Chuniti Kawamura
Veículos estacionados próximo
da feira livre, no Rebouças,
são alvos dos ?quebra-vidros?.

Há mais de 10 anos realizada na Rua Francisco Nunes, a feira livre de domingo está ameaçada. Não de acabar, mas de se tornar um ponto de encontro de adolescentes drogados, que arrombam os carros à luz do dia e se sentem impunes à ação policial. Feirantes e clientes constantemente são vítimas da ação de menores, que ?embalados? pelo uso do tíner, quebram os vidros dos carros e roubam os aparelhos de som.

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A proximidade com a Vila das Torres – favela de grande porte incrustrada quase no centro da cidade – facilita a fuga e dificulta a ação da polícia. Segundo o coordenador da feira, Vitor Mariano Alves, a ação dos adolescentes é constante e, por várias vezes, já foi necessária a solicitação de segurança aos órgãos responsáveis pela gestão das feiras, na Secretaria Municipal do Abastecimento. ?Os guardas municipais até já vieram aqui, mas não adianta vir um fim de semana e depois não vir mais. Precisa de uma ação contínua?, explicou Vitor, que já teve a sua caminhonete roubada pelos meninos.

Segundo ele, uma vez um cliente viu os adolescentes infratores roubando o seu carro e por pouco não se deu mal. ?Ele tentou correr atrás do piás, mas eles estavam armados e um deles atirou no cliente. Quase que acaba em tragédia?, contou Vitor.

Moradores também são vítimas

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Os moradores das ruas Baltazar Carrasco dos Reis e Engenheiros Rebouças, e de outras próximas de onde acontece a feira livre de domingo, também são vítimas constantes da ação dos delinqüentes. De acordo com Luiz Malaquias, os menores agem e usam drogas em qualquer horário e em qualquer lugar. ?Já fui vítima várias vezes, já corri atrás desses meninos, mas não adianta, eles fogem para a favela e lá ninguém se arrisca a entrar?, contou.

Outra moradora, que não quis se identificar, disse que o pior problema é o depósito de reciclagem que existe na vila. Segundo ela, isso faz com que os catadores, na maioria moradores na Vila das Torres, queiram morar próximo ao depósito. ?Eles passam durante toda a noite. Muitos são trabalhadores, mas como em qualquer profissão, sempre tem os maus elementos que acabam praticando furtos e roubos.?

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Triste testemunho: ?gosto do cheirinho?

Luiz, um menino de 13 anos, estudante da quarta série do ensino fundamental, cuida de carros aos domingos. A infância foi trocada pela necessidade de trabalhar e levar dinheiro para ajudar nas despesas de casa. Ele mora com o pai – catador de papel -, e dois irmãos, na Vila das Torres. O restante da família, seus outros 11 irmãos e a mãe, moram no Parolin, bairro que ele costuma visitar, principalmente quando junta uns trocados e quer comprar tíner. Viciado, disse que gosta do ?cheirinho? e se sente feliz em ser viciado só nisso. ?Não uso crack não. Só tíner, que nem faz mal?, diz o menino.

Além dele, outros cinco garotos, com idade entre 7 e 12 anos, acompanham as correrias para chamar a atenção dos motoristas que mal estacionam e já são abordados, com pedido de dinheiro e a promessa de que vão ?cuidar? dos carros.

Como agem

Sobre os furtos e roubos na rua, o menino disse que não os pratica, mas sabe quem faz. ?Eles vem em quatro. Dois ficam na esquina olhando e outros dois vão no carro e quebram o vidro com bolinha?, contou.

Vitor, o coordenador da feira, disse que a bolinha é retirada de rolamentos de rodas de automóveis. ?Eles molham com saliva, e a meia distância atiram no vidro, que é estilhaçado. Em poucos segundos o adolescente sai com o aparelho de CD, na tranqüilidade, como se fosse uma ação comum. Os moradores observam os furtos de dentro das casas, mas não fazem nada, com medo de represália.? Quando a polícia aparece e tenta recuperar o equipamento, não encontra mais ninguém. Os menores já desapareceram dentro da favela.