Descaso inicial da polícia com a morte de Giovanna

Giovanna adorava brincar com Natália, um ano mais nova, que morava na frente de sua casa e era coleguinha de escola. Passava as tardes na casa dela e, como sua mãe – Cristina Aparecida Costa – conhecia muito bem os vizinhos, não se preocupava. Sempre, no final da tarde, ela estava em casa. Uma semana antes de ser morta, Giovanna demonstrou estar triste e confidenciou à amiguinha que estava com medo de morrer. A avó de Natália, Araci Jane Cordeiro Milioti, 66 anos, ouviu a conversa, mas não deu importância. Só muito tempo depois lembrou daquela cena, e agora a revelou com exclusividade para a Tribuna na Justiça. Cristina confirmou que a menina tinha aparentado um ar de tristeza, mas não reclamou de nada. "Achei que era porque a proibi de pegar novas rifas para vender", contou. Talvez Giovanna já estivesse sendo molestada ou ameaçada pelo assassino, mas não contou a ninguém.

Naquele 10 de abril de 2006, todos achavam que Giovanna estava na casa de Natália. A mãe chamou os dois filhos mais velhos e pediu que fossem buscá-la. Lucas, de 10 anos, e Jéssica, de 12, foram até a vizinha, do outro lado da rua, mas a irmã não estava. Por volta das 19h30, o pai de Giovanna – Altevir Costa – chegou do trabalho. Marido e mulher procuraram a filha nas casas próximas e as tentativas foram em vão.

Arquivo
Cristina, saudade sem fim.

A angústia deu lugar ao desespero. Em pouco tempo uma rede de solidariedade se formou. Vizinhos, amigos e parentes se dividiram em grupos e fizeram uma varredura pelas ruas do Jardim Patrícia. Conforme passavam as horas, aumentava o pânico.

Às 22h30, Altevir foi até a delegacia de Quatro Barras pedir ajuda, mas encontrou as portas fechadas. Correu para o módulo da Polícia Militar e, mais uma decepção. Os PMs disseram que não poderiam ajudá-lo porque atendiam outra ocorrência e que era preciso completar 24 horas do desaparecimento para registrar a queixa (por lei, a autoridade policial é obrigada a registrar a queixa de sumiço de criança imediatamente). A ajuda dos policiais resumiu-se a anotar o nome da criança no cantinho da página de um jornal, que estava sobre a mesa. Entre irritado e indignado com o descaso, Altevir retomou as buscas.

Na manhã seguinte, sem saber a quem recorrer, o pai apanhou a lista telefônica e viu o número do Serviço de Investigação de Criança Desaparecida (Sicride), para onde foi, levando uma foto da filha. Em pouco tempo cartazes com a foto da criança já estavam sendo distribuídos pelas ruas de Quatro Barras e entregues para a imprensa.

Cristina, enquanto isso, foi levada por uma vizinha à delegacia do município, para registrar queixa. A delegada Margareth Alferes Mota passou a participar das buscas. Tudo foi vasculhado, inclusive o vizinho Jardim Menino Deus, para traçar o itinerário de Giovanna. Começaram a surgir suspeitos: homens que moravam sozinhos; moradores recentes, jovens com antecedentes criminais.

Por volta das 4h30 do dia 12, madrugada fria, foi feita uma pausa nas buscas. Duas horas depois Altevir retornou às ruas, acompanhado do irmão. Por volta das 13h, passou novamente pela Rua José Rodrigues Fortes, a duas quadras de onde morava. Havia perdido as contas de quantas vezes circulou por ali, chamando pela filha. Avistou viaturas da polícia e pessoas aglomeradas no terreno baldio. Sua esperança chegava ao fim. Giovana estava morta.

Buscas encerradas. Começava a caçada ao assassino.

Quadrilátero do crime

As ruas do Jardim Patrícia nunca ofereceram perigo às crianças. Era comum vê-las andando sozinhas, de casa em casa, para brincar com amigos. Assim era a rotina de Giovanna e dos irmãos dela. Lucas, de 11 anos, era seu companheiro. Sempre estavam juntos pela vizinhança. Entretanto, no dia que Giovanna desapareceu, ele não a acompanhou. Era a oportunidade que o assassino esperava.

A menina tinha chegado da escola e, ainda vestindo o uniforme, foi ao mercadinho Bom Sucesso, na Rua 25 de Janeiro, comprar iogurte. Saiu de casa, na Rua Virgínia Ferrarine Sbrissia, e entrou por um carreiro cruzando o terreno baldio que ladeava sua moradia, para sair na rua paralela, a Agnelo Florêncio Ribeiro. Aproveitou o caminho para vender rifas.

Por volta das 15h30, voltou para casa, trocou de roupa e saiu novamente. Uma hora depois, voltou pela Rua Agnelo Florêncio Ribeiro, supostamente para cortar caminho pelo terreno baldio e chegar em casa. A última pessoa que a viu foi Wilson José dos Santos, que naquela tarde lavava o muro de sua casa. Ele não comprou a rifa, mas notou que a garota seguiu para o final da rua. Num trajeto de menos de 100 metros, ela sumiu.

Dois dias depois, foi encontrada morta na Rua José Rodrigues Fortes. Tinha percorrido apenas a rua de sua residência e a paralela. O fato de seu corpo ter sido deixado a duas quadras de onde morava, levou a polícia a crer que ela foi morta em uma das casas destas duas ruas, restringindo as investigações a um quadrilátero. A polícia sabia por onde deveria começar a trabalhar.

Na edição de amanhã, o leitor saberá como as suspeitas recaíram sobre os ciganos. Aguarde!

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