Dono de fazenda está entre suspeitos da morte de sem-terra no PR

Um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná, Eli Dallemole, de 42 anos, foi assassinado a tiros na noite de domingo (30), dentro de sua casa, no assentamento Libertação Camponesa, em Ortigueira, a cerca de 250 quilômetros de Curitiba, onde vivia com a mulher e três filhos. A polícia prendeu, na manhã desta segunda-feira (31), cinco pessoas acusadas de participação no crime. Em uma nota, o MST cobrou da Justiça "a punição dos responsáveis por mais um assassinato de trabalhador sem-terra no Estado e a extinção imediata dessas milícias armadas, que já estão se tornando corriqueiras no Paraná".

Segundo o MST, Dallemole estava em casa, por volta das 19h30, quando dois homens encapuzados invadiram a residência e o executaram na frente da família. O movimento informou que o líder dos sem-terra vinha recebendo ameaças havia mais de dois anos e que as denúncias já tinham sido feitas às autoridades. As ameaças teriam aumentado a partir do dia 8 de março, depois que o acampamento Terra Livre, formado por sem-terra que ocuparam a fazenda Copramil, sofreu um ataque, com queima dos barracos.

Em razão desse ataque, a polícia deteve sete pessoas, que continuam presas, e apreendeu cinco armas e 90 cartuchos, 48 deles deflagrados. Uma retaliação por causa da ocupação da Copramil é a principal hipótese sobre a motivação do crime, mas a polícia não descarta que a morte possa ter sido motivada por desavenças, visto que um dos suspeitos, Odenir Souza Matos, de 34 anos, é ex-sem-terra e teria sido expulso do acampamento por Dallemole.

A polícia informou que entre os presos está o presidente do Sindicato dos Comerciários de Cornélio Procópio, Adilson Honório de Carvalho, de 35 anos, que seria proprietário da fazenda Copramil. No Sindicato, os funcionários disseram-se surpresos. "Ele não veio de manhã e disse que tinha ido para Curitiba", disse um deles. Segundo o funcionário, o advogado de Carvalho também não estava. Carvalho é apontado pela polícia como possível mandante do crime e estaria envolvido também com a violência do dia 8 de março.

O secretário de Estado da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, disse, por meio da assessoria de imprensa, que designou uma equipe do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) para investigar o caso. "O Cope deve encerrar o inquérito rapidamente", afirmou. "Nós estamos atentos a estas movimentações e não vamos tolerar ações criminosas no campo."

Também foram presos Genivaldo Carlos de Freitas, de 32 anos, José Moacir Cordeiro, de 35, e Valderi Aparecido Ortiz, de 27. "Todos os detidos já tinham prisão preventiva decretada pela Justiça por estarem envolvidos na tentativa de retomada da fazenda Copramil no início de março", disse o delegado-chefe da Divisão Policial do Interior, Luiz Alberto Cartaxo. Com os presos foram encontradas três armas.

A polícia suspeita que Matos e Ortiz possam ser os autores dos tiros contra Dallemole. Eles estavam encapuzados, mas suas vozes foram reconhecidas pela mulher do sem-terra. Algumas características físicas também coincidem com a descrição feita por testemunhas. Nesta segunda (31) à tarde, cerca de 400 sem-terra conduziram o corpo de Dallemole em procissão até a igreja matriz de Ortigueira. Depois, ele foi levado ao acampamento, onde seria velado durante a noite. O sepultamento está marcado para esta terça-feira (1º) em Tamarana, município próximo a Ortigueira.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informou que a fazenda Copramil tinha passado apenas por uma vistoria prévia, com análise de documentos. Haveria necessidade de uma vistoria no local, mas o órgão ficou impedido de realizá-la porque foi invadida. Uma Medida Provisória impede vistoria, pelo prazo de dois anos, em propriedades invadidas.

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