O policial civil Délcio Razera se apresentou ontem, no final do expediente judiciário, à Comarca de Campo Largo e foi encaminhado por policiais do Comando de Operações Policiais Especiais (Cope) para a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV), em Curitiba. Ele havia sido solto ilegalmente na véspera do Natal por uma falha do cartório judicial, que não comunicou à Vara de Execuções Penais (VEP) sobre o mandado de prisão preventiva.
Ontem mesmo o advogado de Razera, Luiz Fernando Comegno, apresentou mais um pedido de habeas corpus ao juiz Gaspar Luiz Mattos de Araújo, que cuida do processo de escutas telefônicas ilegais e formação de quadrilha do qual o policial é acusado no fórum de Campo Largo. No entanto, outro pedido de soltura deve ser julgado hoje no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Ao chegar à DFRV, onde deverá ficar preso, Délcio Razera não quis falar com a imprensa, mas Comegno esclareceu a situação do policial civil. ?Houve uma sucessão de falhas do Poder Judiciário. Quando ele foi solto, achei que fosse devido a uma liminar do STJ (que ainda não foi julgada). Quando percebemos o equívoco, optamos pela reapresentação. Aqui ele está, de volta ao lugar de onde não deveria ter saído.?
Comegno disse que seu cliente não poderia ser considerado um foragido, visto que foi solto por determinação da Justiça. ?O erro foi da vara de Campo Largo, que não comunicou a polícia sobre o outro mandado. O delegado não podia fazer nada além de liberá-lo. Ele não era um foragido?, reforçou. ?Agora a confusão está desfeita: ele está preso até que tenhamos uma decisão sobre o pedido de habeas corpus?, disse o advogado, informando que, nesses seis dias de liberdade, Razera passou a maior parte do tempo com a família, em Curitiba, mas fez uma viagem até Aparecida (SP) para cumprir uma promessa.
O delegado Ronald de Jesus, responsável pela delegacia no momento da apresentação, disse que Razera ficará preso numa cela comum, numa ala especial da carceragem destinada a policiais civis presos. Razera dividirá o espaço com outros 12 policiais e não receberá qualquer tratamento especial. ?Ele é um preso como outro qualquer?, destacou.
Sem habeas
Razera conseguiu passar o Natal com a família, mas parece que durante o ano-novo terá que ficar na prisão. O juiz Mattos de Araújo não pretende atender o pedido de habeas corpus apresentado ontem pelo advogado do acusado. No entanto, existe a possibilidade de o STJ atender outro pedido, que pode ser julgado hoje. O advogado de Razera entrou com o pedido junto ao STJ no dia 20, último dia de trabalho do tribunal antes do recesso forense. No entanto, o presidente do órgão, ministro Raphael de Barros Monteiro Filho, que segue trabalhando em regime de plantão, requisitou o processo às 16h43 de ontem.
Razera foi solto ilegalmente da DFRV no dia 22 de dezembro por uma confusão da justiça. O cartório judicial da Comarca de Campo Largo não comunicou a Vara de Execuções Penais (VEP) sobre o mandado de prisão preventiva. Razera conseguiu a liberdade devido a um alvará de soltura emitido pela 5.ª Vara de Criminal de Curitiba, onde responde a outro processo por porte ilegal de armas. O ordem de soltura foi enviada para a VEP e como lá não constava mais nada contra o policial, ele ganhou a liberdade.
Quando foi detido, estava trabalhando na Casa Civil do governo do Estado e se apresentava como assessor do governador Roberto Requião. Ele é acusado de fazer escutas telefônicas contra políticos, empresários e membros do judiciário. A Assembléia Legislativa também instaurou uma CPI para apurar o caso, mas esta durou menos de 20 dias e não chegou a nenhuma conclusão. Segundo Mattos de Araújo, o fato de Razera ter sido solto não vai prejudicar o andamento do processo, que já está terminando a fase de instrução.
