O seqüestro e morte da estudante Ana Cláudia Caron, 18 anos, continua a ser investigado pela polícia e trouxe à tona a guerra entre traficantes da região do Tanguá, em Almirante Tamandaré. Um dos presos pelo assassinato da jovem, Weryckson Ricardo Ponte, 19, conhecido como ?Éric?, é apontado como autor de outros homicídios na região. Na sexta-feira passada, ele teria matado a tiros o segurança Adelar de Campos, 32, apelidado de ?Polaquinho?, integrante do grupo denominado ?Anjos da Noite?, que durante o dia faz entrega de água e gás no bairro e, à noite, atua como segurança particular.
Foto: Arquivo |
Ana Cláudia foi seqüestrada quando chegava na academia. |
De acordo com investigações do Grupo Tigre, ?Eric? não teve participação direta no assasinato de Ana Cláudia e teria sido ele o responsável por fornecer informações à polícia que levaram à prisão dos dois autores – um garoto de 15 e outro de 18, completados no domingo passado, quatro dias após o crime. Os menores agiram por conta própria e queriam assaltar alguma garota de classe média ou alta, para obrigá-la a fazer saques para que pudessem comprar drogas. Como Ana Cláudia não possuía cartões de bancos nem dinheiro, os bandidos decidiram violentá-la. A menina reagiu e teria até conseguido escapar deles, quando foi levada para um matagal em Almirante Tamandaré. Foi alcançada e executada com um tiro na boca. Depois teve o corpo queimado com álcool.
Os dois assassinos levaram o carro da vítima – o Palio azul AKI-5603 – para ?Eric? ?tranformá-lo? em dinheiro.
O traficante, no dia seguinte (quarta-feira passada), soube que o veículo era produto de um latrocínio (roubo com morte) e ficou revoltado com os menores, pois o crime iria atrair a polícia para o Tanguá e dificultar o comércio de drogas.
Lei do tráfico
Para ?dar uma lição? nos garotos, ?Eric? encontrou o barraco que eles ocupavam, no Morro da Formiga. Invadiu a moradia e deu uma surra nos dois, na frente de outros menores que ali consumiam drogas. Em seguida tomou a garrucha calibre 32 que eles haviam utilizado para executar Ana Paula, para que não ?fizessem mais besteiras?. Posteriormente ?Eric? mandou alguém ligar para a polícia e fornecer o endereço dos assassinos, para que fossem presos.
Quando apanhados, os menores confessaram o crime e disseram que a arma estava com ?Eric?, que também foi capturado, bem como a jovem Ângela Ferraz da Silva, 22, namorada do garoto que completou 18 anos. Ela ficou com os pertences de Ana Cláudia, como bolsa, roupas e telefone celular.
Prisão pode causar ?efeito dominó? e solucionar casos
Com a prisão de Weryckson Ricardo Ponte, o ?Éric?, a Divisão de Narcóticos (Dinarc) e a delegacia de Almirante Tamandaré devem entrar em ação, e apurar, não só a rede de tráfico que toma conta do Tanguá, mas também elucidar alguns homicídios recentes ocorridos na área, como o de Adelar de Campos, o ?Polaquinho?, um dos integrantes do ?Anjos da Noite?.
Conforme foi apurado, ?Polaquinho? e sua equipe atrapalhavam o tráfico de entorpecentes com a vigilância que faziam. Na sexta-feira passada, ele foi atraído para uma cilada, em frente a uma mercearia. Ao atender ao chamado de um cliente, que estava sendo importunado por dois indivíduos, foi fuzilado. Os autores seriam ?Éric? e ?Xaropinho? (irmão de Ângela, a jovem que ficou com os pertences de Ana Cláudia).
Outra informação é a de que ?Éric? é o braço direito do traficante conhecido por ?Marcelão?, dono de pelo menos 30 bocas de fumo existentes na região. ?Marcelão? seria o mandante de muitos crimes.
Da escola pra cadeia
Patricia Cavallari
A prisão dos adolescentes e de Ângela foi surpresa para os moradores do bairro Tanguá. Quem conhecia os três não imaginava que fossem capazes de estar envolvidos na morte cruel de Ana Cláudia. O envolvimento com drogas também surpreendeu moradores.
Ângela e o namorado (o adolescente de 18 anos), estudavam juntos e cursavam a 5.ª série do ensino fundamental. Ela era considerada pelos professores uma garota esforçada, por vender doces e salgados para aumentar sua renda. Ângela também tinha faltas abonadas, porque trabalhava no centro de Curitiba e não conseguia chegar a tempo para a primeira aula. Ela trabalhava como diarista na casa de um pastor e tinha se convertido para religião evangélica. ?No nosso curso de informática ela ficava ouvindo CDs com músicas de louvor?, contou uma das conhecidas da acusada.
O namorado dela também não tinha problemas de disciplina na escola e era conhecido por ser uma pessoa quieta e que não se envolvia em brigas. Apesar de ser repetentes, os dois tinham a maioria das notas acima da média.
Pipas
O adolescente de 15 anos também era considerado um garoto ?normal?. Uma vizinha contou que ele costumava brincar nas ruas com outros meninos, e que seu passatempo predileto era soltar pipas. O adolescente cuidava dos três irmãos mais novos e todos os dias levava o de 1 ano e 6 meses para a creche. Depois que foi preso, a mãe dele deixou o bairro com os outros filhos. Ninguém sabe para onde a família se mudou.
Crime chocou população
Ana Cláudia foi seqüestrada na terça-feira da semana passada, quando chegava a uma academia na Rua Paula Gomes, São Francisco. Desde então, a polícia trabalhou em sigilo na busca pela estudante. Na quinta-feira, ela foi encontrada morta, em um matagal em Almirante Tamandaré. Ana Cláudia foi estuprada, asfixiada, baleada na boca e, depois, queimada.
A forma bárbara como aconteceu o crime chocou a sociedade. No dia seguinte ao que Ana Cláudia foi encontrada morta, o carro dela foi achado queimado, a poucos quilômetros do local do crime. O cerco se fechou, e, no sábado, os policiais receberam informações que os levaram até os autores do crime. Um dos adolescentes, que completou 18 anos no domingo, foi preso junto com a namorada Ângela. Depois, foi preso o outro menor, de 15 anos. Os dois são apontados como autores do seqüestro e do crime. Ângela foi presa porque escondeu o carro da vítima e ficou com os pertences dela. Por fim, os policiais prenderam Weryckson Ricardo Ponte, 19, que estava com a arma usada no crime.