Empresário é libertado após 21 dias de seqüestro

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Empresário sofria maus tratos no cativeiro. Mantido com uma bandagem no rosto e as mãos algemadas para trás, era espancado e passava fome. Perdeu 15 quilos em três semanas.

Após 21 dias mantido como refém, confinado em um cativeiro no bairro Santa Felicidade, um empresário do setor de transportes foi libertado na madrugada da última quarta-feira, por policiais do Grupo Tigre. Sete homens foram presos durante a operação e o resgate, no valor de 100 mil dólares, pedido pelos seqüestradores, não foi pago. A vítima, quando resgatada, apresentava-se bastante debilitada e magra. Ela já está junto a seus familiares, que conforme informações da polícia, são moradores em Curitiba. Foram apresentados na tarde de ontem: Ivo José Kegler, 59 anos; Dalberto Luiz da Silva, 40; Gilmar Artigas de Souza, 19; Fabiano Lopes, 23; Wagner Borges da Silva, 21; e Jair Luiz Machado, 36. Todos acusados de participar do seqüestro. Cleverson Kegler -filho de Ivo – foi detido por porte ilegal de arma.

Seqüestro

O empresário foi seqüestrado no dia 14 de dezembro quando saía de sua empresa em São José dos Pinhais, por volta das 18h30. Na ocasião, o sócio do empresário também foi rendido, mas não foi levado pelos marginais, sendo abandonado no escritório. O empresário foi algemado e teve sua boca tapada com fita adesiva. Na seqüência, foi colocado no carro do próprio sócio, utilizado pelos marginais para a fuga. O automóvel foi abandonado na região central de Curitiba. De acordo com o delegado-chefe do Tigre, Riad Farhat, a vítima foi levada para uma casa em Santa Felicidade, na Rua Natal Pedro Dalla Stela, que serviu como único cativeiro.

Os contatos entre seqüestradores e a família da vítima foram feitos periodicamente e, logo nos primeiros dias, já foi ordenado o pagamento de 100 mil dólares para que o empresário fosse libertado. Conforme Riad, nas ligações sempre eram feitas ameaças, inclusive de morte, contra o seqüestrado.

O empresário também foi maltratado pelos marginais. No cativeiro, ele permaneceu amordaçado, com vendas nos olhos, mãos algemadas e seus pés ficaram presos a um cabo de aço -que servia como guia. Ele somente podia se movimentar no espaço delimitado por esse cabo. Além disso, sua alimentação era precária. De acordo com a polícia, o empresário era alimentado uma vez por dia, com um pedaço de pão. "Nos últimos quatro dias, nem isso ele recebeu. A vítima nos disse que passou o Natal e o Ano Novo sem ser alimentado e, toda vez que pedia por comida, era espancado", afirmou Riad. Essa falta de alimentação contribuiu para a debilitação da vítima, que emagreceu 15 quilos.

Prisão

O Grupo Tigre tem como regra não divulgar como consegue desvendar seus casos. O delegado informou que o crime foi bem planejado e que a quadrilha trabalhava em células, uma espécie de terceirização. Prova disso é que os integrantes foram presos em cidades distintas do Paraná e Santa Catarina. Depois da identificação dos participantes do crime, na madrugada de quarta-feira, policiais do Tigre deram início às prisões, que ocorreram simultaneamente, e "estouraram" o cativeiro. Dalberto Luiz, um ex-policial militar e que conta com três mandados de prisão expedidos pela Justiça, foi preso no cativeiro. Era ele o responsável por cuidar do seqüestrado. Wagner é outro que foi preso em Curitiba. Jair foi detido em Joinville (SC) e os demais em suas residências na Região Metropolitana de Curitiba: Pinhais, São José dos Pinhais e Rio Branco do Sul.

Mentor

Ivo Kegler é apontado como o mentor do seqüestro, pessoa que inclusive já manteve negócios com a vítima. Ivo nega que problemas financeiros ou desavenças pessoais tenham motivado o crime. "Nunca tive desavença, briga ou discussão com ele. Fui amigo dele. Mas prefiro me manifestar apenas em juízo", disparou Ivo. O filho dele foi o único que quis falar para se dizer inocente. "Não tinha idéia do que estava acontecendo. Quando invadiram minha casa, não sabia quem era e me armei", explicou.

Conforme o delegado, Ivo teria encarregado Dalberto de encontrar um cativeiro e requisitar os homens responsáveis pelo seqüestro (Artigas, Fabiano e Wagner). Jair ficou com a responsabilidade de negociar com a família do seqüestrado. Ele viajava por toda a Região Sul para fazer as ligações em cidades diferentes, dificultando o trabalho de investigação da polícia.

Durante a prisão do bando a polícia também apreendeu duas pistolas 380, uma pistola nove milímetros, duas espingardas calibres 20 e 32, oito telefones celulares e material utilizado para prender a vítima no cativeiro. O empresário, após ser libertado, foi encaminhado para o hospital, onde recebeu soro devido à desidratação.

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