Delegado no veneno

Delegado investigado faz duras críticas à atuação do Gaeco

Na contramão de toda a classe policial, o delegado Gerson Machado, de Quatro Barras, se manifestou a favor a Proposta de Emenda à Constituição 37, que tira do Ministério Público (MP) o poder de investigação. No entanto, ele fez duras críticas ao Grupo Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço investigativo do MP, que o prendeu no mês passado por suspeita de extorsão e de receber propina.

No ponto de vista de Machado, se o Gaeco quer investigar deve ter estrutura própria e não usar os policiais e materiais da Polícia Civil. “Venha aqui na delegacia de Quatro Barras ver a falta de condições de trabalho. Tanto aqui quanto em Campina Grande do Sul, onde fiquei por meses, há vários inquéritos parados porque não há condições materiais e humanas de tocá-los em frente”, reclamou. “Por que o Gaeco não vem aqui e me ajuda a batalhar por mais condições, em vez de usar nossos policiais pra fazer o trabalho deles? Eles usam toda a nossa estrutura e ainda esculhambam os policiais e denigrem a imagem da polícia como fizeram comigo”, declarou em entrevista exclusiva ao Paraná Online.

Investigação

Machado afirmou que policial que faz coisa errada tem que ser preso, mas questionou: quem investiga o Gaeco?

O delegado Gerson Machado foi preso suspeito de extorsões e propinas na época em que ele era titular da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV). “Eu não sou bandido”, afirmou Machado, que até hoje não entende como as investigações se voltaram contra ele. O delegado conta que, na DFRV, investigou e prendeu muita gente envolvida com roubos e desmanches de carros: 173 pessoas presas em flagrante, outras 11 diretamente envolvidas com desmanches, além de outras 258 indiciadas.

Denúncia

“O meu trabalho desagradou muita gente. Por isto pediram a minha transferência de lá”, disse o delegado, explicando que, quando estava no 6º Distrito Policial, recebeu a “visita” de um ladrão que trabalhava para um dos maiores receptadores de veículos do Paraná, suspeito de vários homicídios em Curitiba, Araucária e Campo Largo. “Ele matou um monte de gente e está solto. Eu que trabalhei sério fui tratado como bandido e preso”, esbravejou.

Inversão

O ladrão, que estava nervoso por um desacerto com o receptador e quase foi morto por ele, decidiu procurar Machado para contar tudo o que sabia sobre o bandidão, que o delegado prendeu e indiciou em vários inquéritos na DFRV. O delegado tomou o depoimento do ladrão e mandou as cópias a setores da polícia e do Ministério Público n para providências, inclusive o Gaeco, onde o assaltante foi interrogado novamente pelos promotores.

“Acabei preso porque eu tinha duas armas irregulares na minha casa, que eu ganhei de presente há muitos anos, usava em serviço e, por besteira, nunca as registrei. Isso sim estava errado”, admitiu. Ele se diz enojado e decepcionado com a Polícia Civil e que, no momento certo, pedirá a aposentadoria, sem olhar para trás.