Foram ouvidos ontem pela Polícia Civil, em Curitiba, mais quatro pessoas detidas na operação Grande Empreitada, que vem investigando há cerca de dois anos envolvimento de empreiteiros, funcionários públicos e dirigentes da Associação Paranaense de Empresários de Obras Públicas (Apeop) em esquemas de fraude de licitações de obras públicas no Estado. Os acusados que prestaram depoimento ontem no Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) na capital foram Iverson Antônio da Cruz e Luís Antônio da Cruz, ambos da Construtora Marc.; Gilson João de Amorim, da Construtora De Amorim, e Lucídio Rocha Neto, um dos coordenadores da Apeop.
Hoje é a vez de alguns dos principais envolvidos serem interrogados pela polícia. São eles Emerson Gava, presidente da Apeop; Fernando Afonso Gaissler Moreira, vice-presidente da associação, e Carlos Henrique Machado, também da Apeop. De acordo com o delegado Miguel Stadler, que participa dos depoimentos, a polícia já fez contato com defensores de pessoas que têm prisão temporária decretada ainda não cumprida. "Pelo menos duas pessoas devem se apresentar", disse.
O delegado informou que também está sendo feita triagem na documentação apreendida. "Estamos procurando alguns documentos que chamaram atenção dos policiais durante a apreensão. Também foi concluído um exame pericial contábil em alguns documentos de grande importância para extensão do inquérito". Stadler informou ainda que não é descartada possibilidade de pedido de extensão de algumas das prisões.
Secretárias
Não apenas envolvidos diretamente nos casos estão sendo ouvidos, mas também secretárias de algumas empreiteiras citadas. Uma delas – Glaudiciane do Nascimento Andrade, que trabalhava para a Gaissler Engenharia – em depoimento na manhã de ontem confirmou que a empresa sabia que havia esquema de ganho de licitação por parte das empreiteiras envolvidas. Outra ex-secretária, esta da própria Apeop, teria dado à polícia fitas com gravações de reuniões da entidade com teor intrigante, ato que o advogado da associação, Rodrigo Rocha, considerou como vingança por sua demissão, há cerca de dois anos.
O delegado Sérgio Sirino, que coordena o Nurce e está à frente das investigações, confirmou que já há testemunhas sob proteção da Justiça.
Propina
A Polícia Civil também está juntando provas que indicam lavagem de dinheiro na Apeop para pagamento de propina a funcionários públicos, sob cunho de verba voltada a falsas entidades filantrópicas. Além da Prefeitura de Curitiba, entidades públicas como a Sanepar e o DER foram citadas nas declarações. Quanto ao teor das mesmas, o delegado afirmou ser sigiloso. "Existem evidências gravíssimas de enriquecimento ilícito", revelou. A Sanepar foi envolvida a partir do levantamento de documentos que relatam pagamento de R$ 10 mil em propina para funcionários da estatal que, em troca, forneceriam à associação nomes de empresas compradoras de editais de licitações. Já o DER aparece nas interceptações telefônicas, divulgadas pela polícia, vinculado a um alto valor que daria ao departamento capacidade de "movimentar" obras não previstas em orçamento: "Liberou R$ 32 milhões que deu ao DER uma certa liberdade de movimentar (…) em obras que não estavam contempladas no orçamento. Na minha visão, essas obras já estavam relacionadas, só que eles estão comunicando algumas empresas, que imaginavam que suas obras estavam lá dentro, que não vai sair a obra deles. Tentei falar com o Paulinho agora à tarde pra ver que tipo de modificação ocorreu, mas ele não estava no DER (…). Isso frustra, porque todas as pessoas que estavam naquela lista sabiam que estavam lá", diziam as gravações.
Apeop
"Amanhã – hoje – começa a sequência de depoimentos relacionados à estrutura da Apeop", adiantou Sirino. De acordo com o delegado, a peça-chave das investigações deve ser o vice-presidente da associação, Fernando Afonso Gaissler Moreira, que é também dirigente da Gaissler Moreira Engenharia Civil, a empresa citada pela secretária Glaudiciane Andrade no depoimento de ontem. De acordo com Paulo Alarcon, advogado que defende o acusado Lucídio Rocha Neto, nada do que foi perguntado no interrogatório poderia incriminá-lo. Os advogados de defesa que impetraram habeas corpus para tentar liberdade de seus clientes. O desembargador Otto Sponholz se declarou impossibilitado de julgar a questão por conhecer um dos acusados. Foi determinado ontem que o desembargador Fábio Dalavechia será o novo relator.