Drama: jovem fica sozinha depois da tragédia

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Sirlei, ferida, chora entre os corpos
da filha e do marido.

Mesmo com a saúde bastante debilitada, a única mulher sobrevivente da tragédia que resultou na morte de cinco pessoas recebeu autorização dos médicos para acompanhar o enterro e despedir-se da filha e do marido. Sirlei Dias da Cruz, 19 anos, está internada no Hospital Evangélico, e deve receber alta ainda esta semana. Porém, a vida desta jovem, que já era permeada por fatos trágicos, torna-se agora ainda mais difícil.

Levada por uma ambulância do posto de saúde do bairro Cachoeira, em Almirante Tamandaré, Sirlei desembarcou, sentada em uma cadeira de rodas, na igreja evangélica Casa de Oração para Todos dos Povos. Em meio a lágrimas e muito sofrimento, na tarde de ontem ela velou os corpos de sua filha, Vitória da Cruz Dias, 1 ano, e do marido, Cleber de Andrade Dias, 22. Em seguida, acompanhada por um pastor evangélico e uma enfermeira, a jovem também participou do enterro da família, sendo depois levada novamente ao hospital. "Ela teve traumatismo toráxico e de crânio, porém não corre risco de morte, apesar de inspirar cuidados. Autorizamos que ela fosse no enterro, desde que com acompanhamento médico, porque Sirlei precisava ter a sensação de que fez o que podia por sua família", disse o médico responsável por ela, Samir Ali Bak. Segundo a jovem, ela só conseguiu sobreviver devido à ajuda que teve do marido. "Eu estava com minha filha no colo e quando o caminhão veio, Cleber nos jogou para o porta-malas. Minha filha morreu nos meus braços e meu marido perto de mim", contou desolada.

Resgate

Na madrugada trágica Sirlei ficou mais de duas horas embaixo das ferragens, até ser removida. Segundo o tenente Eduardo Gomes Pinheiro, do Corpo de Bombeiros, o resgate envolveu cerca de 30 soldados, devido à alta complexidade da ocorrência. "Tivemos que usar dois guinchos para içar o caminhão e conseguir cortar o carro, pois além das vítimas, dois soldados estavam embaixo dos rodados, acalmando a sobrevivente que gritava muito", contou Pinheiro.

Vida difícil

Portadora de osteomielite, uma grave infecção que atinge os ossos, a jovem vem recebendo atendimento médico no Posto de Saúde do Cachoeira, Almirante Tamandaré, há três anos. Em meio ao tratamento, ela engravidou, o que trouxe ainda mais risco à sua saúde. Durante a gestação, Sirlei se locomovia apenas com a ajuda de muletas, uma vez que a doença atingiu principalmente uma de suas pernas. A barriga mal aparecia, e as chances da criança sobreviver eram poucos, mas no dia 2 de julho de 2004 nasceu a filha do casal, cujo nome fez jus ao sofrimento: Vitória.

Há dois meses, a doença de Sirlei agravou-se e ela foi obrigada a amputar o pé e parte de uma das pernas. Desempregada, Sirlei e a filha sobreviviam com o salário de Cléber, que trabalhava como servente de pedreiro. A família morava em um casebre de uma peça, construído nos fundos do terreno da sogra da jovem.

Os funcionários do posto de saúde e membros da igreja do município estão unindo forças na tentativa de ajudar Sirlei. Eles estão pedindo doações, como roupas, calçados, um local onde ela possa morar e alguém que auxilie no processo de aposentadoria por invalidez de Sirlei. Para ajudar a jovem, os telefones de contato são 9134-7689 e 9216-6063.

Polícia procura linchadores

"Fazer justiça com as próprias mãos não é a forma correta de se fazer justiça. Cabe às autoridades aplicar as penalidades dos delitos cometidos e não à sociedade", disse o delegado Luiz Alberto Cartaxo de Moura, titular da Delegacia de Homicídios, que passa a investigar os responsáveis pelo linchamento sumário do caminhoneiro Claudemir Batista Severino, 45 anos. Em paralelo, a Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran) investiga as circunstâncias em que ocorreu o acidente provocado por ele e no qual morreram cinco pessoas, e a denúncia de testemunhas de que depois da morte do caminhoneiro, o irmão dele apanhou outro caminhão e tentou atropelar os populares que estavam reunidos no local.

De acordo com o delegado, duas equipes de investigadores foram destacadas para apurar os nomes de parentes das vítimas e vizinhos, que teriam participado do linchamento. Assim que forem identificados, os envolvidos serão interrogados, e os que tiverem a participação comprovada serão indiciados por homicídio, cuja punição prevê pena de 12 a 30 anos de reclusão. "Todo o linchamento tem uma liderança e a partir dos interrogatórios conseguiremos chegar até os que efetivamente espancaram o caminhoneiro até a morte", concluiu Cartaxo. O delegado aguarda alguns laudos periciais e o resultado do exame feito pelo Instituto Médico Legal (IML), que poderá comprovar se Claudemir estava ou não alcoolizado quando tentou fazer o caminhão pegar no tranco, ocasionando a tragédia. Porém, testemunhas do bar onde o caminhoneiro esteve na noite de sábado, contaram à polícia que ele já chegou alcoolizado no estabelecimento, onde também bebeu uma dose de vodka e uma cerveja.

No local, populares contaram aos investigadores que logo depois do acidente, o irmão de Claudemir apanhou outro caminhão e passou em alta velocidade pela rua, ameaçando atropelar as pessoas que estavam reunidas no local. O fato foi levado ao conhecimento da Dedetran e, caso a história seja comprovada, o acusado poderá até mesmo ser detido.

Tragédia

A tragédia aconteceu por volta da 1h de domingo, quando o marceneiro Altair preparava-se para levar para casa a sobrinha Cláudia de Andrade Dias, 17; o marido dela, Hélio Kruger, e a filha do casal, Samara de Andrade Kruger, 8 meses. Também entraram no veículo o irmão de Cláudia, Cleber de Andrade Dias, 22; a esposa dele, Sirlei Dias da Cruz, 19; e a filha do casal, Vitória da Cruz Dias, 1 ano. Todos já estavam dentro do Kadett placa AHD-2732, quando Hélio resolveu descer para trocar de lugar. Ele então avistou o caminhão (Volkswagen, placa ABC-6648) desgovernado descer a rua e se jogou no gramado. Sirlei, Hélio e William Marcelo Mendes, 14 – que foi atropelado na calçada antes da colisão com o carro – foram os sobreviventes da tragédia. O marceneiro morreu a caminho do hospital. O adolescente sofreu traumatismo craniano de grau leve e está com algumas contusões no corpo. Segundo o médico Ali Bak, o paciente passa bem e deve receber alta nos próximos dias.

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