Foi divulgado na terça-feira (26), o inquérito policial que indiciou a médica Virgínia Soares Souza por homicídios na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico de Curitiba.

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Segundo o inquérito, a polícia pediu a prisão temporária da médica chefe da UTI do hospital sob a acusação de ‘prática de crimes de homicídio consumado’.

Os crimes chegaram ao conhecimento da polícia por meio de denúncia anônima. O intuito era o de liberar leitos da UTI. Para isso, a médica orientava a sua equipe e a de enfermagem a ‘desligar aparelhos de pacientes terminais’, cujo tratamento de nada mais adiantaria.

Segundo o inquérito, isso ocorria com a ‘redução da passagem de ar nos aparelhos auxiliares de respiração e o uso de remédios’ como Pavulon e Proposol nos pacientes terminais, culminando na ‘redução da capacidade respiratória e consequente óbito’.

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Diante da narração desses fatos, a polícia solicitou junto à Justiça a infiltração de um policial no Hospital Evangélico e a interceptação telefônica de ramais da UTI. O policial teria realizado uma interceptação no dia 27 de janeiro entre a Dra. Virgínia e um interlocutor não identificado, no qual a médica se manifesta pelo desligamento de aparelho respiratório de um paciente terminal.

No final da tarde desta quarta-feira (27) a Polícia Civil emitiu uma nota afirmando que não infiltrou o policial na UTI, porque isso se tornou inviável do ponto de vista operacional. Dessa forma, teria optado apenas pela interceptação telefônica autorizada judicialmente.

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Confira um trecho da conversa:

“(Virgínia): – O Alexandre achou no Paulo vaso aberto pra tudo que é lado, mas eu falei, ele vai morrer, eu sabia que ele ia morrer.

(Interlocutora Não Identificada): – Ele ficou cinco minutos.

(Virgínia): – Um minuto?

(INI): – Não, cinco minutos, foi muito rápido!

(Virgínia): – Eu falei, ele vai morrer… Eu falei, Crícia, pelo amor de Deus, tem alguns doentes que estão mortos, então vai desligando as coisas, que não tem sentido!

(INI): – Ah, não, eu desliguei!

(Virgínia): – Oi?

(INI): – Eu desliguei pra ela, ela estava no telefone com a doutora dela, ela me pediu.

(Virgínia): – E o próximo que vamos desligar é o Ivo”.

Em outra oportunidade, a doutora Virgínia e outros dois médicos conversam sobre o tratamento intensivo de pacientes cuja probabilidade de melhora é nula.

Confira abaixo o trecho da conversa em questão:

“(Virgínia): – Eu falei, é, bom… como sobrou gente para trabalhar comigo, que saiu todo mundo do centro cirúrgico, eu consegui fazer. Ele ficou me olhando. Outra coisa, você não dá a porra de uma alta!

(Cláudio): – Mas também não tinha tanta gente assim!

(Virgínia): – Ah, vai, Cláudio, não força. Não adianta entulhar a UTI. Tem que girar.

(Anderson): – Ele é meio entulhador mesmo… Ele é meio entulhador.

(Virgínia): – Meio??

(Anderson): – Ó, eu fiquei com cinco doentes, daí no final do dia eu tinha sete, daí hoje nós temos já onze. Falta chegar um. São doze. Mas se você der uma vaga, pronto. Mas se entulhar tudo também não vai, né! A Eliza já é uma empata. Nossa senhora! Quero desentulhar essa UTI, que tá me dando coceira.

(Virgínia): – Huhu! Ai, ai…”

No dia 14 de fevereiro, três dias antes de a médica ser presa, o Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa) obteve um mandado de busca e apreensão de documentos dentro do Hospital Evangélico.

Os policiais recolheram uma relação contendo o nome e a qualificação dos pacientes, identificados pelo ,primeiro nome nas interceptações telefônicas, bem como as respectivas datas de internamento; os prontuários completos, fichas de anotações e exames dos atendimentos prestados aos pacientes e respectivas datas de internamento; e uma relação constando a identificação completa de todos os profissionais que atuaram na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Geral do Hospital Evangélico, desde o dia 1º de janeiro de 2012.

No mesmo dia em que concedeu o mandado de busca e apreensão de documentos no Hospital Evangélico, o juiz Pedro Luís Sanson Corat determinou o sigilo judicial das investigações, que foi quebrado na terça-feira.

Mortes misteriosas no Evangélico

O inquérito também cita uma reportagem publicada pelo portal Paraná Online, no dia 16/03/2012, intitulada “Mortes inexplicáveis no Hospital Evangélico”, que divulga o drama de familiares de duas mulheres, uma idosa de 77 anos e uma gestante, que faleceram após serem internadas no hospital. As famílias das duas pacientes alegam que obtiveram poucas informações a respeitos dos óbitos das duas mulheres. (Clique aqui para ler a matéria).

Defesa

O advogado de defesa da Dra. Virgínia, Elias Mattar Assad, contestou o inquérito policial, afirmando que provará que a Polícia Civil não conhece medicina legal. No último sábado (23), o advogado declarou que o caso da UTI do Evangélico vai ficar conhecido como o maior erro de investigação da história da polícia no Paraná.