Quase ao mesmo tempo em que o comerciante Antônio Aleir Nazário, 52 anos, era assassinado por ladrões, em sua lanchonete no sábado passado, na Vila Guaíra, mais de 20 policiais e guardas municipais estavam a um quilômetro dali em outra lanchonete, na Vila Lindóia.
Eles acompanhavam fiscais da prefeitura durante a Ação Integrada de Fiscalização Urbana (Aifu), que vistoria e autua os estabelecimentos que funcionam de modo irregular. O proprietário do “Cafofo do Alemão” afirma que a polícia foi truculenta durante a batida.
Segundo o proprietário Rodrigo Kirschnick, 28 anos, o estabelecimento, na Rua Roberto Koch, já passou por três vistorias da Aifu. “De modo algum sou contra a fiscalização. Minha indignação é como ela aconteceu”, desabafou.
Armas
O comerciante contou que, por volta de 21h30, os policiais entraram de armas em punho. Uma sargento “berrou”: “É batida policial. Quero todo mundo com as mãos na parede”, segundo contou o comerciante. Os 34 clientes foram submetidos à revista, entre eles os advogados que se reuniam com colegas da empresa.
“Trataram meus clientes como se todo mundo fosse bandido. Já trabalhei com segurança privada e sei que, durante uma batida padrão, a arma tem que estar no coldre do policial”, contou. O clima esquentou ainda mais quando Rodrigo quase foi preso por desacato ao tentar explicar a um tenente que o ambiente era familiar.
Para Rodrigo, o maior embaraço foi com um casal de meia idade. “A mulher disse que foi a primeira vez que levou geral. Depois, ela correu para o banheiro e saiu de lá chorando”, contou.
Os policiais também exigiram que um dos clientes que estava com o filho de 13 anos se retirasse do local, porque o menino não portava documentos. “Era antes das 22h. Ele mora a uma quadra e não tinha porque levar o documento do filho para apenas comprar um cachorro-quente”, disse. Rodrigo pensa em comunicar a PM sobre o suposto abuso de autoridade e mover uma ação por danos morais e perdas e danos.
Assalto
Assim como Antônio Nazário, que foi morto ao reagir à ação de assaltantes, Rodrigo conta que, há três semanas, dois bandidos armados roubaram R$ 1 mil de seu estabelecimento.
“Eu liguei para o 190 e não apareceu uma viatura. Quando liguei novamente, simplesmente me disseram para ir a uma delegacia fazer boletim de ocorrência”, questiona. O comerciante contou que assaltantes estavam de moto e de capacete e podem ser até os mesmos que mataram Antônio.
PM diz que abordagem foi normal
Desde o primeiro dia do ano, a Polícia Militar atendeu 58 ocorrências na Vila Lindóia, segundo o major Everon Puchetti, chefe da Comunicação Social da PM. “Recebemos 16 queixas de perturbação de sossego e quatro de lesão corporal, o que justifica as ações da Aifu na região”, disse.
Ele esclareceu que a batida de sábado não fugiu aos padrões e explicou que, como se trata de uma ação integrada de vários órgãos, como bombeiros, Vigilância Sanitária, Polícia Civil, Fundação de Ação Social, é comum que, pelo menos, 12 policiais participem.
“Dependendo do ambiente e horário, entrar com a arma em punho é uma postura de defesa dos policiais. Já que há grande risco de ter alguém armado e reagir à ação”, explicou.
Irregularidades
Nas três vezes que a Aifu esteve no “Cafofo do Alemão” encontrou irregularidades, segundo o major. No dia 1.º de abril, o local não tinha alvará da prefeitura para funcionar.
Em 25 de junho, Rodrigo foi autuado por não ter as licenças sanitária e ambiental. Na última ação, o comerciante foi novamente notificado por falta de pagamento da taxa de segurança do Funrespol (Fundo de Reequipamento Policial) cobrada pela Polícia Civil. Nessa mesma noite, outros dois bares foram notificados por estarem funcionando irregularmente.
,Rodrigo justificou dizendo que, em abril, seu contador não providenciou a tempo a renovação do documento. Quanto às outras licenças, disse que foi vítima de falta de informação.
“Quando fui à prefeitura, só me informaram sobre a licença dos bombeiros e da Polícia Civil. Sobre a taxa do Funrespol, eu já paguei, mas quando fui ao órgão não tinha ninguém para carimbar. Vou providenciar na segunda-feira”, explicou.
Sugestão
Puchetti disse que Rodrigo deveria pensar pelo lado positivo quando se refere ao latrocínio que vitimou Antônio. “Ele tem que dar graças a Deus que a lanchonete dele era um local seguro e que a polícia estava presente”, sugeriu, solicitando ao comerciante que procure a PM com testemunhas para esclarecer o caso.