Dez anos depois de ter seu Santana Quantum furtado no município de Tatuí (SP), na semana passada, o proprietário recebeu a notícia de que seu carro havia sido encontrado em Curitiba. Há cinco anos, o veículo estava misturado aos outros 400 automóveis ?sem dono? que ocupam o pátio da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV). Segundo o delegado Itiro Hashitani, titular da delegacia, são vários fatores que fazem aumentar, a cada dia, o número de carros no pátio, mas o principal deles é que dificilmente a polícia consegue chegar até o proprietário.
De acordo com o delegado, hoje, a DFRV abriga cerca de 180 motos e 400 automóveis -a maioria deles de outros estados, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro. De acordo com Itiro, muitos carros estão com sinais identificadores adulterados, o que impede a descoberta do verdadeiro dono.
?Os marginais roubam ou furtam o veículo e inserem nele sinais identificadores, como chassi, de um carro igual e que está regular. Assim ?esquentam? o roubado e o vendem.
O comprador circula anos com o automóvel sem saber da procedência ilícita, mas quando é abordado em uma blitz ou faz a vistoria no Detran descobre que seu carro está todo remarcado?, descreveu o delegado.
Dureza
Quando isso acontece o veículo é encaminhado à delegacia e a missão é descobrir o verdadeiro dono. No caso do Santana, Itiro explica que havia dois sinais identificadores intactos. A partir deles, a polícia solicitou à fábrica o chassi original. Com o número em mãos, descobriu que o boletim de ocorrência do furto tinha sido feito em Tatuí.
Nos casos em que todos os sinais são adulterados é praticamente impossível chegar até o dono. ?Certa vez encontramos a nota fiscal de uma carga atrás do banco de um caminhão com os dados originais do veículo e o nome do proprietário. Por causa disso conseguimos encontrar a vítima?, disse o delegado.
Outro problema enfrentado é que com o passar dos anos as vítimas mudam de endereço e telefone e dessa forma, por mais que a polícia encontre a delegacia onde foi feito o boletim de ocorrência, não consegue entrar em contato com o dono do carro. ?Têm carros que estão aqui há quase 20 anos. Temos desde Fusca e Brasília até veículos importados?, completou o delegado.
Velho demais pra voltar pra casa
Depois de tanto trabalho para localizar o proprietário do veículo, a polícia ainda enfrenta outro problema: os carros estão tão velhos que nem os donos os querem. Muitas pessoas que recebem a notícia de que seu carro foi encontrado anos depois de ter sido roubado se negam a buscá-lo, uma vez que irão gastar mais com o guincho do que ganhariam se o vendessem. ?Porém, existem outras pessoas, cujos carros estão mais conservados, que ficam muito felizes?, contou Itiro.
Para evitar essa dor de cabeça, somada ao prejuízo material, o delegado alerta que o ideal é comprar automóveis apenas em concessionárias ou lojas tradicionais. Ele também recomenda que, antes de confirmar a compra, a pessoa o leve a um mecânico de confiança para garantir que o veículo não está remarcado. ?Por fim, a dica é fazer uma marca pessoal no veículo, como colar um adesivo ou fazer um sinal na pintura em local reservado. Pode ser a única maneira de provar quem é o verdadeiro dono?, finalizou o delgado.