DH ganha fôlego novo para elucidar crimes

Até a semana passada a Delegacia de Homicídios vivia uma situação caótica. Considerada a mais importante da Polícia Civil, por tratar exclusivamente de crimes contra a vida, ela estava sendo apontada como uma unidade falida, com pilhas de inquéritos se amontoando pelos cantos, que não podiam ser investigados por falta de pessoal. O descaso fazia aumentar o triste rol dos crimes insolúveis. O efetivo insuficiente para atender a demanda, estava obrigando policiais cansados de tanto trabalhar, a conviver com o fantasma da improdutividade e a pecha da inconpetência.

É certo que as dificuldades ainda permanecem, mas agora o que se percebe é que especializada ganha fôlego novo e que a situação pode começar a mudar. Na última quinta-feira o delegado Luiz Alberto Cartaxo Moura assumiu a chefia da delegacia e, com isso, novos projetos começaram a ser formulados. A expectativa é de que, até o fim do ano, a especializada se transforme em uma Divisão de Homicídios e passe, finalmente, a priorizar as investigações ao maior bem de uma pessoa: a vida.

Mudanças

De acordo com o delegado Cartaxo, que já esteve à frente desta delegacia em outros tempos, as primeiras mudanças já foram feitas. Pelo menos um escrivão e outros cinco investigadores foram destacados para melhorar o efetivo. A expectativa é de que em curto espaço de tempo a delegacia passe a contar com 30 investigadores, seis escrivães e três delegados. Já estão atuando na Homicídios, além do titular, os delegados Átila da Rold Roesler e Jaime da Luz. “A princípio, esse número é suficiente, mas com a criação da Divisão de Homicídios certamente será necessário mais gente”, afirmou o Cartaxo. Além do pessoal, duas novas viaturas foram requisitadas, totalizando 14 carros para as investigações. Hoje, a delegacia conta com 12 veículos, mas seis apresentam problemas e deverão ser trocados no próximo mês.

Investigação

O processo de investigação também começou a ser reformulado. A ordem agora é que os policiais compareçam em todos os locais de crime. “Uma equipe de plantão é destacada para ir até onde aconteceu o homicídio e, dependendo da ocorrência, é acionada uma equipe de investigação para dar apoio. Quando necessário, um dos delegados também será deslocado. As equipes de plantão começam, então, a trabalhar em conjunto com as equipes de investigação, e com isso as chances do sucesso na elucidação dos crimes aumentam de forma vertiginosa”, contou, o experiente policial.

Além disso, o delegado também promete mudança na forma de averiguação do local, implantando uma nova forma de “isolamento da área do homicídio”. Cartaxo, que já trabalhou como perito criminal no Instituto de Criminalística do Paraná, afirma que o local de crime precisa ser devidamente isolado para que mantenha as características originais e com isso possa fornecer pistas para elucidação do assassinato. “Os policiais que modificarem o local, andando por onde não devem ou alterando qualquer peça do cenário serão severamente responsabilizados, pois o local de morte significa 80% da investigação”, explica ele.

Divisão deverá ser criada

Além das primeiras mudança que já começaram a ser feitas, o delegado Luiz Alberto Cartaxo Moura afirma que um novo projeto deve mudar definitivamente o rumo da Delegacia de Homicídios. Elaborado em duas fases, ele está previsto para ser implantado até o final desse ano e aprimorado de forma gradativa. A idéia conta com o apoio da Secretaria de Segurança Pública e do governo do Estado.

Na primeira fase, que já está começando a ser implantada, está prevista a revitalização total da especializada. Um dos objetivos é mudar a filosofia de investigação, realizando parcerias e estreitando os trabalhos com os peritos do Instituto de Criminalística, principalmente com os papiloscopistas (profissionais responsáveis pela coleta das impressões digitais nos locais de crime). O delegado também pretende reciclar os policiais. “Iremos realizar cursos internos aos investigadores, disponibilizando conhecimentos técnicos através de profissionais vindos de fora”, afirmou o delegado.

Divisão

Na próxima fase, que tende ser mais complexa, será criada a Divisão de Homicídios. Em um novo prédio, quatro delegacias deverão se concentrar para tratar exclusivamente de crimes contra a vida, são elas: Delegacia de Homicídios de Curitiba, de Homicídios da Região Metropolitana, de Crimes Hediondos e de Crimes Profissionais e de Acidentes de Trabalho. “Hoje a Delegacia de Furtos e Roubos de Curitiba é a responsável pela investigação de roubos seguidos de morte, como se o bem maior fosse o roubo e não a vida. Assim como os erros médicos, que são investigados pelos distritos locais. Por isso vamos centralizar todos os crimes envolvendo morte em um único lugar”, disse Cartaxo.

A Divisão também contará com um núcleo de informações interligado com o Serviço de Informações da Secretaria de Segurança Pública (Sisesp), onde será feita a triagem, averiguação e distribuição das denúncias passadas pelo telefone, às equipes de investigação. Quanto ao efetivo necessário para atender à demanda das quatro delegacias centralizadas, Cartaxo acredita que serão necessários cerca de 70 policiais, entre delegados, escrivães e investigadores. “Certamente até o final desse ano a Divisão de Homicídios já estará funcionando, mas para isso, será preciso esperar a liberação do novo prédio e a chegada de novos policiais civis que se formarão em agosto. Porém, para que o projeto seja realizado de forma integral é necessário tempo”, finalizou Cartaxo.

Dificuldade na DH é rotina

Um homicídio ocorrido às 19h de ontem, na Vila Barigüi II, Cidade Industrial de Curitiba, é a mostra das muitas dificuldades que serão enfrentadas pela nova direção da Delegacia de Homicídios, para tentar implantar novas normas de conduta durante a investigação dos casos. Um rapaz identificado como Leandro Gomes Pinto, 21 anos, foi alvejado por seis tiros nas costas e ficou agonizando na Rua Luiz Cardoso. O autor dos disparos fugiu. Policiais militares do 13.º Batalhão e socorristas do Siate compareceram para prestar atendimento à ocorrência, mas não conseguiram isolar o local, devido ao tumulto e aos ânimos exaltados dos moradores. Para evitar uma confusão generalizada, a vítima – que morreu em seguida – foi colocada na ambulância e levada para o Hospital do Trabalhador. Poucas informações foram obtidas pela PM sobre o acontecido, o que deve atrapalhar a investigação.

Revolta

O clima de revolta da população aumentou com a crescente onda de violência na região. Na tarde de domingo, o pedreiro Oziel Ramos, 30, foi executado quando passeava com a mulher, Marta, na movimentada esquina das ruas Algacyr Munhoz Maeder e Desembargador Cid Campêlo. As razões dos disparos ainda são desconhecidas. Dois homens se aproximaram da vítima, em uma moto, e efetuaram os tiros. Cinco deles atingiram o pedreiro na cabeça, peito e barriga. Um dos tiros acertou também Marta, na mão. Ela foi encaminhada pelo Siate ao Hospital do Trabalhador.

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