Além de ser o proprietário da Impacto Assessoria, empresa clandestina de segurança privada, Alisson Daniel Martins, 30 anos, também é o presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do bairro Campo de Santana. Ele é suspeito de assassinar a tiros o pintor Sidnei Costa Rodrigues, 24, na madrugada de domingo, no Rio Bonito, também no Campo de Santana, durante uma perseguição que, por pouco, não resultou em mais vítimas. Alisson foi preso, ontem à tarde, na Delegacia de Homicídios, onde se apresentou. Seu mandado de prisão havia sido expedido pela Justiça pouco antes dele chegar à delegacia.
De acordo com a delegada Iara Dechiche, que preside o inquérito, o vigilante não entregou a arma do crime e também reservou-se o direito de não falar sobre a acusação. ?Ele disse que só fala em juízo. Depois de ter se apresentado, nós o encaminhamos ao Centro de Triagem II, em Piraquara?, disse a delegada, lembrando que a polícia tem dez dias para concluir o inquérito e encaminhá-lo à Justiça.
Conseg
Ao que indica, Alisson não agia como autoridade no bairro apenas porque era proprietário da empresa, mas também por ser presidente do Conseg. O nome dele consta no site oficial do governo do Estado, na página referente ao Conselho de Segurança Campo de Santana.
Ao lado do nome de Alisson estão os telefones do Batalhão de Polícia Militar da Área (13.º BPM) e do 13.º Distrito Policial (Tatuquara), indicando que todos trabalham em conjunto. No entender do governo do Estado, ?cada conselho é uma entidade de apoio à Polícia Estadual nas relações comunitárias, e se vincula por adesão, às diretrizes emanadas pela Secretaria de Segurança Pública, por intermédio do coordenador estadual para Assuntos dos Conselhos Comunitários de Segurança. A Secretaria de Segurança Pública tem como representantes, em cada Conseg, o comandante da Polícia Militar da área e o delegado de polícia titular do Distrito Policial?.
Mulher de detido diz que foi injustiça
Marcelo Vellinho
Foto: Fábio Alexandre |
Carmen mostra cartão com a ocupação do marido. |
Mulher de um dos presos no interior da empresa clandestina Impacto, Carmen Bender, esteve na Delegacia de Homicídios, na manhã de ontem, e alegou que o marido foi vítima de injustiça. Ela é esposa de Juarez Osório Lopes Klatte, 39 anos, detido em flagrante, acusado de participação no assassinato de Sidnei.
De acordo com Carmen, Juarez não é funcionário da Impacto e estava na empresa porque foi solicitada sua ajuda. ?De manhã, um profissional da Impacto foi até a nossa casa e pediu ajuda, porque estava sem pessoal na empresa. Era para ele ficar lá, atendendo telefone e acho que foi orientado a se uniformizar?, afirmou a esposa.
Foto: Átila Alberti |
Moradores do Rio Bonito também se revoltaram. |
Carmen contou que Juarez já foi vigilante, mas que atualmente trabalha com pintura elétrica e cabeamento de redes. ?Faz mais de 5 anos que ele largou o serviço de vigilância. A única relação que ele tinha com o pessoal da empresa era de ficar conversando no bairro?, disse. A mulher foi orientada por seu advogado a conseguir documentos que comprovem que Juarez não tem ligações com a Impacto.
A morte do pintor causou revolta entre familiares e moradores da região que pagavam R$ 10 pelos serviços da empresa. Na manhã de ontem os moradores atearam fogo em pneus e trancaram ruas do bairro. A sede da Impacto foi fechada e a placa que a identificava, retirada.
Detidos
Sidnei foi morto depois de ser perseguido por vigilantes da Impacto, pelas ruas do conjunto Rio Bonito, Campo de Santana. Na manhã de domingo, policiais da Delegacia de Homicídios foram até a empresa e prenderam Alexandre Lima, 34 anos; Juarez Osório Lopes Klatte, 39; Sílvio Rogério Favero, 29, e Nilton Antônio Zanlorenzi Fotela, 25. Eles foram indiciados como co-autores do crime.
Sindicato orienta a ter cuidado
Patricia Cavallari e Marcelo Vellinho
De acordo com o Sindicato dos Vigilantes de Curitiba, o órgão já havia alertado sobre a ilegalidade da empresa Impacto, cujos funcionários foram presos domingo, acusados de participação no assassinato do pintor Sidnei Costa Rodrigues, 24 anos. De acordo com a nota enviada, o nome da empresa ?já constava há tempos na lista de empresas irregulares no site da entidade?.
O presidente do sindicado, João Soares, afirmou que a Impacto já deveria ter sido fechada. ?As empresas clandestinas que fazem segurança eletrônica geralmente colocam seguranças para trabalhar armados e sem preparo profissional. Nas empresas regulares, o vigilante é proibido de andar armado quando faz a segurança móvel. É permitido o porte de arma apenas em pontos fixos?, explica.
Fiscalização
Ainda de acordo com João Soares, em Curitiba, 93 empresas clandestinas estão em funcionamento. Nos municípios da região metropolitana, elas somam 122. ?O problema é que a Polícia Federal tem poucos agentes para fiscalizar. Nós fazemos esse trabalho e quando percebemos que há alguma irregularidade, denunciamos?, disse João.
Para a população saber se a empresa contratada está regulamentada, João Soares afirma que o primeiro passo é entrar em contato com a PF ou com o sindicato dos funcionários ou dos donos das empresas. ?A segurança clandestina é um perigo à sociedade e o mais importante é que a população saiba disso e não contrate estes serviços?, finaliza o presidente.
Nomes iguais
Mara Cornelsen
Também, através de notas oficiais, duas empresas com o mesmo nome que a Impacto, informam não ter qualquer ligação com a firma de segurança privada envolvida no assassinato do pintor de paredes. A empresa Impacto Conservação e Limpeza Ltda, com sede na Avenida Maringá, 847, loja 6, em Pinhais (sendo seus proprietários os sócios Amauri Pereira e Rosângela Pereira), está registrada na Junta Comercial do Paraná, desde 14 de junho de 1996, segundo diz sua nota, e presta serviços de limpeza, conservação, paisagismo, copa, portaria e monitoramento de alarmes. Não presta serviço de vigilância armada, pois não tem autorização da Polícia Federal para essa atividade.
O grupo Impacto Security, por sua vez, informou que está em dia com todas as obrigações legais, registrada regularmente e não possui vínculos com a outra de mesmo nome. Também salientou que a marca ?Impacto Security? é registrada pelo grupo, que tomará medidas cabíveis quanto a legalidade do uso do nome Impacto.