O delegado Edson Costa, acusado de envolvimento numa rede de pedofilia associada a extorsões, não compareceu ao interrogatório marcado para as 16h30 de ontem, na 9.ª Vara Criminal. Advogados de diversos acusados, entre eles Juarez Mowka (defensor de Costa), aguardaram até às 17h, quando encerrou o período previsto pela lei eleitoral, que não admite prisões.
Mowka disse que apresentou o seu cliente à Justiça três vezes na semana passada e, ontem pela manhã, obteve a informação de que o interrogatório estava marcado. ?Na quarta-feira, trouxe-o aqui. Na quinta-feira, retornamos e peticionei para que meu cliente fosse interrogado. Na sexta-feira, tentamos novamente?, lamentou o advogado. ?Desconheço as razões por que ele não compareceu.?
Versão
O defensor adiantou que Edson pretendia demonstrar, em seu interrogatório, sua inocência, por meio de um dossiê. ?Meu cliente foi acusado de forma severa pela mídia e pela sociedade?, salientou. Mowka disse que o que aconteceu no 4.º Distrito Policial (São Lourenço), onde seu cliente exercia a função de delegado, foi isolado. Edson é acusado de tentar extorquir um empresário, para não autuá-lo pelo crime de pedofilia. ?O flagrante foi feito e o inquérito remetido à Vara de Inquéritos?, disse. Para o advogado, os documentos provam que seu cliente fez o que manda a lei.
Quanto ao fato de o delegado estar foragido, o defensor comentou que seu cliente foi preso e, após ter sua prisão relaxada, tirou férias, para escapar da exposição da mídia, já que Costa foi o único acusado a aparecer em público para se defender. ?Ele ficou fora e neste período teve a prisão decretada. Tanto o Edson como eu não sabíamos da revogação da liminar que concedeu a liberdade a ele?, justificou Mowka. Quanto ao salário que Edson recebe como delegado, o advogado disse que os dias estão sendo descontados e seu cliente não está tendo rendimentos neste período.
Oportunidade
Como haverá segundo turno nas eleições para presidente da república e governador, Edson Costa em breve terá outra oportunidade de se apresentar à Justiça sem que receba voz de prisão após o interrogatório. Como determina a lei eleitoral, ninguém pode ser preso cinco dias antes e 48 horas após as eleições. Neste período, Costa deverá reaparecer para dar sua versão dos fatos à Justiça, já que só foi interrogado na fase do inquérito policial, realizado pela Corregedoria da Polícia Civil.
Armadilha pra pedófilos
Segundo a denúncia oferecida pelo Ministério Público, em 26 de junho, Luciana Polerá Correia Cardoso, 21 anos, mantinha uma agência de acompanhantes e um cliente, que não foi identificado nas investigações, solicitou uma adolescente para um programa sexual. Luciana comentou o pedido com uma mulher, que teria sugerido a idéia de envolver policiais num ?esquema? para extorquir pedófilos.
A armação teria sido colocada em prática no início do ano passado, por Luciana, seu tio Lincoln Lima dos Santos, 43 – que foi policial militar -, a secretária de Luciana, Bruna Fernanda dos Santos, 20; e policiais lotados no 7.º Distrito Policial (Vila Hauer). Depois, se estendeu para o 12.º DP (Santa Felicidade) e 4.º DP (São Lourenço).
Em abril deste ano, o esquema foi descoberto, após os policiais tentarem extorquir um empresário, que se negou a pagar o valor pedido e denunciou os policiais do 4.º DP, entre eles o delegado Edson Costa. A maioria dos acusados é de policiais, e continuam presos.