Disputa por posse de casa vira pancadaria

O abuso de autoridade por parte de policiais militares pode ser visto nas marcas deixadas no corpo do latoeiro Rene Ferreira da Maia, 22 anos, que na manhã de ontem foi arrastado de dentro de sua casa – na Rua Antônio Stinglin, Pilarzinho -, e agredido com vários socos no rosto e tapas nas costas. Segundo a vítima, esta não foi a primeira vez que os policiais o ameaçaram, exigindo que Rene e sua mulher deixassem a casa que ocupam, uma vez que moram de favor no local. No boletim de ocorrência registrado no 3.º Distrito Policial, o latoeiro afirma que foi ferido pelo soldado Marcos e pelo sargento Mendes, ambos do 12.º Batalhão da Polícia Militar, que ocupavam a viatura prefixo 5298, placa ABK 0515. “Acredito que o proprietário da residência, o senhor Mário, esteja pagando para os policiais tirarem a gente da casa”, afirmou a vítima da agressão.

O espancamento aconteceu por volta das 11h de ontem, quando Rene foi buscar água e, ao retornar para casa, avistou uma viatura policial no final da rua. Ao abrir o portão, os policiais então fizeram uma ameaça: “E daí vagabundo, quando você vai sair daqui?”. Ao responder que só deixaria a residência com ordem judicial os PMs abriram o portão, o arrastaram até a rua e o algemaram. Em seguida, derrubaram o latoeiro no chão e, enquanto um dos policiais segurava seu pescoço o outro dava socos em seu rosto e tapas nas costas. Mesmo pedindo por socorro, apenas uma vizinha viu o que estava acontecendo e nada pôde fazer. A mulher, chorando, relatou que estava no portão de casa, e esperava por Rene para pagá-lo por uma limpeza de jardim, quando viu os policiais o espancando covardemente. “Eles bateram muito nele e eu fiquei desesperada, mas não pude fazer nada contra a polícia. Isso é um absurdo, pois eram os policiais que deveriam dar bom exemplo”, disse indignada a mulher.

Depois de machucá-lo, os PMs invadiram a casa, pegaram uma faca de cozinha e uma bicicleta, levando o rapaz ao 3.º DP, alegando que os havia ameaçado. Antes de entrar no distrito, os policiais teriam dito para o latoeiro não falar nada sobre o espancamento, caso contrário iriam colocar droga em seu bolso. Mas Rene foi liberado logo depois, já que a história dos PMs não convenceu.

Nova intimidação e bate-boca

À tarde, o latoeiro, a mulher dele e o cunhado, Ederson Bento de Siqueira, 22 anos, procuraram a reportagem da Tribuna para denunciar os policiais, com medo de uma nova agressão. Pouco tempo depois de deixar a redação, Rene ligou novamente para o jornal, dizendo que os mesmos PMs retornaram à casa, junto com o proprietário e um caminhão de mudança. Quando a reportagem chegou no local indicado encontrou a mesma viatura e os policiais denunciados pelo latoeiro, além do proprietário do terreno. Os PMs negaram-se a conversar com a reportagem e ameaçaram processar o repórter fotográfico caso suas imagens fossem publicadas. O proprietário, chamado apenas por Mário, também negou-se a dar sua versão sobre os fatos e a fornecer seu sobrenome. “Eles iam colocar os móveis no caminhão e tirar a gente à força daqui”, contou Rene. Depois de muita discussão, o 2.º tenente Schimitz, do 12.º BPM, afirmou que os policiais só retornarão à casa se houver alguma ocorrência. “Recomendei que o proprietário procure a Justiça”, afirmou. Um outro policial militar que esteve no local, acionado pela central 190, afirmou que foi chamado para atender uma denúncia de tráfico de drogas, porém, no momento da denúncia os jovens não estavam na casa. “Nós passamos a tarde no 3.º Distrito Policial e depois fomos procurar a imprensa. Como é que estaríamos usando drogas?”, alegou a mulher de Rene.

Quanto à acusação de agressão, o comandante do 12.º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Mauro Pirolo, afirmou que já tomou conhecimento da situação e que serão feitos todos os procedimentos necessários para apurar os fatos.

Ameaças

Há cerca de um ano, Rene e a mulher, Cintia Bento Siqueira, 19 anos, foram morar na casa junto com os dois filhos, de 1 e 3 anos. Segundo eles, a residência estava abandonada e por isso pediram para o proprietário a permissão de ocupar o local. No início do mês de agosto, ele ordenou que o casal deixasse a casa, mas como eles não tinham para onde ir, disseram que iriam demorar para sair de lá. No dia 11 do mesmo mês ocorreu a primeira briga, quando Mário teria quebrado os vidros da residência e os móveis do casal. No dia 18, os mesmos policiais militares, soldado Marcos e sargento Mendes, teriam invadido a casa, por volta das 00h30, fazendo uma nova ameaça para que eles se retirassem. Por fim, no dia 27, Mário teria novamente entrado na casa, com dois homens encapuzados, ameaçando-os novamente. Todos esses casos foram registrados no 3.º Distrito Policial. De acordo com comentários de vizinhos, os PMs estariam agindo a mando do dono da casa, sem autorização legal e sem o conhecimento de seus superiores. “Quando a gente precisa mesmo de polícia, eles dizem que não têm viatura, falta pessoal. Mas para fazer uma barbaridade dessas, enche de polícia, como se não tivesse nada mais importante pra fazer”, comentou outro morador.

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