Um amontoado de 71 presos, vivendo em condições subumanas, tornou a carceragem da delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, um verdadeiro depósito humano. Ontem, o presidente da comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, José Domingos Scarpelini, vistoriou o local e, alarmado com a situação, solicitou a interdição imediata da delegacia.
O fato de um detento ter perdido a visão esta semana, em decorrência de uma picada de aranha-marrom, foi o estopim do caos que impera em Colombo. Além do surto do inseto, que teria provocado a amputação do dedo de um outro preso, os detentos sofrem com um problema que se tornou comum no sistema carcerário: a superlotação. A delegacia do Alto Maracanã, que atende parte do município e apresenta um dos maiores índices de violência da Região Metropolitana, foi construída para abrigar 16 presos. Porém, atualmente comporta quase cinco vezes mais que sua capacidade. "Destes 71 homens, três são menores de idade que estão recolhidos junto aos demais. Entre eles há muitos condenados que já deveriam ter sido transferidos ao sistema penitenciário", diz Scarpelini.
Para abrigar todos os detentos, 40 estão divididos em quatro celas e os outros 30 vivem no solário improvisado, cujo teto foi coberto com uma lona plástica. Na cela provisória, todos compartilham um único banheiro. "Quando chove, eles se amontoam no canto para escapar das goteiras, que sempre alagam o local. A situação é decadente, como se estivéssemos vivendo na época medieval", indigna-se o presidente da comissão.
Segundo Scarpelini, o fato dos presos estarem sujeitos a tomar chuva, e de nenhuma providência ser tomada, pode propiciar o surgimento de um surto de tuberculose. A situação ainda é agravada pela insalubridade e a falta de higiene, uma vez que os detentos passam a maior parte do tempo deitados sobre os colchões dispersos pelo chão. Mediante a situação, Scarpelini pediu a interdição da delegacia, solicitando a remoção urgente dos presos e o não recebimento de outros criminosos. O pedido foi encaminhado à Secretaria Estadual de Segurança Pública, à Secretaria Estadual da Justiça, ao juiz e ao promotor de Colombo.
"O que se vê na delegacia do Alto Maracanã é um quadro degradante. O local virou uma sementeira de criminosos que não possibilita nem a ressocialização nem a educação dos homens, e sim os estimula à prática de crimes", finalizou o presidente da comissão, que desde fevereiro já vistoriou 30 unidades prisionais no Estado, conseguindo a recente interdição da Cadeia Pública de Paranaguá, em decorrência de um surto de tuberculose ocorrido em abril.
"Descaso da polícia", acusa deputado
Depois de vistoriar a delegacia do Alto Maracanã, Colombo, e conversar com os presos, o presidente da comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, José Domingos Scarpelini, afirmou que os detentos também estão sendo vítimas do descaso da polícia. Segundo ele, o indivíduo que foi medicado no sábado, depois de ter sido picado pela aranha-marrom, estaria queixando-se há vários dias, sem receber atendimento médico. "Ele só foi socorrido quando os policiais perceberam que o caso era grave", disse Scarpelini.
O superintendente da delegacia local, Valdir de Córdova Bicudo, rebate a acusação, afirmando que foi avisado do caso na sexta-feira à noite, e que no sábado já providenciou atendimento médico. "Ele foi picado no dia que fui comunicado e na segunda-feira foi encaminhado ao Complexo Médico Penal", justificou-se, negando outros casos de picada de aranha na carceragem da delegacia. Porém, familiares dos presos afirmam que um outro detento foi picado e chegou a perder parte do dedo em decorrência do veneno.
Segundo Bicudo, esta semana duas enfermeiras da Secretaria de Saúde de Colombo foram até a delegacia para instruir os presos a agir no combate ao inseto.