Quando fechava sua lanchonete, anteontem à noite no cruzamento das ruas Regente Feijó e Gerônimo Albuquerque, no centro de Itaperuçu – Região Metropolitana de Curitiba -, o comerciante Luiz Motim, 56 anos, foi assassinado com dois tiros no peito. Os autores, dois adolescentes de 15 e 16 anos, foram presos logo após o latrocínio e confessaram o crime. Um deles foi baleado na perna durante o roubo, em um disparo acidental efetuado pelo comparsa.
O superintendente Clério Polaquini Filho, da Delegacia de Rio Branco do Sul, que atendeu o caso, apurou que o comerciante estava fechando o estabelecimento, onde vendia doces, salgados e sorvetes desde que se aposentou como mecânico de manutenção. De repente entraram os criminosos, um deles com a arma em punho, e anunciaram o roubo. O comerciante teria dito que poderiam levar tudo, até que um dos indivíduos pegou sua esposa como refém e apontou a arma para a cabeça da mulher. Neste momento, Luiz apanhou um banco e tentou defender a mulher, mas foi mortalmente baleado. O ladrão de 16 anos, não titubeou e deu dois tiros no peito de Luiz, que tombou morto junto ao balcão. Durante a confusão, o assaltante também baleou seu próprio cúmplice. Ambos acabaram fugindo sem nada levar.
Detenção
Pouco depois o assaltante de 15 anos, que estava desarmado, foi detido pela própria população. Os vizinhos escutaram os disparos e, ao perceberem o que estava acontecendo, correram atrás do menor e o detiveram, entregando-o à polícia. Policiais da Delegacia de Rio Branco do Sul, junto com os únicos dois policiais militares da região, conseguiram, mais tarde, apreender o outro assaltante, de 16 anos.
Eles foram levados à Delegacia de Rio Branco do Sul e autuados por prática de ato infracional -homicídio. Após interrogados em um procedimento nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca), foram conduzidos à Delegacia do Adolescente em Curitiba, para assegurar que não seriam linchados pela população revoltada.
Confissão
De acordo com o superintendente Clério Polaquini Filho os menores confessaram que praticaram o crime. Eles informaram que emprestaram a arma para “fazer a fita”. Depois passaram em frente ao estabelecimento de Luiz, resolveram entrar e roubar, mas o comerciante reagriu e eles acabaram matando-o.
Município quer segurança
A PM de Itaperuçu conta com os serviços de seis policiais que se revezam em turnos de 24 horas. Dois estavam de plantão na segunda-feira e conseguiram prender adolescentes suspeitos de matar Luiz Motim (um deles com a ajuda da própria população). Há suspeitas de que um indivíduo maior de idade também esteja envolvido no crime, tendo fornecido as armas aos acusados. De acordo com o sargento Flávio Luiz de Quadros, da PM local, cerca de 500 pessoas participaram da manifetação violenta na noite de anteontem.
Na manhã de ontem, parte dos cerca de 20 mil habitantes de Itaperuçu deixou de lado seus afazeres para verificar os estragos realizados nos órgãos públicos. Muita gente estava revoltada com o assassinato do comerciante e também assustada com a manifestação e o vandalismo. O serralheiro Reginaldo Florindo de Jesus, que mora em Curitiba e trabalha em Itaperuçu, não concorda com os atos de vandalismo, mas acredita que a manifestação foi resultado do desespero da população, que há muito tempo pede por mais segurança.
“Nos últimos 15 dias, foram três ocorrências que resultaram em mortes em Itaperuçu. A população está amedrontada e se sentindo desamparada. Há tempos a delegacia de Polícia Civil está desativada”, disse Reginaldo.
A PM não confirmou a informação de que aconteceram três ocorrências com vítimas fatais nos últimos 15 dias.
Depois do crime, revolta popular
O latrocínio (roubo com morte) do qual foi vítima o comerciante Luiz Motin, foi o estopim que faltava para a população de Itaperuçu se revoltar. Após o crime, mais de 500 pessoas se reuniram no centro da cidade e passaram a quebrar os prédios que abrigam órgãos públicos. A Prefeitura, o destacamento da Polícia Militar e a delegacia desativada – onde somente um guardião fica no local – foram destruídos.
A revolta começou pelo destacamento da PM, situado a uma quadra do comércio de Luiz Motin. O muro palito foi quebrado, a casa apedrejada e invadida. Quase tudo que havia dentro foi quebrado. Depois seguiu-se o quebra-quebra geral.
Da prefeitura só restaram a sala da prefeita e a de um secretário, porque a população não conseguiu arrombar as portas. Instalada no andar superior de um prédio que toma todo o quarteirão, a Prefeitura teve, primeiramente, os vidros quebrados com pedras e paus. O descontrole provocado pela emoção fez com que alguns manifestantes arrombassem a porta e passassem a jogar móveis pela janela. Depois a multidão se dirigiu à delegacia. O guardião que fica no local teve que sair às pressas, para não ser atingindo por pedras. Só sobrou a sala do delegado intacta.
Depois os manifestantes retornaram até a Prefeitura e só foram contidos com a chegada de policiais do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), e do Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre), e da Companhia de Choque da Polícia Militar. No início, a presença dos policiais não intimidou a população e tudo levava a crer que o confronto seria inevitável. Os manifestantes, porém, foram contidos quando os policiais usaram bombas de gás lacrimogênio e balas de festim. Aos poucos a situação foi normalizada.
De acordo com o superintendente Clério Polaquini Filho, todas as ocorrências de Itaperuçu são atendidas pela delegacia de Rio Branco do Sul, que também não possui um grande efetivo. O resultado é que quase sempre os crimes não são resolvidos. “Não é por falta de vontade, mas sim por falta de condições de trabalho”, assegurou o policial.
Ontem à tarde, moradores do município prometiam se reunir, desta vez de forma pacífica, para agendar um encontro com o secretário Luiz Fernando Delazari, da Segurança Pública, para buscar uma solução para o problema. “Somos um povo ordeiro e não queremos que fiquem com a imagem do que aconteceu na noite de segunda-feira”, informou um dos organizadores do movimento pacífico.
A Secretaria de Segurança, por sua vez, informou que hoje vai realizar uma megaoperação em Itaperuçu e outros municípios da Região Metropolitana. Tal operação já estava prevista desde segunda-feira, antes do tumulto. E na próxima semana um oficial da PM será designado para tomar conta da delegacia do município. De acordo com o coronel Nemésio Xavier, comandante do Policiamento da Capital, diante dos acontecimentos será aumentado o efetivo no destacamento do município.