O consumo de drogas dentro do sistema penitenciário, apesar de ser uma prática ilícita como em qualquer outro local, está se tornando cada vez mais comum. A prova da crescente comercialização de entorpecentes em alguns presídios, localizados em Piraquara, é o aumento no número de pessoas autuadas por tráfico ou indiciadas através da lavratura de termos circunstanciados na delegacia daquele município. Aparentemente, o problema está concentrado nas dependências da Colônia Penal Agrícola (CPA) e da Penitenciária Central do Estado (PCE).
Conforme dados registrados na delegacia, em média, são lavrados três termos circunstanciados por semana, por posse de drogas. Desde o início de 2005 até a primeira quinzena de outubro, mais de 100 pessoas já foram flagrada s com pequena quantidade de entorpecente. Além disso, 16 pessoas foram autuadas por tráfico, porque transportavam quantidade maior de droga.
O preocupante é que a grande maioria dos envolvidos nessas ocorrências são os próprios reclusos no sistema ou pessoas que têm contato com os presos. São familiares, namoradas ou amigos que, durante as visitas, levam maconha, cocaína ou crack para dentro das penitenciárias e que não são descobertas nas revistas.
Maconha
O flagrante de Waldevino Gregório Pereira, 38 anos, é um dos exemplos do crescente tráfico de drogas nos presídios de Piraquara. Mesmo cumprindo pena por crime de furto, na Colônia Penal Agrícola (CPA), Waldevino foi autuado na delegacia daquela cidade, no final da tarde de segunda-feira passada. Um agente penitenciário apreendeu com ele uma sacola com 300 gramas de maconha. Diante do flagrante na CPA, o indivíduo foi encaminhado à delegacia onde foi interrogado e, em seguida, retornou ao sistema penitenciário. Agora, ele vai responder a mais um crime: tráfico de drogas.
Pelas estatísticas esse não é um caso isolado. Das 16 autuações por tráfico realizadas na delegacia, neste ano, oito delas são de presos internos nas penitenciárias. Embora pareça um número pequeno, significa 50% das autuações por tráfico em Piraquara. A pior constatação que pode ser feita, é que ao invés dos reclusos estarem em processo de ressocialização nos presídios, estão delinqüindo dentro do próprio sistema penitenciário.
Colônia Penal é a mais fragilizada
A Colônia Penal Agrícola (CPA) é a unidade mais sujeita à entrada de material impróprio ao cotidiano do detento. Na CPA convivem presos que cumprem pena em sistema semi-aberto, ou seja, passam o dia fora da prisão e retornam à noite para dormir em suas celas. Há também as autorizações para visitas às famílias, nas quais os presos passam alguns dias na rua. Presos que têm famílias moradoras na capital e região metropolitana podem, a cada 30 dias, visitá-los pelo período de três dias. Os que possuem famílias no interior do estado têm autorização, a cada 60 dias, para ausentar-se por seis dias da CPA. "Para essas visitas, 70 presos saem daqui por semana. Nessas saídas, eles podem ter contato e retornar ao sistema portando entorpecentes e diversos outros materiais ilícitos, que podem acabar passando despercebidos pela revista. Alguns chegam aqui até alcoolizados", conta Lauro Valeixo, diretor da CPA.
A CPA é uma fazenda de 325 alqueires, que faz divisa com três vilas urbanas: Macedo, Militar e Santa Mônica. "Pode acontecer de pessoas que jogam materiais e sacolas para dentro da Colônia sem serem vistas. Devido à extensão da fazenda, fica difícil vigiarmos todo o espaço", observa o diretor da colônia penal.
Para resolver parte desse problema, o diretor da CPA sugere que, além das revistas rigorosas seja feita uma grande campanha de prevenção e conscientização em Piraquara e região, principalmente nos locais ao redor da CPA. Dentro da colônia, os presos também fazem tratamentos e recebem auxílio como o do Narcóticos Anônimos e Alcoólicos Anônimos.
PEP, a mais equipada
A dimensão do tráfico de drogas dentro das dependências dos presídios em Piraquara é desconhecido. Obviamente não são fornecidas estatísticas sobre a apreensão de entorpecentes nesses locais. O combate ao tráfico no sistema penitenciário existe, como as apreensões demonstram. Mas não é sabido sobre a eficiência dessas fiscalizações, principalmente na Colônia Penal Agrícola (CPA) e Penitenciária Central do Estado (PCE). Os oito condenados que foram flagrados com drogas estão nestas instituições.
De acordo com o escrivão da delegacia, nos últimos dois anos, não houve registro de tráfico de drogas nas dependências da Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP). Isso pode ser explicado devido ao mecanismo mais rígido e moderno, utilizado pela PEP, na realização de vistoria em visitantes e funcionários. Lá todos os visitantes e seus pacotes de entrega são examinados em uma máquina de raio x e em um detector de metais. Servidores e familiares de presos são cadastrados num sistema informatizado e só entram no presídio depois de passar por um leitor ótico, que confirma a imagem, identificação e impressão digital do visitante.