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Almir Solarewicz executado a tiros, em setembro de 2000, no Juvevê. |
O julgamento de Otaviano Sérgio de Macedo, o "Serginho", "levantou poeira" e escancarou uma rede de contravenção atuante em Curitiba, com ramificações no Rio de Janeiro e envolvimento de policiais. Sérgio é acusado de matar o bicheiro Almir José Hladkyi Solarewicz, a tiros, em 20 de setembro de 2000, no Juvevê. Duas testemunhas da acusação confirmaram o envolvimento de Almir com a cooperativa do jogo do bicho, que estaria por trás do assassinato. No segundo dia, o júri se estendeu até o fim da noite.
A viúva de Almir, Ivana Vasconcellos, contou em seu depoimento que Sérgio ameaçou seu marido várias vezes. Ela, porém, levantou a hipótese de que os mais interessados na morte de Almir eram os líderes da cooperativa que controla o jogo do bicho na cidade. Segundo contou, seu marido pretendia legalizar o jogo, sugerindo um projeto para o Serlopar (Serviço de Loterias do Paraná).
Paralelamente, em conjunto com um empresário argentino, começaram a explorar as então ?legais? máquinas caça-níqueis, contando, na data de sua morte, com 350 equipamentos. O problema foi que Almir tinha o monopólio da exploração das máquinas e elas fizeram cair estrondosamente o rendimento dos bicheiros, com a diminuição no número de apostas.
Em setembro de 2000, fazia dois anos que Almir se afastara da cooperativa, mas continuava a receber pequena porcentagem da arrecadação. Com sua morte, terminou o monopólio da exploração das máquinas, permitindo que "empresários" cariocas entrassem no "mercado" curitibano.
PIC
Outro depoimento que levantou suspeitas de uma rede de crime organizado por trás do assassinato foi o do capitão da Polícia Militar, Elias Ariel Souza. Na época do homicídio, ele trabalhava no Grupo Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gerco), da Promotoria de Investigação Criminal. Depois de pouco mais de um ano de investigação, que incluía a morte do bicheiro, o caso recebeu um revés com o incêndio criminoso da PIC, que danificou vários processos. No começo de 2002, o efetivo do Gerco foi trocado, segundo seu depoimento. O acusado de ter incendiado os arquivos da promotoria é ex-policial militar, que também teria envolvimento com o assassinato do major Plocharski, comandante do 13.º Batalhão da PM, no início deste ano. Plocharski estaria investigando casos de corrupção no meio policial.
Será o último capítulo?
Na saída da sessão, véspera do veredicto, Sérgio saiu algemado, mas com expressão de alívio. "Essa novela vai acabar", disse ao entrar na viatura da polícia que o levaria de volta ao Centro de Observação Criminológica e Triagem. Lá, ele esperava há três anos e seis meses por este julgamento.
Hoje será dia de debates entre os advogados. Para o assistente de acusação Cláudio Dalledone Júnior o julgamento não é apenas de Sérgio. "É o crime organizado que está sentado no banco dos réus, pela primeira vez", afirmou. Na promotoria atua Cássio Chastalo. A tese defendida pela defesa, conduzida por Edson Stadler e Luiz Gustavo Gralak é a negativa de autoria do crime.
O debate começa às 9h e deve seguir até a tarde, quando o juiz Ronaldo Sansone Guerra lerá a sentença. Ontem, também foram ouvidos como testemunhas da acusação o delegado Gerson Machado e Andréia Silvério (patroa da babá que presenciou o crime). Pela defesa testemunharam Janine Gusso (mulher de Serginho) e Luana Gusso (cunhada do acusado).