A sessão de hoje no Tribunal do Júri terá uma atração especial. O advogado encarregado da defesa do réu é deficiente visual e fará todo o trabalho sozinho. É a terceira vez que o advogado Luiz César Trevisan, 34 anos, 100% deficiente visual, sobe ao plenário para atuar em um julgamento. Da primeira vez, no ano passado, ele contou com a ajuda de um colega, mas já a partir da segunda defesa passou a cuidar sozinho dos casos.
Trevisan fará a defesa do réu Denilson Borges Pereira, 29 anos, acusado de tentativa de homicídio. Em 26 de abril de 1997, Denilson disparou um tiro contra Eliton Cania, na época com 22 anos, depois de discussão em frente a um bar no bairro Uberaba. Denilson, que estava com um grupo de amigos, havia se dirigido a uma garota de 14 anos. Eliton saiu na defesa da jovem e deu um soco na boca de Denilson, que voltou para o bar e pegou uma arma para enfrentar o opositor.
Em conseqüência do tiro, Eliton ficou paraplégico (sem movimentos da cintura para baixo).
Trevisan, que ficou cego aos 20 anos em conseqüência de toxoplasmose (doença adquirida de um gato), trabalha com um computador que tem programa de sintetizador de voz. Além disso, para acompanhar os autos do processo, ele conta com a ajuda de uma secretária, que faz para ele as primeiras leituras dos autos. O advogado escaneia e imprime em braille as partes principais do processo para poder trabalhar na defesa.
Ele conta que leva uma vida normal. É casado, tem uma filha e atua também como advogado do Instituto Paranaense de Cegos. Formado há seis anos, Trevisan diz que “antes de ser cego, sou advogado”, e que trabalha para se estabelecer no ramo “pela competência”, buscando sempre se manter atualizado em cursos e palestras.