Uma pessoa reservada, que falava pouco sobre seus negócios e que possuía muitas dívidas.

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É dessa forma que várias pessoas, entre amigos e conhecidos, descreveram o jornalista Ayrton Ferreira Précoma, 49 anos, assassinado com dois tiros na noite de sexta-feira. Nos anos de 2003 e 2004, Précoma pôs em prática um antigo projeto, o de lançar o jornal Correio Metropolitano, que, além de outros assuntos, deveria ter grande conotação política. Porém somente duas ou três edições foram lançadas no mercado. Endividado, e com dificuldades de tocar o negócio, o jornalista fechou a gráfica e editora, que funcionava na Rua Bartolomeu Lourenço de Gusmão, na Vila Hauer, em fevereiro de 2004, após seis meses de funcionamento.

No bairro onde funcionava o jornal, diversas pessoas falaram sobre as dívidas do empresário. "Ele deu um golpe muito alto no mercado. Devia o maquinário da gráfica, devia na oficina mecânica, em restaurantes da região, na imobiliária onde alugou o barracão e a casa em frente. Tinha 18 meses de aluguel atrasado. Ele não pagava nada. Não tirou um tostão do bolso", arriscou um vizinho.

A imobiliária que alugou os imóveis para Précoma foi procurada, mas permaneceu fechada no fim de semana.

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"Na época, achamos que ia funcionar uma grande empresa aqui. Na inauguração, diversos carros do BPTran e da Diretran fecharam a rua, e até mesmo o governador do Estado apareceu aqui", disse um morador local, relembrando o final do ano de 2003.

Outra pessoa que por algum tempo se sentiu lesada foi um comerciante do ramo de alimentação, que disse ter ido três vezes à gráfica para cobrar uma dívida. "Ele me pediu para esperar um tempo, pois afirmou que estava com problemas de dinheiro, que o jornal não ia bem, mas que me pagaria. De fato me pagou, após alguma insistência", disse o comerciante.

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Um jornalista de Curitiba, que pediu para não ter seu nome divulgado, contou que Précoma abriu e fechou diversos pequenos jornais em Curitiba. Para todos eles, tentava vender anúncios, porém nenhum deles se sustentou com as vendas. Uma de suas empreitadas envolveu a venda de anúncios para casas noturnas que abrigavam garotas de programa.

A Delegacia de Homicídios acredita que o assassinato teve como motivo as contas que o jornalista devia no mercado. Além de funcionário inativo do Tribunal de Justiça, Précoma também já foi radialista e candidato a deputado federal, mas não se elegeu. Ele esteve preso entre 1.º de setembro e 11 de novembro de 2005, e também no ano de 1985.

Amigos

No velório, realizado em uma capela no centro de São José dos Pinhais, amigos disseram que o jornalista era uma boa pessoa e que gostava muito de seu filho. Os amigos também relataram que Précoma era muito discreto e reservado, e por isso não falava de seus negócios e sua profissão. Falava menos ainda se era procurado ou ameaçado por alguém.

O sepultamento foi às 17h, na Capela São João Batista, em São José dos Pinhais.

Crime

Por volta das 20h de sexta-feira, Précoma saía da casa da ex-mulher, na Rua José Sebastião Baltazar, Conjunto Caiuá, onde foi buscar o filho de oito anos para passar o fim de semana, quando um homem desconhecido se aproximou, o empurrou e disparou dois tiros. O jornalista foi assassinado na frente da criança, que já estava dentro carro. A hipótese de assalto foi descartada, pois nada de valor, incluindo carteira, celular e o veículo, um Xsara Picasso, não foram levados.