reunião com comandantes da Polícia Militar (CPC e Grupo Águia) para expor o problema e pedir ajuda no combate aos ladrões. “Estava preocupado que algum roubo terminasse dessa forma trágica”, lembrou o delegado, lamentando o acontecido.

Roubos

Segundo Recalcatti, num curto espaço de tempo foram registradas algumas ocorrências na DFR, inclusive uma na manhã de quarta-feira. Às 9h30, uma vítima desembarcou no Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, e para voltar para casa pegou seu veículo. No retorno a Curitiba, num semáforo próximo a Rodoferroviária, bairro Cristo Rei, uma motocicleta azul com dois indivíduos encostou ao lado do carro e o garupa deu voz de assalto. Armado, o homem exigiu que o relógio fosse entregue. A dupla fugiu com o Rolex, avaliado em R$ 40 mil.

Outra situação que chamou a atenção ocorreu na Rua 13 de Maio, centro de Curitiba.

Uma dupla de motoqueiros, aproveitando o congestionamento daquela via, praticou um assalto. A cena foi presenciada por um delegado, que chegou a trocar tiros com os bandidos. Eles fugiram em uma motocicleta de grande porte, provavelmente uma BMW. Em até um delegado foi vítima de assalto, na Avenida Silva Jardim. O marginal, armado com revólver, chegou a levar o relógio do policial, mas foi perseguido e se desfez do produto durante a fuga. Entretanto, chegou a atirar contra o policial, que preferiu não revidar pois havia muitas pessoas na rua.

Recalcatti informou que há outros casos sendo investigados pela DFR e que os roubos ocorrem principalmente no bairro Batel. Ele acha estranha a maneira como estão acontecendo os assaltos, porque os marginais já têm o alvo definido para o ataque. “Como os ladrões sabem que em determinado carro, o motorista está com um Rolex, pois nos casos registrados os veículos estão com película escura e vidros fechados?”, questiona.

Outros

No final de 2003 e começo deste ano, vários roubos de Rolex foram registrados nos bairros Batel e Centro. Porém, os assaltantes atacavam as vítimas e fugiam a pé. Alguns assaltantes foram presos e todos eram da mesma cidade: Francisco Morato, Região Metropolitana de São Paulo.

Em outubro do ano passado, devido à grande incidência de assaltantes paulistas presos em Curitiba – por roubo de relógios -, investigadores da DFR viajaram ao estado vizinho e com a ajuda da polícia paulista conseguiram identificar vários integrantes de uma quadrilha especializada no roubo de relógios das marcas Rolex e Bulgari. Integrantes do bando se revezavam em viagens constantes a Curitiba para assaltar. Eles viajavam de ônibus, passavam uma tarde na capital paranaense para roubar e retornavam à noite. No Estado de São Paulo há vários receptadores desse tipo de material.

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