Emoção e revolta no júri do pai-de-santo

Num clima de muita expectativa, teve início, às 9h de ontem, o julgamento do pai-de-santo Osni Noronha, acusado de ter matado os dois filhos (de 2 e 4 anos de idade) e o cunhado, em 16 de dezembro de 1998. Abatido, o réu permaneceu em plenário acompanhado por um médico e monitorado por um equipamento de controle de batimentos cardíacos.

Durante a ouvida das testemunhas de acusação, Osni balançava a cabeça o tempo todo, em sinal de a negativa ao ouvir os relatos, e vez por outra esmurrava o braço da cadeira em que estava acomodado. Apesar da acusação ter dispensado uma testemunha e a defesa outras duas, o julgamento deverá ser longo e a previsão é de que seja encerrado somente no fim da tarde de hoje.

A sessão está sendo presidida pelo juiz Rogério Etzel, que decidiu terminar os trabalhos por volta das 22h de ontem e reiniciá-los hoje, às 8h30. Os jurados – cinco homens e duas mulheres – ficaram hospedados em um hotel, incomunicáveis, por conta do Tribunal do Júri. Na platéia, cerca de 70 pessoas, entre parentes e amigos do acusado e das vítimas, acompanharam atentamente o desenrolar dos interrogatórios. Por duas vezes o juiz precisou chamar a atenção da assistência, que se manifestava com rumores contra ou a favor das declarações das testemunhas. “Isso não é um circo. É um trabalho sério e na próxima vez que houver manifestação vou determinar à polícia que esvazie a sala”, ameaçou Etzel.

Silêncio

O primeiro a ser interrogado foi o próprio réu, que nada falou em sua defesa. O interrogatório durou 15 minutos e Osni respondeu a todas as perguntas formuladas pelo juiz com a mesma frase: “Não matei meus filhos”. “Isso demonstra o grau de insanidade deste indivíduo”, comentou o assistente de acusação Beno Brandão, que atua ao lado da promotora Lúcia Inez Giacomitti Andrich. A defesa do réu está a cargo do escritório jurídico de Cláudio Dalledone Júnior, que tratou de providenciar fotos de família e filmes domésticos com cenas dos trabalhos espirituais de Osni para demonstrar que ele é uma boa pessoa.

Das três testemunhas de acusação ouvidas, o depoimento mais comovente e contundente foi a da mãe das crianças, a jovem Carla Pilatti, que não conseguiu conter as lágrimas e entre soluços relatou todo o drama vivido naquela tarde. Além dela foram ouvidos um vizinho, que prestou socorro às pequenas vítimas, Rodnei Azolim; um tio de Carla, Luciano Pilatti, e a mãe dela, Elone Maria Walter. Elone também foi baleada no rosto pelo acusado e exibiu aos jurados as cicatrizes do ferimento.

Lágrimas

Elone chorou muito ao ser ouvida e algumas vezes chamou o réu de “assassino” e “criminoso”, sendo também repreendida pelo juiz para que não se dirigisse a Osni dessa forma. Porém se confundiu com informações e por fim respondeu a quase todas as perguntas da defesa com um lacônico “não me lembro”. Ainda a pedido da defesa, ela não foi dispensada após testemunhar, porque poderá ser submetida a acareações.

Já no início da noite, Carla entrou em plenário. Logo misturou palavras com soluços em seu relato. A jovem, a pedido do juiz, recordou desde o momento em que foi para a chácara de Osni, na Região Metropolitana, para onde ele a atraiu sob a alegação de conversarem sobre a pensão alimentícia das crianças. Nesse local a jovem foi ameaçada, juntamente com seu irmão, Fernando Pilatti, que a acompanhava.

Dali os três seguiram para a casa dela, no Jardim Vergínia, São Braz. No interior da residência, alegou que se ela não ficasse com ele não ficaria com mais ninguém e saiu atirando. Primeiro feriu Elone, depois atirou em Fernando, matando-o, e em seguida foi para a sala, onde atirou na cabeça dos dois filhos – Lucas e Maria Clara, de 4 e 2 anos respectivamente -, que estavam dormindo no sofá e no chão, entre cobertores. Em seguida, segundo a testemunha, o acusado fugiu. Osni só se apresentou à polícia oito dias depois. Seu julgamento já foi adiado por seis vezes e agora a expectativa da Justiça é de que chegue ao final.

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