Foto: Arquivo

Mesmo com a prisão de alguns ?líderes? das organizações, como Fernadinho Beira-Mar, crimes seguem em todo o País.

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A um dos traficantes mais conhecidos no Brasil, o Luiz Fernando da Costa (Fernandinho Beira-Mar), não bastou a prisão. Na última semana, a Polícia Federal (PF) anunciou que mesmo de dentro do presídio o criminoso conseguia comandar o tráfico e manter seu ?negócio? funcionando na melhor forma possível. O Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), no Rio, são exemplos de como o crime organizado vem mostrando sua força perante as autoridades há muitos anos. E ao contrário do que a maior parte das pessoas pensa, estas organizações não estão ligadas apenas ao tráfico de drogas, vão muito além disso: falsificação de licitações e de remédios, fraudes eleitorais, pirataria de mercadorias, lavagem de dinheiro, entre outros, são exemplos de ações ilícitas comandadas pelo crime organizado no Brasil.

O combate ao crime organizado tem sido uma das grandes preocupações dos órgãos de segurança pública atualmente. Tropas de elite, grupos de inteligência, armamentos, aparatos tecnológicos. Estas e outras ?armas? vem sendo utilizadas, mas a população vê a criminalidade aumentar a cada dia. Para os especialistas, ainda é evidente que erros crassos estão sendo cometidos pelas estruturas de poder, pois ao mesmo tempo que os esforços no combate às organizações criminosas são tão grandes, elas parecem se fortalecer cada vez mais e o problema vira uma bola de neve.

Na opinião de Sérgio Adorno, do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP), a dificuldade em conseguir informações é uma das grandes barreiras no combate a este tipo de crime. E os obstáculos não são só dos pesquisadores, que não têm como se arriscar em se infiltrar nessas organizações. ?Certamente, mesmo a polícia tem dificuldade para investigar. Embora haja bons grupos que atuam na área, de um modo geral as nossas polícias não estão preparadas para este tipo de desempenho, ainda estamos longe de atingir um bom resultado?, afirma o especialista.

Para o promotor de Justiça e professor de Direito Criminal e Doutor em Direito das Relações Sociais, Fábio Guaragni, é preciso criar comunidades de informações, que envolveriam todas as esferas de combate ao crime, como policiais militares e civis, promotores, juízes, delegados. ?Os nossos órgãos de segurança ainda não estão preparados para trabalhar com os limites de território. Juízes e promotores, por exemplo, atuam em comarcas, quando na verdade deveria haver uma comunidade internacional de informações. Assim como o crime se organiza, é preciso organizar a repressão. O crime aplaude as brigas entre civis e militares, entre promotores e delegados?, critica.

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PR é corredor para o tráfico

A fronteira com o Paraguai torna o Paraná corredor para diversos crimes, principalmente o tráfico de drogas. Esta é uma afirmação de especialistas em segurança, profissionais da área jurídica e, ainda, de policiais federais.

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O delegado da Polícia Federal (PF) em São Paulo, Fernando Francischini, afirma que o Paraná é um ponto estratégico. ?O fato de haver a fronteira com o Paraguai deixa o estado nessa posição?, diz.

Para Sérgio Adorno, do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo, as ramificações do crime organizado ocorrem em todo o País. ?É errado pensarmos que ele está concentrado somente no Rio ou em São Paulo?, comenta. (MA)

Dificuldade no combate às quadrilhas

Por conta da complexidade da organização, é muito difícil de conceituar e combater esta ?modalidade? de crime. Uma vez que os bandidos se unem em grandes redes e ?branqueiam? o dinheiro que ganham, fica difícil também de pegá-los em flagrante e provar alguma coisa contra eles. Estas organizações criminosas podem ser definidas como grandes quadrilhas que agem de forma sistematizada, e que estão ligadas a uma estrutura do poder. Ou seja, a velha máxima de que o crime organizado só funciona quando há a ajuda de alguma esfera do Estado, em geral da polícia, é unânime entre a opinião dos especialistas.

?Isso tem sido o fator que propicia o crescimento do crime organizado, dessas verdadeiras empresas do crime, e a dificuldade em combatê-lo. O crime organizado está camuflado na nossa sociedade?, analisa o promotor de justiça e coordenador do Núcleo de Pesquisa e Informação do Ministério Público do Paraná (MP), Paulo Kessler.

Na semana passada, o MP promoveu um encontro para discutir o problema, em Curitiba. Na ocasião, o tema central foi a importância da tecnologia no combate ao crime organizado, meio pelo qual os criminosos acabam dando suporte às grandes quadrilhas (a prisão de um dos maiores traficantes internacionais este ano, o Juan Carlos Ramírez Abadía, foi possível graças a interceptações telefônicas). ?O crime organizado é transnacional, globalizou-se junto com a economia?, afirma o promotor de justiça, professor de Direito Criminal e doutor em Direito das Relações Sociais, Fábio Guaragni. (MA)