Desde menina, quando tinha 12 anos, A. se prostituía na região do Jardim Botânico, próximo à Vila das Torres. Agora, aos 16, ela é soropositiva (HIV), dependente química e continua a fazer programas na mesma região. Já não mora mais com a mãe, mas com uma amiga da mesma idade, na mesma favela que a mãe. Por 15 vezes já foi retirada da “situação de risco”. Em uma delas, há 30 dias, flagrada fazendo sexo oral com um cliente. A garota é abrigada em instituições, mas não é detida e volta à sua rotina, a única que seguiu em sua vida.
Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, menores como ela são consideradas vítimas de quem as procura para sexo, embora possam votar nessa idade. Na noite de quarta-feira, A. foi pega dentro de um Gol com um assistente financeiro, de 29 anos, casado, pai de duas meninas, de 9 e 5 anos, e futuro pai de um bebê que está para nascer. Os dois estavam na Rua Padre Francisco João de Azevedo, que faz parte do conjunto de ruas conhecido pela freqüência de homens de classe média que procuram sexo com adolescentes.
“Secando gelo”
A menina já vinha sendo monitorada por uma equipe, coordenada pelo tenente Vianei, do Comando de Policiamento da Capital, e composta por órgãos de proteção ao menor e de segurança pública. Foi essa equipe que, incansavelmente, retirou e voltou a retirar a garota da rua e a recolheu na noite de quarta-feira.
Agora, mais uma vez, ela será encaminhada para tratamento de desintoxicação, que deve durar cerca de 15 dias, conforme informou a conselheira tutelar Maurina Carvalho da Silva. Isso se a adolescente não fugir antes. Mas uma certeza se tem, a adolescente voltará a fazer o que sempre fez, segundo suas próprias declarações. É como secar gelo”, deixou escapar Maurina, que mantém a esperança na recuperação dos adolescentes que ajuda.
Segurança
O homem detido com a menor foi encaminhado ao 3.º Distrito Policial (Mercês) e está sujeito a pena de 4 a 10 anos de reclusão por “submissão de menor”, de acordo com o estatuto, já que adolescentes são considerados incapazes e com a “mente em formação”. “Nosso objetivo é desestimular a clientela dessas meninas e garantir a segurança na região”, comentou o tenente Vianei. Esses clientes, segundo o policial, em sua maioria são homens de classe média, com emprego e família, que freqüentam os locais de carro.
Segundo ele, em Curitiba há três focos de prostituição infanto-juvenil. Um, talvez o mais famoso, é a área onde a adolescente foi recolhida, outro é na Rua Brigadeiro Franco, próximo à favela do Parolin, e o terceiro o tenente não quis divulgar, pois lá uma operação surpresa está prevista.
Social
Até o ano passado, trabalhos intensos eram feitos em boates para coibir a exploração sexual de menores. “Retiramos 26 adolescentes desses estabelecimentos”, registrou. Neste ano, foram apenas duas encontradas em boates. Com a operação Paraná contra o Crime – Polícia na Rua, deflagrada pela Secretaria da Segurança Pública no mês passado, o foco do trabalho foi direcionado às vias públicas. “Há um traço comum a essas meninas, elas são portadoras de doenças venéreas, muitas do vírus da aids, e vêm de famílias desestruturadas, moradoras em áreas pobres”, disse.
A garota recolhida na quarta-feira está nesse perfil. Pelas suas poucas declarações, seu pai morreu de derrame e sua mãe mora em outra casa na Vila das Torres. Ela não estuda e disse nunca ter sentido prazer nos atos sexuais. O dinheiro que arrecada, e que não quis revelar quanto, é para seu sustento. A adolescente admitiu ser usuária de drogas e afirmou não estar infectada pelo vírus da aids. “Não, nunca me apaixonei. Nesse caso eu mato e roubo”, respondeu à pergunta sobre o amor.