Um ano e sete meses depois de ser presa em flagrante por seqüestrar um recém-nascido no Hospital Evangélico, a manicure Márcia de Freitas Salvador, 33 anos, tenta reconstruir a sua vida e esquecer o passado. Na época, em decorrência de uma novela, ela ficou conhecida como ?Nazaré?, em referência à personagem que roubara um bebê do hospital.
O advogado de defesa da manicure, Eduardo Miléo disse que, após sair da prisão, em maio do ano passado, Márcia mudou de endereço, arrumou um novo emprego e até um namorado novo. ?Ela continua fazendo tratamento psicológico e está extremamente arrependida de tudo o que ocorreu no passado?, garantiu Miléo. ?Ela se arrependeu logo depois, só que não sabia o que fazer com a criança. Tanto que, quando a polícia chegou e pediu a guia amarela do hospital, ela confessou que havia pego o bebê no hospital.?
Apesar de estar em liberdade, ela continua respondendo processo criminal na 6.ª Vara Criminal por subtração de incapaz, crime previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Processo
Márcia foi interrogada em juízo no dia 4 de maio, quando estava presa na Penitenciária Feminina, em Piraquara. Na ocasião, confessou o crime com detalhes, da mesma forma que havia contado à polícia. Dez dias depois, foi colocada em liberdade provisória. Depois disso, foram ouvidas as testemunhas de acusação, entre elas, o namorado de Márcia, que confirmou em juízo a história contada pela manicure. As testemunhas de defesa serão ouvidas no início do ano que vem.
Seqüestro
De acordo com o interrogatório, Márcia estava grávida do namorado e, em agosto de 2004, teve aborto espontâneo. Mesmo depois de perder a criança, a manicure não contou para nenhum de seus familiares e nem para o namorado que havia abortado o bebê. Márcia continuou a sentir sintomas, como enjôos e tinha lactação, como se ainda estivesse grávida. ?Ela até mostrava para o namorado que já tinha leite?, contou Miléo. ?Por causa disso, ela começou a ser pressionada pelos familiares, que sempre perguntavam quando o bebê iria nascer?, disse o advogado. Cansada de ser indagada sobre o assunto, Márcia resolveu dar uma resposta.
Na noite do dia 12 de março foi até o Hospital Evangélico, onde havia acompanhado seu marido por um ano, até a morte dele, e entrou tranqüilamente pelo setor de convênios, sem ser abordada por nenhum dos funcionários. Um dos porteiros chegou a dar boa noite para a mulher, que estava vestida totalmente de branco (uniforme que usava no salão de beleza onde trabalhava no centro de Curitiba). De lá, foi até o 8.º andar e, seguindo as placas, chegou ao setor de maternidade.
Ao entrar em um dos quartos encontrou três mulheres e três recém-nascidos. De acordo com o interrogatório, a mãe de uma menina lhe disse que a criança ainda não havia sido levada para fazer exames. Neste momento, surgiu a idéia de levar o bebê. Em seguida, Márcia retornou pelo mesmo caminho, com o bebê nos braços e não teve obstáculos para deixar o Hospital Evangélico.
Depois passou em um supermercado, onde comprou leite, mamadeira, fraldas, sabonete e xampu, e seguiu para sua casa, na Rua Arapongas, no Sítio Cercado, onde permaneceu dois dias com o bebê, apresentando a criança para seu namorado e a filha, na época com 13 anos. Márcia foi presa no fim da tarde do dia 14, por policiais do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride).
